Escola agrícola é berço de técnicos cobiçados por empresas rurais
Colégio é privilégio na MS-040, mas veja também como se tornar um técnico com curso gratuito do SRCG e Senar
Não é exagero usar a palavra cobiça para se referir a busca de empresas rurais por técnicos para assumirem vagas com remunerações que vão de R$ 2 mil a R$ 12 mil. No Estado cujo carro chefe da economia é o agronegócio, estudar o ensino médio integrado ao curso de Técnico em Agropecuária é um privilégio.
Ex-alunos contam como uma escola na MS-040 foi o pontapé para “correr o trecho” na realização de sonhos profissionais e o presidente do SRCG (Sindicato Rural de Campo Grande, Rochedo e Corguinho), Alessandro Oliva Coelho, explica o caminho das pedras às pessoas que querem entrar no meio rural e pleitear uma dessas vagas.
Celeiro de oportunidades
Com um sorriso de satisfação com a vida no campo, o ex-aluno da Escola Municipal Agrícola Governador Arnaldo Estevão de Figueiredo, Luís Ricardo Moraes de Sena, de 29 anos, resume a trajetória.
Com 24 anos, a unidade da Prefeitura de Campo Grande foi, por muito tempo, a única escola agrícola. Hoje, o município tem mais uma que está se tornando agrícola. As demais escolas do campo são rurais, ou seja, iguais às da cidade, sem curso técnico integrado.
“Terminei o ensino médio como técnico em agropecuária e a escola mesmo já me encaminhou para o mercado. Trabalhei em uma empresa de tecnologia em aquicultura, em Terenos, depois fiz graduação em Agronomia e então fui selecionado para vaga em uma multinacional e fui para o Maranhão”, conta Luís Ricardo.
Depois de três anos e muita experiência, Luís voltou à Campo Grande. Rapidinho, a própria escola quis garantir um professor com essa bagagem e agora ele dá aulas onde se formou.
“Sem dúvida, a formação da escola foi essencial para mim. Para quem está disposto a ‘correr o trecho' a oportunidade é gigantesca na área rural. Têm vagas nas fazendas e em empresas de assistência técnica, fertilizantes, agrotóxico e outras. Conheço gente que trabalha com vendas e com comissões ganha em torno de R$ 8 mil”, comenta.
Além do conhecimento técnico, as empresas buscam pessoas com desenvoltura para crescer junto com o negócio, segundo a coordenadora pedagógica do Ensino Médio, Adriana Paula Borges Quintana.
“As empresas nos buscam muito pedindo indicações de ex-alunos e muitos já saem empregados por conta própria, nas fazendas. A gente busca prepará-los ao máximo para o mercado, eles têm noções de oratória, sabem se comunicar muito bem. Os melhores a gente quer para nós”, brinca a coordenadora, ao referir-se aos egressos que hoje são professores ou responsáveis técnicos na escola, como o Luís.
Foi com a desenvoltura de quem criou um projeto que se transformou em um dos oito setores da escola, que a Emanoella Oliveira de Cristo, de 19 anos, saiu do Ensino Médio e entrou na graduação de Medicina Veterinária. No primeiro ano, ela notou como já estava à frente dos colegas na formação.
“Muitas noções que eram passadas nas disciplinas da graduação eu já tinha estudado na escola. Na hora de apresentar trabalhos, os colegas ficavam muito nervosos e eu sempre os acalmava, falava ‘respira, que é só apresentar o que nós estudamos', porque eu já estava acostumada a apresentar projetos”, conta a jovem, que nasceu e foi criada na fazenda da família, que fica a mais de uma hora e meia de viagem da Capital.
Os sonhos são diversos no celeiro de oportunidades que a escola se tornou. A Emanoella quer trabalhar com animais de pequeno porte quando se formar.
Já empregado como responsável técnico na escola, o ex-aluno Aslan Augusto de Oliveira Silva, de 20 anos, cuida da horta e orienta os estudantes, enquanto se prepara para a universidade.
“A gente tem que fazer o que gosta para não precisar trabalhar e aqui eu faço o que eu mais gosto”, destaca Aslan.
Empreendedorismo
Percorrendo os setores, nos 150 hectares da escola que tem 400 estudantes, vamos conhecendo outros sonhos de quem quer ganhar mais sem sair do mundo rural, valorizando a cultura de onde vieram: das fazendas.
No aviário, o responsável técnico também é ex-aluno e tem o mesmo entusiasmo quando fala do futuro. Willyan Cruz, de 28 anos, já fez Biologia e é pós-graduando, mas quer mais.
Ele nem mora em fazenda, nasceu no bairro Aero Rancho, mas os pais logo perceberam que a escola agrícola daria a ele mais oportunidades do que a escola da cidade.
“Tenho um projeto, junto com a minha esposa, para empreender no meio rural a partir do trabalho com drones, porque é um meio que tem tido bastante demanda”, revela Willyan.
Ele conta que os colegas que estão começando ganham em torno de R$ 2 mil somente com a formação técnica, mas tem amigos que atuam na área de vendas ou estão empreendendo e têm renda de até R$ 15 mil.
Formação de talentos
A escola agrícola tem oito setores com produções diversas por meio de parcerias com entidades, como a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), o Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) e o Sindicato Rural.
Não é fácil manter os quase 150 hectares da escola em perfeitas condições e o período sem aulas, em função da pandemia, dificultou a manutenção. Preocupado com a formação dos jovens, no passado, o presidente do Sindicato Rural visitou o local e começou um verdadeiro mutirão conseguindo empresas parceiras para revitalizar e modernizar o espaço.
“A situação estava precária, mas conseguimos fazer várias melhorias. Precisamos que saiam bons técnicos dali, habituados com todas as tecnologias do campo, se não é difícil para serem inseridos no mercado depois. A gente quer que eles trabalhem de forma mais eficiente, queremos ajudar a ter matrizes melhores. Continuamos buscando parceria para dar sequência nisso e preparar mais essa mão de obra, que hoje é o grande desafio para a pecuária, principalmente”, comenta Alessandro.
A escola ganhou 30 toneladas de calcário para a correção do solo, teve o pasto reformado e telas e canteiros revitalizados. O sindicato viabilizou também o CAR (Cadastro Ambiental Rural) da área, entre outras melhorias.
"Agora, vamos dar sequência no setor de Aquaponia. Estamos tentando conseguir um tanque grande, porque eles estão fazendo em caixas pequenas, também melhorar o rebanho. Já tenho pessoal disposto a fazer doação de embriões para melhorar rebanho leiteiro”, explica o presidente do SRCG.
Como se tornar um técnico
Antes de tudo, é preciso saber que a agropecuária é o segundo setor na lista dos que mais abrem vagas de emprego em MS. Somente em janeiro deste ano, as empresas agropecuárias contrataram 3.871 pessoas.
Em todo Estado, o agro ficou atrás apenas do setor de serviços, com 10.670 vagas criadas. Os dados são do novo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados). A demanda constante por técnicos e especialistas demonstra a força do agronegócio em MS.
Para quem quer se preparar e pleitear as vagas do mercado rural ou empreender, o Sindicato Rural oferece o curso de Técnico em Agronegócio gratuito e semipresencial, com aulas aos sábados e duração de dois anos. Em parceria com o Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), o curso já abriu uma turma neste ano, mas deve abrir outra no segundo semestre.
“É um curso que dá para a pessoa conciliar como estudo ou o trabalho atual e é fantástico, principalmente para quem vai operar na propriedade. A faixa salarial de início de um técnico é de R$ 2,8 mil, mas ele pode crescer dentro das empresas ou fazendas e assumir gerência, parte administrativa nos núcleos na cidade”, detalha Alessandro.
Ele explica que propriedades maiores geralmente têm escritório na na cidade que contratam profissionais que atuem com licença, recursos humanos e o curso prepara para atender essa demanda. É a oportunidade de entrar no mercado rural sem deixar de morar na cidade.
O salário inicial pode quadruplicar, segundo Alessandro, pois o técnico pode ir para uma área específica da empresa ou optar por oferecer consultoria.
“Se um técnico atender seis confinamentos e tiver bons resultados, a renda passa de R$ 15 mil. São ganhos elevados se considerarmos que o profissional ingressou na área com cursos gratuitos. É claro que ele investe em tempo e deslocamento, mas os custos são bem menores do que para se fazer uma graduação”, comenta.
Além do curso técnico, o Sindicato Rural e Senar oferecem diversos outros cursos de curta duração, durante o ano inteiro em todo Mato Grosso do Sul.
Clique aqui para acessar o site e buscar os cursos gratuitos com inscrições abertas, por cidade.
Cargos em alta
Com custos de manutenção altíssimos, as máquinas agrícolas também são uma boa oportunidade para quem quer se especializar e assim agregar valor ao seu trabalho.
Técnicos podem atuar também na mecanização agropecuária, que são as atividades de planejamento, execução e desenvolvimento das funções por meio de máquinas agrícolas.
Os salários vão de R$ 1,8 mil até R$ 12 mil para quem trabalha na mecanização agropecuária, conforme informações da Rais (Relação Anual de Informações Sociais) de 2020, levantadas pelo Sistema Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul).
Há outras oportunidades com alta demanda, em MS. Confira os cargos e remunerações na tabela abaixo: