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Diversão

Samba do malandro perde para lógica de cachês pagos pela Fundac

Ângela Kempfer e Kleber Klajus | 02/06/2014 15:35
Zé Pilintra, símbolo da malandragem, retratado por Eduardo Closs.
Zé Pilintra, símbolo da malandragem, retratado por Eduardo Closs.

Folia é pouco no samba atravessado e mal explicado dos cachês pagos pela prefeitura de Campo Grande na administração passada. Não foi por falta de aviso. O Lado B já publicou algumas vezes valores, no mínimo, questionáveis, que por aqui são repassados a alguns astros esquecidos, contratados para a Noite da Seresta, por exemplo, com toda a generosidade da verba pública.

Hoje, durante audiência pública na Câmara Municipal, o foco foi o dinheiro gasto com o Carnaval e a possibilidade de criação da CPI da Folia, mas novamente a esculhambação generalizada veio à tona. Para começar, o 1% tão batalhado pela Cultura no orçamento já teve R$ 631 mil gastos sem qualquer consulta ou critério para aplicação. E por aí segue o poder público com o uso desregrado das verbas.

Uma lista apresentada com nomes dos artistas que levaram o calote da Fundação Municipal de Cultura mostra que, além da bagunça no caixa (sem documentação que comprove a necessidade de pagamento), também há discrepâncias no investimento.

O valor pago para grupo de mulatas fazer uma rápida participação em evento de Carnaval, por exemplo, é o mesmo de músicos e bandas que passam a noite tocando em Campo Grande.

O “Mulatas de Tawanda” tem R$ 13.2 mil a receber, por 8 apresentações com custo de R$ 1.2 mil cada. O cachê é igual ao devido por uma noite de trabalho a grupos como Chamamezeiros, Sampri, Samba de Prima e do cantor Carlos Colman.

Mais isso é de menos. O negócio é tão sem nexo, que o grupo Terra Samba, contratado para a abertura do Carnaval deste ano, recebeu R$ 231 mil, cachê de banda nacional no topo das paradas de sucesso (o que não é o caso dos baianos hoje em dia). Só para uma comparação rápida, Beth Carvalho cobra R$ 160 mil e Nando Reis R$ 180 mil.

Segundo levantamento apresentado à Câmara, os baianos receberam até os R$ 33 mil referentes aos impostos que deveriam ser responsabilidade do Terra Samba e não da prefeitura.

No ano passado, a “Banda Pholhas” custou R$ 51 mil à Fundac, enquanto que para um show fictício do Lado B, a equipe da banda enviou orçamento de R$ 18 mil. O cantor Peninha levou mais R$ 47 mil para cantar em agosto de 2013. Já para uma apresentação este ano, a pedido do Lado B, o cachê cobrado seria de R$ 15 mil, ou seja, uma diferença de R$ 32 mil.

Se para quem não vive da arte as contas já parecem sem lógica, imagine para o pessoal que tem a Cultura como ganha pão.

“É um descaso pagar mais de R$ 200 mil para uma banda que não está em evidência. Tem artista de mais nome que o valor é menor. É uma vergonha pra todo mundo”, comenta Vitor Gregório, da dupla Vitor e Vinícius.

Ele diz que deixou de se apresentar em Campo Grande durante um ano e meio, por conta do valor do cachê de no máximo R$ 1 mil. “É metade da despesa que tenho com a minha equipe, e ainda para ser pago após 30 dias”, reclama.

Para fechar com chave de ouro a manhã de descobertas na Câmara, o assessor financeiro da Fundac, Thiago Brandão explicou as estranhezas na Cultura como efeito de uma “força maior que interferia nas contratações”. Falou o que não é difícil imaginar, mas que na boca de um agente público soa mal, pra lá de desafinado, ainda mais quando os nomes não são dados aos bois.

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