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Comportamento

Família mantém viva casa construída com as próprias mãos há 37 anos

O que antes começou com uma lona, hoje virou um lar que mãe, filha e neta fazem questão de manter vivo

Por Natália Olliver | 17/05/2025 07:04
Família mantém viva casa construída com as próprias mãos há 37 anos
Ariane Lopes e Cleotilde Rios sentadas na frente da casa simples no Seminário (Foto: Henrique Kawaminami)

Escondida na região do bairro Seminário, uma pequena casinha chama atenção diante de um cenário que, apesar de ainda ser verde, tem se rendido aos prédios. O imóvel não é luxuoso. Pelo contrário, a estrutura simples e a arquitetura modesta contam a história de quem construiu a casa com as próprias mãos. O que antes começou com uma lona, há 37 anos, hoje virou um lar que mãe, filha e neta fazem questão de deixar vivo, sobretudo para manter a lembrança daqueles que ergueram as paredes.

A casa foi construída pelos avós de Ariane Lopes Franco, de 36 anos, em 1988. Ainda acordando para o dia, ela abre o portãozinho que separa o piso da grama e anda até a rua. As palmas desconhecidas foram repentinas, sem tempo para preparo. Apesar do susto, ela logo começa a contar sobre a alegria de estar ali há tanto tempo e o que o local significa.

“Aqui é uma história de vida. Eu até me emociono porque os meus avós, na época que estavam aqui, era lona. Aí fomos para o barro e depois para a alvenaria. Era muito suor e esforço. Eles criaram quatro netos com trabalho, muito trabalho. Hoje está assim porque a gente não tem força e nem dinheiro no momento. Daqui surgiu muita história.”

Família mantém viva casa construída com as próprias mãos há 37 anos
Família mantém viva casa construída com as próprias mãos há 37 anos
Avô de Ariane sentado no terreno que carpio para família morar (Foto: Arquivo pessoal)

Ela conta que o descuido com o gramado, que está grande, é devido à rotina que acaba deixando afazeres como esse em segundo plano. Ariane é uma das responsáveis por cuidar da mãe, Cleotilde Rios, de 61 anos. Ela vive com fibromialgia, artrite e artrose. O quadro médico começou a se complicar há alguns anos.

“Na época que eles construíram aqui, isso era usado para plantio de horta. Meu avô lidava com isso. Era agricultor. Aqui tinha couve, alface e tomate, na época em que era comum vender de porta em porta nos carrinhos. Naquele tempo, aqui era só mato. Ele plantou várias árvores frutíferas e quatro pés de cedro.”

Hoje o terreno já não tem tantas árvores frutíferas como antes, mas mantém a ideia, com pé de limão, banco na grama e tudo mais. Cleotilde está na casa há 28 anos. Ela conta que os pais vieram de Maracaju e que chegaram a Campo Grande sem muitas condições. Após se separar do marido, ela se juntou aos dois na chacrinha, como a família chama.

Família mantém viva casa construída com as próprias mãos há 37 anos
Família mantém viva casa construída com as próprias mãos há 37 anos
Lembrança da família no chão de terra batida da chacrinha (Foto: Arquivo pessoal)

“Os meus meninos também não eram letrados, eram analfabetos, mas ele tinha profissão de operador de máquina. Meu pai era lavrador mesmo, veio de onde tirava madeira e fazia poste. Ele não tinha estudo. Mudamos de lá porque os meus pais vieram colher sementes e vender. Acharam essa chácara e investiram. A gente tinha outra terra, mas eles trocaram. A gente sempre foi unido. A casa é humilde no meio das outras. Eu gosto de morar aqui. Tem história. Criei meus filhos. Meus netos, quando visitam aqui, se sentem em um campo brincando.”

A história da família se constrói do lado de fora. Não é preciso entrar para ver. As fotografias mostram o avô de Ariane, a mãe e parentes no chão de terra batida, sempre reunidos. O avô fazia questão. Ele faleceu há 15 anos. Já a avó morreu devido à covid-19.

Família mantém viva casa construída com as próprias mãos há 37 anos
Cleotilde Rios mora no local há 28 anos e ama a memória que tem da casa (Foto: Henrique Kawaminami)

“Quando minha mãe se divorciou do meu pai, nós viemos para a casa da minha avó. Eles abriram as portas para a gente, mesmo sendo uma casa pequenininha. Eles já tinham um neto com eles. Eles nos ajudaram. Quando meu avô faleceu, eu tinha 15 anos. Minha avó faleceu na pandemia de covid. Não aguentou a intubação e nos deixou.”

Cleotilde explica que, no momento, não têm fotos da casa nos anos anteriores, mas relembra algumas cenas tiradas da caixa do passado. O pai na cadeira de área, ela com a filha, os sobrinhos.

“A doença começou há anos, mas eu vinha tratando de artrite. Aí deu artrose em uma das pernas, desgaste e fibromialgia. Eu era empregada doméstica antes de não conseguir mais trabalhar. Entrei em tratamento há muitos anos e nunca parei de fazer as coisas. Eu andava de bicicleta e, nesse apartamento, eu ia de ônibus e caí perto da roda. Quase morri. Mesmo assim, estou forte”, acrescenta ela.

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Ariane Lopes, se emociona com as memória de infância no local (Foto: Henrique Kawaminami)

Ariane comenta que, devido à situação, a mãe tentou entrar com pedido de aposentadoria, mas foi negado 14 vezes. Hoje ela fica com ela no período da manhã, e a filha, à noite, quando ela está no trabalho. “Ela não tem renda. Imagina tivesse que pagar aluguel? Eu morava na Vila Nasser antes.”

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