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Meio Ambiente

Fogo também ameaça áreas de Mata Atlântica, sob risco de dano irreversível

Parque Nacional da Serra da Bodoquena corre risco com avanço do fogo em MS

Tainá Jara | 13/09/2019 10:21
Desde agosto, brigadas combatem focos de incêndio em áreas próximas ao Parque Nacional da Serra de Bodoquena (Foto: Divulgação/ICMBio)
Desde agosto, brigadas combatem focos de incêndio em áreas próximas ao Parque Nacional da Serra de Bodoquena (Foto: Divulgação/ICMBio)

O avanço dos focos de incêndio em Mato Grosso do Sul pode causar danos irreversíveis em áreas com predomínio de Mata Atlântica, vegetação que cobre a maior parte do Parque Nacional da Serra da Bodoquena. O alerta consta em relatório divulgado nesta semana pela Fundação Neotrópica do Brasil.

Embora o monitoramento do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) não aponte focos dentro da área do parque, apenas em locais próximos, o calor e a estiagem aumentam os riscos de fogo e ameaçam o bioma.

A reserva ecológica de 76,4 mil hectares, administrada pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade) ligado ao Ministério do Meio Ambiente, abrange os municípios de Porto Murtinho, Bonito, Jardim, Miranda e Bodoquena. As cidades constam no decreto de emergência emitido nesta quinta-feira pelo governo do Estado em decorrência do alto número de focos, o que comprova os riscos a vegetação do espaço.

Conforme o relatório da instituição, ao contrário do Cerrado, e assim como a Amazônia, na Mata Atlântica a vegetação não possui uma adaptação evolutiva ao fogo. As cascas das árvores desses Biomas são muito mais finas.

O Cerrado, conhecido como “savana brasileira”, assim como o bioma da Caatinga, predominante no nordeste brasileiro, corresponde a mais de 60% do território do Estado. As outras vegetações nativas presentes são o complexo do Pantanal e a Mata Atlântica.

Em área de Cerrado, historicamente, o fogo sempre ocorreu de forma natural, sem necessariamente ter origem com intervenção humana, o que levou às plantas desse bioma a se tornarem adaptadas a esses eventos. Dessa forma, esta vegetação é caracterizada por árvores de casca muito grossa, que protegem e impedem as chamas ou as altas temperaturas de atingiram o cerne das plantas diante de um incêndio, evitando assim que morram.

O fogo natural no Cerrado ainda contribui para a germinação de sementes de muitas espécies, uma vez que essas plantas necessitam de um choque térmico para que seja efetuada a quebra de sua dormência.

No caso da Mata Atlântica, a ausência de proteção faz com que a mortalidade das árvores diante de queimadas seja muito alta, dessa forma, mesmo incêndio de baixa intensidade pode causar grande devastação, acarretando modificações consideráveis na comunidade vegetal.

“O estrago é grande e demora recuperar e, mesmo assim, pode ser que o ecossistema não retorne a ser como antes”, explica o gestor ambiental da Fundação Neotrópica do Brasil, Rodolfo Portela de Souza.

A recuperação deste ambiente é lenta, podendo levar muitas décadas para retornar ao estado similar anterior ao fogo. Por isto, qualquer incêndio que vier a adentrar as áreas de floresta estacional da Serra da Bodoquena, certamente trará efeitos catastróficos para a paisagem e toda a biodiversidade associada, além de prejuízos econômicos diretos aos proprietários rurais e empreendimentos de turismo.

Maior parte do Parque Nacional de Serra da Bodoquena é coberta por vegetação de Mata Atlântica (Foto: Divulgação/Prefeitura de Bonito)
Maior parte do Parque Nacional de Serra da Bodoquena é coberta por vegetação de Mata Atlântica (Foto: Divulgação/Prefeitura de Bonito)
Dezoito brigadas trabalham no combate às chamas na região de Bodoquena e Bonito (Foto: Divulgação/ICMBio)
Dezoito brigadas trabalham no combate às chamas na região de Bodoquena e Bonito (Foto: Divulgação/ICMBio)

Proteção – Para impedir que os focos de incêndio registrados nas proximidades do Parque Nacional da Serra da Bodoquena, equipes do Ibama (Instituto Nacional do Meio Ambiente) e do ICMBio realizam há cerca de três meses trabalhos de prevenção.

Desde agosto ocorrem ações de combate direto ao fogo. O ICMBio conta com 18 brigadistas atuando direta e incansavelmente no combate aos focos de incêndio.

O coordenador da Defesa Civil, coronel Fábio Catarinelli, afirma que na última quinta-feira havia três focos de incêndio próximos a área do parque, porém, a situação estava sob controle. “Ao brigadas disponíveis naquela região, até o momento, estão dando conta de proteger o espaço”, explica.

Catarinelli também é responsável pela sala de situação integrada criada pela Semagro (Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar) para monitorar os incêndios no Pantanal, na região de Corumbá, maior alvo do fogo. Corpo de Bombeiros, PMA (Polícia Militar Ambiental), Cemtec (Centro de Monitoramento do Tempo e Clima) e Ibama.

Dados de foco de calor na Serra da Bodoquena em agosto de 2019 (Imagem: Reprodução/Inpe)
Dados de foco de calor na Serra da Bodoquena em agosto de 2019 (Imagem: Reprodução/Inpe)

Incêndios - Neste ano, foram registrados Inpe 6,3 mil focos no Estado, sendo que 1,5 mil somente em setembro. Em pouco mais de um mês, 1 milhão de hectares foram consumidos pelas chamas, principalmente na região do Pantanal.

O número já supera a quantidade de focos acumulados em seis dos últimos dez anos (2.380 em 2018; 5.737 em 2017; 4.617 em 2015; 2.214 em 2014; 3.615 em 2013; 3.731 em 2011).

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