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Comportamento

Tradição continua e mães guardam umbigo para plantar ou fazer joia

Só quem já teve um filho é capaz de entender as razões que levam as mães guardarem cada detalhe do bebê

Alana Portela | 28/07/2021 09:12
Yasmin Rosa beijando a filha Helena de 2 anos. (Foto: Arquivo pessoal)
Yasmin Rosa beijando a filha Helena de 2 anos. (Foto: Arquivo pessoal)

Tradição que perdura há gerações, mães guardam umbigo dos filhos para manterem a conexão após o cordão ser cortado na maternidade. “Sempre escutei que era bom guardar e depois enterrar porque traz sorte para a vida da criança”, diz a advogada Yasmim Rosa.

Aos 31 anos, ela é mãe da pequena Helena, 2 anos, e comenta sobre a experiência mais intensa e emocionante da sua vida. “A maternidade é um misto de emoções, foi meu renascimento e também descobri novas habilidades”.

Desde sempre, ela ouvia as pessoas dizerem que era bom guardar o umbigo para depois enterrar, isso porque existe uma lenda que diz que ao enterrar o umbigo próximo a um pé de bananeira traz sorte da vida da criança.

Umbigo dentro de uma caixinha organizadora. (Foto: Arquivo pessoal)
Umbigo dentro de uma caixinha organizadora. (Foto: Arquivo pessoal)

“É para ser próspera. Alguns falam para plantar num pé de roseira para a criança ser bonita e ter saúde. Outros dizem até que se quiser que o filho seja fazendeiro, tem que enterrar na porteira de uma fazenda”, comenta.

O costume de guardar o umbigo é de família. “Minha mãe guardou o meu e das minhas outras irmãs, lembro que quando pequena cheguei a brincar. Sempre foi uma tradição e por isso tive vontade de guardar o da Helena também”.

A gravidez veio carregada de amor, foram meses gerando uma vida dentro da barriga, sentindo os movimentos e imaginando durante os exames de ultrassom como seria o rostinho da pequena.

As semanas passaram rápido e logo Helena nasceu. Os primeiros dias do pós-parto não foram serem fáceis, mas no turbilhão das emoções ela só pensou em cuidar e eternizar cada detalhe da sua bebê para contar ao mundo a experiência mais intensa da sua vida.

Ana Paula Campos Wolf Gomes segurando a filha Marina, ao lado do esposo. (Foto: Arquivo pessoal)
Ana Paula Campos Wolf Gomes segurando a filha Marina, ao lado do esposo. (Foto: Arquivo pessoal)

“Cuidei do umbigo dela, pensei que seria um bicho de sete cabeças, mas na realidade foi tranquilo. Quando caiu ela estava com mais ou menos 15 dias, aí guardei em uma caixinha que ganhei de uma prima para guardar umbigo, a primeira mecha do cabelo, dentinho”.

Já se foram dois anos desde que o umbigo foi parar na caixinha que está guardada em casa e agora,  ela está esperando chegar o dia certo para enterrar. “Quando fizer três anos de idade quero enterrar para criar minha tradição com ela, simbolizando o plantar de uma semente”.

Caderno com fotos da gravidez e do exame de ultrassom. (Foto: Arquivo pessoal)
Caderno com fotos da gravidez e do exame de ultrassom. (Foto: Arquivo pessoal)

Enquanto o dia não chega, Yasmin planeja como vai ser o “ritual" do afeto. “Quero fazer um sinal de plantar, colocar na terra o cordão, a parte física da nossa ligação para que dê ‘frutos’, cresça representando o nosso amor, a ligação entre mãe e filha. Acho que até por uma forma mística de tudo que o elemento terra, o cordão umbilical e o ato de plantar representam pra mim”.

Recordação - Assim como Yasmin, a cirurgiã dentista Ana Paula Campos Wolf Gomes, 31 anos, também quis guardar o umbigo da filha Marina, de 1 ano e dois meses. “Minha mãe guardou minhas coisas de quando era bebê, desde a pulseira da maternidade, carteirinha de vacinação, cartão de pré-natal e sempre achei maravilhoso”.

Aos olhos de menina, tudo sempre foi encantador e Ana Paula adorava olhar todas as recordações e ouvir as histórias que sua mãe contava sobre cada detalhe. Rodeada de lembranças, ela cresceu e passou a sonhar pelo dia em que se tornaria mãe e ao descobrir a primeira gravidez a felicidade tomou conta.

“Meu sonho era ser mãe, foi a maior realização da minha vida. No entanto, quando estava na 34ª semana de gestação veio a pandemia da covid-19 e tive que ficar em casa por conta do risco, praticamente entrei de licença maternidade e a partir daí decidi escrever um livro contando tudo que estávamos passando para contar a ela e tudo que é possível, passei a guardar para contar a história”.

Exemplo de pingente feito com leite materno. (Foto: Arquivo pessoal)
Exemplo de pingente feito com leite materno. (Foto: Arquivo pessoal)

Em casa, a ânsia pelo nascimento de Marina fazia as semanas passarem lentamente. “Estava muito ansiosa, queria o parto normal e ela nasceu de 41ª semanas”. Ver o rostinho da filha foi emocionante e a mãe aproveitou para curtir cada momento, desde o chorinho a amamentação e troca de fralda.

Os cuidados com o umbigo também foram necessários e assim que caiu, ela guardou e agora quer transformar em uma joia afetiva. “Quero fazer com leite materno já que continuo amamentando, e esfarelar um pouquinho do umbigo dentro”.

O leite e o umbigo misturado vão virar um pingente para depois ser usado em uma corrente ou até mesmo permanecer guardado dentro da caixinha. “Sinto que minha mãe teve um carinho enorme ao guardar para me mostrar. Quero fazer isso com a Marina”.

Enquanto isso, ela permanece escrevendo como estão sendo os dias e colando fotos no livro que está preparando para mostrar a filha quando estiver crescida.

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