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Lado Rural

Entidade alerta produtores sobre queda no preço do boi: "Não vendam agora"

Nelore-MS vê especulação para pressionar valores com base em impacto superestimado da taxação dos EUA

Por Viviane Monteiro, de Brasília | 17/07/2025 20:22
Entidade alerta produtores sobre queda no preço do boi: "Não vendam agora"
Gado nelore criado a pasto em propriedade rural brasileira. (Foto: Arquivo/Campo Grande News)

Em meio à recente queda do preço do boi gordo sob a influência da reação à taxação de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre as exportações brasileiras, a Nelore-MS (Associação Sul-Mato-Grossense dos Criadores de Nelore) observa um movimento de venda de gado e alerta aos pecuaristas do estado para que evitem vender seus animais neste momento.

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Produtores de Mato Grosso do Sul são alertados a não venderem seu gado devido à queda no preço do boi gordo. A Associação Sul-Mato-Grossense dos Criadores de Nelore (Nelore-MS) atribui a queda à reação do mercado à taxação de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre as exportações brasileiras e acusa frigoríficos de se aproveitarem da situação para forçar os preços para baixo. O presidente da Nelore-MS, Paulo Matos, critica a especulação e afirma não haver motivo concreto para a desvalorização, apontando que alguns frigoríficos, inclusive os que não exportam para os EUA, suspenderam abates usando a taxação como justificativa. Apesar da queda, a carne brasileira permanece competitiva internacionalmente. A arroba no Brasil custa US$ 54, enquanto em outros países, como Argentina, Uruguai e Estados Unidos, os valores são de US$ 66, US$ 77 e US$ 119, respectivamente. Matos destaca que os EUA compram apenas 8% da carne exportada pelo Brasil, representando 2,3% da produção nacional. A Nelore-MS argumenta que o impacto da crise foi superdimensionado e que o mercado deve se recuperar, especialmente com o aumento esperado nas compras da China no segundo semestre. A entidade recomenda cautela aos produtores, sugerindo que reduzam a oferta momentaneamente.

Segundo o presidente da entidade, Paulo Matos, os frigoríficos estão se aproveitando do cenário para forçar os preços para baixo, em plena entressafra, criando um ambiente de instabilidade. “O produtor deve ficar atento. Essa é uma manobra de frigoríficos para forçar criadores a vender o seu animal com preço abaixo da média”, alerta.

Matos critica a especulação sobre a queda da arroba do boi gerando insegurança entre produtores. Contudo, reforça ele, não há motivo concreto para aceitar essa desvalorização. “Alguns frigoríficos se aproveitaram da notícia para pressionar o mercado. Vimos, inclusive, plantas que nem exportam para os EUA anunciando a suspensão de abates, usando como justificativa a decisão americana. E isso criou uma instabilidade desnecessária.”

Com um rebanho estimado em 19 milhões de cabeças, Mato Grosso do Sul é o quinto maior produtor de gado Nelore do Brasil. Desde o anúncio das medidas pelo governo norte-americano, o mercado físico sinalizou queda de quase 10%, percentual ainda maior no mercado futuro.

Entidade alerta produtores sobre queda no preço do boi: "Não vendam agora"
Presidente da Nelore-MS, Paulo Matos pede atenção do produtor em momento de instabilidade. (Foto: Arquivo/Campo Grande News)

Preços competitivos - Apesar do impacto, Matos destaca que a carne brasileira permanece competitiva. Atualmente, o preço da arroba no Brasil é de US$ 54 (R$ 291,60). Em comparação, na Argentina o valor é de US$ 66, no Uruguai US$ 77, no Paraguai US$ 60, nos Estados Unidos US$ 119, na Irlanda US$ 125 e na Austrália US$ 70.

“Mesmo com uma eventual taxação de 50%, a carne brasileira continua sendo uma das mais baratas do mundo”, argumenta.

Especialistas apontam que o impacto da crise sobre a pecuária sul-mato-grossense foi superdimensionado, com base em “narrativas” sobre um suposto colapso nas exportações. Matos reforça que a influência da decisão dos EUA é restrita.

“Os EUA compram apenas 8% da carne que exportamos, o que representa 2,3% da produção brasileira. Falar em colapso de mercado interno é, no mínimo, má-fé. É um discurso criado para tentar jogar a conta dessas tarifas em cima do produtor, pagando menos pelo nosso boi,” afirma.

Entidade alerta produtores sobre queda no preço do boi: "Não vendam agora"
Gados destinados a abate recebem dupla alimentação diária. (Foto: Arquivo/Nelore-MS)

Segundo a Associação, mesmo que as exportações para os EUA sofram uma queda de até 70%, o excedente seria de cerca de 160 mil toneladas no ano, o que representa apenas 1,6% da produção brasileira, insuficiente para causar uma queda expressiva nos preços.

“É claro que os frigoríficos querem ampliar margens e usam qualquer argumento para isso, mas o produtor rural não pode ser tratado como amortecedor dos problemas internacionais. Somos nós que geramos emprego, compramos insumos, maquinários e alimentamos o Brasil e o mundo,” reforça o presidente da Nelore-MS.

A entidade lembra ainda que o mercado americano absorve principalmente cortes desossados congelados, voltados à indústria de hambúrguer e processados, o que não tem peso significativo na formação do preço do boi gordo. Já a China segue como principal destino da carne brasileira, respondendo por mais de 60% das exportações.

“A conta é simples: quem vai pagar mais caro pelo hambúrguer são os consumidores americanos, não os produtores brasileiros,” conclui.

A Nelore-MS afirma que continuará atuando em articulação com confederações nacionais, entidades do setor e o Itamaraty para defender os interesses do agro brasileiro, mantendo vigilância contra práticas de mercado que possam desequilibrar o setor e prejudicar os pecuaristas.

Entidade alerta produtores sobre queda no preço do boi: "Não vendam agora"
China segue como principal destino da carne brasileira. (Foto: Arquivo/Semadesc)

Ainda que os Estados Unidos sejam um mercado relevante, representam apenas 1,2% da produção total de carne bovina brasileira. No ano passado, o país importou entre 125 e 130 mil toneladas do Brasil, volume considerado modesto dentro do total exportado. A maioria da carne enviada é industrial, voltada para hambúrgueres, e não cortes nobres.

Atualmente, mais de 70% da carne produzida no Brasil é consumida internamente e apenas 30% é exportada. Dos 30%, a China absorve cerca de 60%, tendo importado aproximadamente 1,5 milhão de toneladas em 2023. O setor busca novos mercados, que podem ser explorados com investimentos em infraestrutura, entre os quais se destaca o corredor bioceânico, que abrirá nova rota com a Ásia pelo Pacífico.

“Temos mercados como Oriente Médio, Hong Kong, Chile, além da própria China, que pode absorver mais. E reforço: o corte exportado aos EUA é de valor mais baixo. Não é difícil redirecionar essa carne para o consumo interno ou outros destinos”, observa.

Entidade alerta produtores sobre queda no preço do boi: "Não vendam agora"
Gado se alimenta de suplemento em cocho. (Foto: Arquivo/Agro Agência)

Recentemente, o Brasil recebeu em Paris a certificação de área livre da aftosa sem vacinação. A melhoria do reconhecimento da condição sanitária representa um estímulo para acessar mercados mais rigorosos, como é o caso do Japão e a Europa.

Diante do cenário, Matos orienta o pecuarista a manter a calma. “Estamos recomendando cautela e, se possível, reduzir a oferta momentaneamente. O mercado deve reagir, especialmente com a expectativa de aumento de compras da China no segundo semestre, que é tradicionalmente um período de maior demanda por lá.”

Por fim, a Nelore-MS ressalta que as exportações de carne de Mato Grosso do Sul para os EUA somaram US$ 315,5 milhões no primeiro semestre deste ano, 11,4% a mais na comparação com o mesmo período do ano passado. Já a quantidade embarcada reduziu de 387,7 mil para 318,2 mil toneladas.

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