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Comportamento

Vivendo na pele o preconceito, professora ensina inglês à travesti e transexual

Paula Maciulevicius | 27/02/2015 06:18
Com licenciatura em Letras e especialização em Tradução pela USP, Claire é fluente no inglês, francês e espanhol. (Foto: Alcides Neto)
Com licenciatura em Letras e especialização em Tradução pela USP, Claire é fluente no inglês, francês e espanhol. (Foto: Alcides Neto)

Numa realidade na qual eles e elas estão mais vulneráveis ao tráfico de pessoas e até mesmo mais próximos da morte, uma professora que nunca passou por isso, mas também sente o preconceito na pele quer fazer a sua parte, dentro do que lhe é cabível. Um projeto em parceria com a UFMS e a ATMS (Associação das Travestis e Transexuais de Mato Grosso do Sul) quer oferecer, de graça, aulas de inglês, francês e espanhol para travestis e transexuais.

A história de Claire Leal, de 48 anos, já foi contada aqui no Lado B, depois de um episódio de preconceito vivido nos corredores da Universidade. Um pequeno distúrbio hormonal permitiu que o sexo dela ao nascer fosse determinado como masculino, apesar de uma alma feminina.

Com licenciatura em Letras e especialização em Tradução pela USP, Claire é fluente no inglês, francês e espanhol, tendo já ensinado a primeira língua em cursos de extensão tanto na Universidade daqui quanto na de São Paulo, além de ter vivido por décadas na Inglaterra. 

Claire não quer só oferecer o curso, como também observar a comunidade trans de perto. (Foto: Alcides Neto)
Claire não quer só oferecer o curso, como também observar a comunidade trans de perto. (Foto: Alcides Neto)

Professora de línguas, Claire teve oportunidades de frequentar universidade, de ter uma família, de trabalhar e ter uma vida social. Um cenário diferente do que ela levantou. "Essas pessoas são vítimas do tráfico internacional de seres humanos, o que as põem em situação de vulnerabilidade é o fato de que não dominam nenhuma língua. Se elas tivessem o amadurecimento da língua, já poderiam ter uma ajuda", ressalta.

A ideia original, como projeto de mestrado, não foi aceito nem pela UFMS e nem pela UFGD. O objetivo era de estudar com a comunidade guarani-kaiowá. Mas para não colocá-lo na gaveta, Claire resolveu mudar o foco. "Para uma população que também fosse minoria social e vivesse em conflito. Meu trabalho é de buscar solução", explica.

Claire não quer apenas oferecer um curso de idiomas, como também observar a comunidade trans de perto. Na sustentação do projeto, a professora coloca que qualquer intervenção na Capital que reduza o número de óbitos dentre este específico grupo humano, reduzirá por conseguinte a taxa nacional de óbitos.

"Tenho que pesquisar essa população e na verdade identificar o conflito que elas vivem", completa. A motivação também é relacionada à confusão em que frequentemente Claire está sujeita. "Eu vivo o conflito, eu sou vítima da confusão que as pessoas fazem, para mim se o conflito fosse resolvido eu também sairia beneficiada", argumenta.

Tal confusão, nas palavras dela é a imagem negativa e estereotipada da travesti. "Colocam como uma espécie de criminoso, uma pessoa que vive no submundo, que é presa. A maioria já teve a experiência de estar presa. E eu não tenho nada a ver, mas isso também me põe numa situação de risco", descreve.

O curso é gratuito e será oferecido de segunda a sexta, com duração de 1h40 minutos, duas vezes na semana. A correria da professora agora é para conseguir fundos e poder dar uma ajuda financeira aos alunos. O programa seguirá o mesmo padrão dos cursos de línguas já oferecidos pela UFMS.

Para se inscrever, os candidatos devem buscar a ATMS na Rua Vasconcelos Fernandes, 622, no Bairro Amambaí. O telefone da Associação é o 3384-9585.

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