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Meio Ambiente

Confundido com abalo natural, tremor foi causado por desmonte de mina em Bonito

Empresa que explora calcário na região afirma ter operado explosivos dentro das normas

Por Cassia Modena | 04/06/2025 09:39


RESUMO

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Um tremor registrado em Bonito, Mato Grosso do Sul, causou preocupação entre moradores na manhã de ontem. O fenômeno, inicialmente confundido com um abalo sísmico natural, foi provocado pelo desmonte de rochas para extração de calcário pela mineradora Calluz, na região da Estrada do 21. A empresa afirma que a operação seguiu as normas técnicas, registrando vibração de 1,7 na escala Richter. No entanto, moradores relataram queda de objetos e pânico em escolas. Ambientalistas demonstram preocupação com possíveis danos às grutas turísticas da região, como a do Lago Azul e São Miguel, devido às explosões frequentes.

Moradores de Bonito se assustaram por volta das 9h30 de ontem (3) com tremor de terra que fez até objetos caírem dentro de casa e crianças saírem correndo de escola. Ele chegou a ser registrado pelo Centro de Sismologia da USP (Universidade de São Paulo), que monitora sismos de origem natural no mundo, mas retirado da lista de ocorrências no mesmo dia.

O vídeo acima começou a circular e revelou de onde veio o abalo: do desmonte de rochas para extrair calcário, mineral abundante no município sul-mato-grossense e nos vizinhos, como Bodoquena. A explosão ocorreu na área explorada pela Calluz, mineradora que se instalou nas proximidades da Estrada do 21 (MS-345), inaugurada no ano passado para encurtar a viagem de Bonito a Campo Grande.

Doutora em Geociências e professora na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Edna Maria Facincani confirmou que o tremor foi induzido por atividade humana ao analisar a propagação das ondas "P" no solo captadas pela estação sismográfica de Coimbra, localizada em Corumbá. "Quando tem uma anomalia, difere dos que são de origem natural", explica.

Edna destaca que tanto o tremor natural quanto o induzido são comuns em Mato Grosso do Sul.

Existem dois tipos de abalo sísmico no nosso Estado: tem um que é natural, que vem da liberação das tensões de dentro da crosta terrestre e tem o sismo induzido, que é provocado pela detonação, pelo desmonte de áreas onde está associado à mineração, como a região de Bonito, região de Bodoquena. Dentro da sismologia, nós chamamos assim mesmo: de abalo sísmico induzido", descreve.

Relatório que a professora orientou em 2016, produzido pelo então aluno de Física da UFMS Estevão Tadeu, mostrou que só naquele ano foram registrados 228 eventos, sendo 93 relacionados a possíveis desmontes, 35 sismos induzidos e 100 sismos de origem natural.

Em 2025, conforme as informações mais recentes do Centro de Sismologia da USP, foram registrados oito sismos em Mato Grosso do Sul. O mais forte ocorreu em Sonora, no mês passado, mas não houve relatos de que foi sentido pela população. A intensidade foi de 3,5 na escala Richter e houve 16 réplicas mais fracas dele na sequência. Outros municípios impactados foram Miranda, Rio Negro, Bonito, Ponta Porã e Corumbá. No caso de Ponta Porã e Sonora, os registros foram mais de um.

Confundido com abalo natural, tremor foi causado por desmonte de mina em Bonito
Relatório de ondas "P" analisado após tremor em Bonito (Imagem: Reprodução)

É permitido? - A reportagem falou com o gerente da Calluz, Elias Araújo, e questionou sobre o susto causado aos moradores e as regras que empesa deve seguir. Ele afirmou que o horário da explosão, o volume de explosivos, vibração e ruídos provocados pela atividade estão dentro dos limites que a NBR (Norma Técnica Brasileira) 9.653/2018 e que o Exército impõem. "Nós já conversamos com as autoridades de Bonito e enviamos relatórios para esclarecer que não houve irregularidades", disse.

Elias afirma que a vibração foi de 1,7 na escala Richter e alcançou 500 metros de extensão, humanamente impossível de ser sentida. "Isso é o que a Ciência diz. Só pode ser sentido acima de 3,5 na escala", reforça. Ele confronta os relatos de que os moradores sentiram, mas se coloca à disposição para apresentar documentos que comprovem que a exploração está nos conformes.

Moradora de Bonito e integrante do coletivo Unidos pela Serra da Bodoquena, Yolanda Prantl se preocupa com os impactos ambientais causados pela expansão da extração de calcário na cidade, que pode não só provocar danos aos recursos naturais ao mexer no subsolo, mas também com outras consequências.

"Teve quadro caindo, crianças saíram correndo da escola. Pessoas sentiram em diversos bairros e na área rural, a cerca de 20 km. E nós temos aqui a Gruta do Lago Azul, a Gruta de São Miguel, por exemplo, que são atrativos internacionalmente conhecidos e devem ser preservados. Elas possuem estruturas delicadas. Imagina, uma explosão dessas ou uma série de explosões pode danificá-las", aponta.

Outras empresas de mineração operam em Bonito há mais tempo. O Campo Grande News pediu para o Imasul (Instituto do Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) confirmar se a Calluz tem licença ambiental para explorar calcário e desde quando. O órgão informou que o setor técnico está verificando e vai responder em breve.

Os naturais - A professora da UFMS relembra que os sismos naturais são comuns no Estado pela sua localização no mapa de placas tectônicas.

"Existe no Pantanal uma bacia com acúmulo de sedimentos que está em processo de subsidência (afundamento). Além disso, a superfície sofre influência do Lineamento Transbrasiliano (uma falha geológica) e do movimento de compressão da placa tectônica de Nasca e da placa tectônica Sul-Americana", resume.

O acompanhamento dos fenômenos em tempo real é feito desde 2003 pela universidade, com a instalação no Estado dos primeiros sismógrafos – aparelhos que medem a vibração do solo. O sismo mais intenso ocorreu no Pantanal em 1964 e superou os 5,0 na escala Richter.

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