Há 26 anos, Sueide mantém vivo relógio histórico em Três Lagoas
Toda semana ele entra na estrutura, erguida em 1936, antes que os pesos cheguem e os ponteiros parem de vez
Sueide Silva Torres, de 72 anos, quase nasceu dentro de um relógio. A licença poética vem do tempo que mexe com relíquias antigas e pela profissão que foi passada do avô para o filho e, ainda na infância, para o neto. Hoje, ele é o responsável por dar corda ao relógio histórico apelidado de “O Senhor do Tempo”, da Praça da Bandeira, em Três Lagoas.
RESUMO
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O relojoeiro Sueide Silva Torres, de 72 anos, é o responsável pela manutenção do histórico relógio "O Senhor do Tempo", localizado na Praça da Bandeira, em Três Lagoas. Há 26 anos, ele cuida semanalmente do mecanismo, que funciona com dois pesos de 100 kg e foi erguido em 1936. Seguindo uma tradição familiar iniciada pelo avô, Sueide dedica-se à restauração de relógios antigos. O monumento de 10 metros de altura, considerado único na região, requer cuidados específicos como limpeza das engrenagens, lubrificação e manutenção anual completa. O relojoeiro também modernizou a iluminação, instalando lâmpadas LED para melhor visualização.
O trabalho já dura 26 anos e, toda semana, ele precisa entrar na estrutura, erguida em 1936, antes que os dois pesos cheguem ao chão e os ponteiros parem “para sempre”. Vendo os relojoeiros da família tão de perto, Sueide até pensou em ser engenheiro mecânico, mas o fascínio pelas engrenagens ali dentro dos relógios o conquistou de vez.

O amor pela coisa manteve a manutenção durante todos esses anos, e Sueide até recebeu homenagem da cidade pelos trabalhos prestados. Ao Lado B, ele explica quais são os cuidados que faz nas peças.
Entre as funções estão a limpeza total das peças, das engrenagens, a lubrificação e a limpeza da parte superior, onde os pombos defecam. Todo ano ele desmonta o relógio para fazer uma espécie de check-up geral de tudo.
“Tem que ver o sino que bate as horas, os ponteiros, visor. Eu restaurei até a fechadura da porta. A gente faz o que é necessário para manter o máximo possível. O mostrador restaurei também, a iluminação que tem dentro antes tinha umas lâmpadas, aí mudei, coloquei 8 lá dentro. O tempo passou e vieram as lâmpadas de LED. Quanto mais iluminado de dentro para fora, mais a pessoa enxerga de longe. Ninguém vê que tem uma lâmpada de LED lá.”
Ele conta que o reparo precisa ser atento à temperatura, porque no calor os ponteiros tendem a adiantar e, no inverno, a atrasar. “É um relógio muito bonito. Daqui até Corumbá, a de Três Lagoas não existe um assim. Até em Campo Grande não tem. O que tinham levaram para um ferro-velho, deixaram estragar. O nosso é tombado. Ele foi inaugurado em 1936, na gestão de Bruno Garcia, e foi construído pela família Vitaliano Michelini.”
São dois pesos de 100 kg que, a cada batida, descem um pouco. Quando chega perto do chão, no 7º dia, Sueide ergue a corda. Se encostar no chão, ele para de funcionar e de bater as horas.
“Tem uma manivela, que gira um cilindro com cabos de aço. Um para o movimento e um outro para a soneria. Meu pai dava manutenção no relógio da praça, depois ele mudou para Paranaíba e colocaram outra pessoa, um taxista chamado Luiz. Ele dava corda no relógio, mas não era do ramo.”
Em setembro de 1999 aconteceu justamente isso: o relógio parou, e essa pessoa que dava corda não conseguia fazê-lo voltar a funcionar. Foi aí que chamaram Sueide.
“Tirei o relógio inteiro, desmontei, lavei e limpei as peças, montei, porque são quatro mostradores. Aí, dia 7 de setembro, 6h30 da manhã, estava pronto. Passei a noite inteira dentro dele montando. O relógio precisava de limpeza, me chamaram na prefeitura para arrumar. Só tem eu que sou relojoeiro, que realmente mexo com isso aqui em Três Lagoas e em Mato Grosso do Sul também tem poucos.”
Ele conta que a maioria dos relógios hoje é movida a pilha e que o conserto deles é feito trocando a máquina completa, ou seja, não há reparo das peças. Sueide explica que ele mesmo faz as peças para cada relógio que precisa de reparo.
“Nasci dentro de uma relojoaria. Meu pai era isso e ourives. Nasci assim. Desde os 10 anos eu mexo. Queria ser engenheiro mecânico, não relojoeiro, mas aprendi a consertar. Trabalhava na relojoaria e oficina de joias, aprendi tudo, mas sempre gostei mais de mecânica. Não consegui ser porque não tinha aqui na cidade. Aí fiz técnico em contabilidade, depois ciências econômicas, e acabei trabalhando com meu pai como contador.”
Sueide trabalhava no Sesc quando o pai o chamou para montar uma ótica e relojoaria.
“Meu pai, desde 1940, trabalhava com joia. Meu avô era relojoeiro. Montei a ótica em 1980. Sempre consertei relógios, mas já faço pouco. Gosto de restaurar relógios antigos, de parede, os mecânicos antigos.”
O relógio é uma das figuras importantes do município e está localizado em um dos principais cruzamentos da cidade, na esquina da Avenida Antônio Trajano com a Rua Paranaíba. Ao lado do relógio fica a Praça Ramez Tebet, o principal ponto de encontros e eventos da cidade.
Ao todo, são 10 metros de altura. O monumento e é uma das poucas construções históricas do centro. Uma curiosidade sobre o relógio é o quarto mostrador do relógio, que, ao invés de exibir a grafia IV, mostra IIII.

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