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Comportamento

Livros resgatam memórias de MS que o tempo quase apagou

Obras reúnem histórias pouco contadas da Guerra do Paraguai e fé popular em Figueirão

Por Clayton Neves | 18/05/2025 08:30
Livros resgatam memórias de MS que o tempo quase apagou
Dois indígenas terena durante a Guerra do Paraguai.

Duas histórias com raízes profundas em Mato Grosso do Sul, mas pouco contadas, ganharam corpo em livros que serão lançados nesta segunda-feira (19), em Campo Grande.  Com temas que atravessam séculos e unem memória, identidade e fé popular, as obras são resultado de pesquisas e buscam devolver à sociedade um pouco do que é vivo em cidades do interior, mas raramente chega às estantes.

As publicações tratam da participação de negros, mulheres e indígenas na Guerra do Paraguai, e da tradicional Festa de Nossa Senhora da Abadia, celebrada há mais de 90 anos em Figueirão. Os autores, Adilso de Campos Garcia e Valdery Ferreira Zotelli, conduzem os leitores por caminhos quase apagados da história oficial.

“Um livro abre mais possibilidades para que as pessoas da sociedade possam conhecer o que foi pesquisado e desenvolver na juventude aquele sentimento de pertença do lugar em que se vive”, afirma a professora e orientadora dos trabalhos, Maria Augusta de Castilho, que também assina a coautoria das obras.

No livro assinado por Adilso Garcia, o foco vai além dos uniformes e tratados. A participação de negros, mulheres e indígenas na Guerra do Paraguai e os monumentos históricos culturais da Retirada da Laguna, jogam luz sobre personagens que estiveram no centro do conflito.

Livros resgatam memórias de MS que o tempo quase apagou

“Optamos por fazer uma tese abordando indígenas, negros e mulheres, que tiveram participação fundamental, mas pouco estudada e pouco difundida”, diz Adilso.

Com base em cinco anos de pesquisa, ele percorreu cidades como Jardim, Bela Vista, Guia Lopes da Laguna e Nioaque. No caminho, mapeou monumentos esquecidos e ouviu moradores que mal sabiam da importância histórica de seus próprios quintais.

O livro destaca o papel dos negros, maioria entre os soldados, dos indígenas que apoiaram os batalhões, e das mulheres vivandeiras, que cozinharam, curaram e, muitas vezes, lutaram ao lado dos homens.

“Várias vezes pegaram em armas, davam suporte com alimentação, água, trabalhavam como enfermeiras, inclusive montando a cavalo para resgate dos soldados”, reforça o autor.

Além disso, a publicação registra locais históricos pouco valorizados, como o canhão exposto em Nioaque ou o museu de Jardim dedicado à guerra, áreas que são pedaços de memória que merecem ser reconhecidos.

Livros resgatam memórias de MS que o tempo quase apagou
Festa de Nossa Senhora da Abadia. (Foto: Prefeitura de Figueirão)

A fé que une e não se apaga

Já Valdery Zotelli transforma a religiosidade popular em um documento valioso sobre pertencimento e devoção. Cultura e religiosidade: aspectos da tradicional festa da fazenda em louvor à N. S. da Abadia no município de Figueirão – MS é uma homenagem aos moradores, festeiros e devotos que há mais de nove décadas mantêm viva essa celebração rural.

“A festa se destaca por se tratar de uma celebração não vinculada a uma instituição religiosa, constituída a partir da religiosidade popular”, explica o autor.

Celebrada em agosto, a Festa da Abadia mobiliza a comunidade rural de Figueirão em torno de fé, comida, música e tradição. Ao registrar os depoimentos dos moradores mais antigos, o livro evita que a memória dessa manifestação cultural se perca com o tempo. Para Valdery, preservar a história é também manter viva a identidade de um povo.

Livros resgatam memórias de MS que o tempo quase apagou
Maria Augusta e Adilso, dois dos autores. (Foto: Raquel de Souza)

“O resgate das lembranças e da memória dos sujeitos que participaram e participam dos festejos nos espaços rurais deixa para as gerações futuras um registro da religiosidade dos habitantes do município e da região”, resume.

Serviço - O lançamento das duas obras será nesta segunda-feira (19), a partir das 18h30, no mezanino da UCDB, na Av. Tamandaré, nº 6.000, Jardim Seminário. A entrada é gratuita e aberta ao público.

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