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Comportamento

No culto, pastor critica "dinheiro desviado" a médicos e parcela oferta em 10X

Denilson é polêmico por falar o que pensa, inclusive, que quanto mais dinheiro dado à igreja, maior é o nível de conquista

Thailla Torres | 21/06/2018 07:54
Pastor, Denilson está em Campo Grande há dois anos. (Foto: Paulo Francis)
Pastor, Denilson está em Campo Grande há dois anos. (Foto: Paulo Francis)

Não é novidade o costume de doações generosas em organizações religiosas, especialmente, em igrejas evangélicas, com relatos de doações ilimitadas, longe dos trocados que muita gente carrega na carteira. Mas o jeito peculiar de um pastor, com fama de polêmico, ao cobrar as ofertas faz da “Segunda-Feira Profética” um show em igreja da Vila Bandeirante. Ele pede "doações sem anestesia", diz que gay tem de se comportar como hétero, critica dízimo "desviado para cirurgias" e assim garante que já conseguiu até R$ 1 milhão em doações, que podem ser parceladas em até 10 vezes.

No altar, o pastor convoca os fiéis a prestarem atenção “porque a palavra de hoje vai ser violenta”, garante. Denilson Fonseca é quem comanda o culto especial da segunda. É do tipo que faz piada o tempo todo, mas repreende a criançada por andar pela igreja e pede aos pais que segurem os pequenos na cadeira, um verdadeiro martírio para a criançada obrigada a assistir 2 horas e 30 minutos de culto, sem intervalos e no volume dos berros.

Naquela noite, aproximadamente, 1,6 mil pessoas estiveram na igreja, inclusive, moradores que vieram do interior em busca de bênçãos e das visões de Denilson, que jura enxergar até um câncer no rim direito de um dos membros.

As pessoas choram, repetem frases, acompanham a aleluia e parecem acreditar em cada afirmação do pastor que veio de São Paulo e chegou para fundar a igreja em Campo Grande, há 2 anos. De fato, no primeiro momento a gente tenta crer que fé é uma coisa que não se discute, mas tem palavra que não é fácil aceitar.

O encontro começa com cantoria e depois vem um trecho da bíblia que fala sobre determinação para evitar perdas na vida. Até que Denilson chama aqueles que não seguem a palavra de Deus de jumentos e diz que “ama ter experiência com crente”. Ele justifica o xingamento ao citar uma passagem da bíblia. “Pessoas sem o conhecimento bíblico se assustam, mas existe uma passagem onde Deus usa uma jumenta para falar com Balaão e toda vez que ouvimos a voz de alguém que não segue o mesmo Deus que nós, está acontecendo o mesmo conosco”, justifica.

As pessoas choram, repetem frases, berram aleluia e parecem acreditar em cada afirmação do pastor.
As pessoas choram, repetem frases, berram aleluia e parecem acreditar em cada afirmação do pastor.

Denilson continua seu show fazendo pessoas repetirem palavras afirmativas como “eu determino” com intuito de expulsar todo mal. Seria até motivador, não fosse a homofobia. “Pode determinar que aquele homossexual vai ser liberto", dispara. “Não tratamos mal o homossexualismo, mas não aceitamos a pratica dentro da nossa igreja. Ele deve ser tratado como um hétero”, comenta.

Tudo acaba com um show de visões que dura cerca de uma hora. Depois de andar pela igreja e profetizar no ouvido de alguns fieis, Denilson pede aos ajudantes que levem outros para altar. Um grupo de pessoas recebe ao vivo as visões do pastor e, neste momento, a indignação de quem assiste aquilo pela primeira vez começa.

O pastor dispara que vê uma água preta do lado esquerdo da pessoa e diz o que pulmão dela está comprometido. Em seguida afirma que está restaurando o pulmão de outro naquele momento. As pessoas descem do altar emocionadas, outras, com fisionomia angustiada ao receber informações do tipo “sua filha ia cometer suicídio no sábado”.

Apesar de todas as visões "sobrenaturais", metade delas são justificadas como obras de feitiçaria e macumba. Aliás, entidades e orixás de religiões afro-brasileiras não saem da boca do pastor, embora elas sejam condenadas dentro da sua congregação. “Uma mulher chamada Fernanda, em Bodoquena, fez uma macumba pra você”, diz para uma senhora.

Depois das visões mais improváveis, o pastor dá início a retirada de demônios, que mais parece uma violência gratuita ao chacoalhar a cabeça de uma mulher de um lado para o outro, bruscamente. “São espíritos do inferno”, afirma.

Para fechar a noite, vem a parte mais clichê dentro das igrejas evangélicas com o pedido de ofertas, mas neste caso, Denilson é do tipo que pega pesado, a ponto de comparar o investimento em saúde com a oferta que deve ser dada, no mesmo valor, à igreja. "Tem gente que desvia a oferta ao médico para uma cirurgia, tem gente que desvia a oferta para um advogado com intuito tirar o filho das grades, tem gente que desvia oferta para assistir Copa do Mundo na Rússia...”, menciona.

O ponto alto é o jeitinho típico de convencer aos fiéis de que uma quantia elevada nao é exagero. “Quanto maior o sacrifício da oferta (doação de dinheiro) no altar, maior é o nível de conquista”, reforça.

Segundo ele, as bênçãos com o casamento, a faculdade dos filhos, o sucesso nos negócios, o emprego e a saúde não virão sem uma oferta generosa e que pese no bolso. “A oferta tem que ser sem anestesia”.

Com seu relato, esse tipo de estratégia parece ter sido a solução para aumentar doações e fieis na igreja. Denilson descreve casos em que pessoas chegam a doar R$ 1 milhão. “Eu mesmo já doei carros”, conta. “Não é um exagero. Essas pessoas doam um valor alto porque já receberam uma benção”, argumenta.

Afim de parecer cordial, a igreja até parcela a oferta em 10 vezes sem juros. “A igreja precisa acompanhar a tecnologia, temos transmissão ao vivo, Datashow e investimentos. E hoje as pessoas não tem dinheiro no bolso, as vezes a pessoa quer dar uma oferta programada e um valor maior no cartão, então parcelamos”.

Denilson assume ser um pastor polêmico, não se intimida em dar entrevistas e garante que tudo o que diz é para resgatar os “valores” da humanidade. Mas a perplexidade vem com a pregação de que é impossível acreditar no outro. "Não deposite sua fé em ninguém, porque quando você mais precisar, só Jesus irá te aceitar", diz o pastor.

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