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Meio Ambiente

Mortes de tamanduás em rodovias derrubam pela metade reprodução de animais

Entre 2017 e 2021, foram 12 mil animais silvestres mortos em 4 rodovias de Mato Grosso do Sul

Gabrielle Tavares | 30/12/2022 06:12
Tamanduá-bandeira com seu filhote atropelados na BR-262/MS. (Foto: Erica Naomi Saito/Projeto Bandeiras & Rodovias)
Tamanduá-bandeira com seu filhote atropelados na BR-262/MS. (Foto: Erica Naomi Saito/Projeto Bandeiras & Rodovias)

Animal típico da fauna sul-americana, os tamanduás-bandeira, listados como ameaçados de extinção, estão entre os animais silvestres que mais morrem atropelados nas rodovias. O índice é tão alto que reduz em 50% a taxa de crescimento populacional destes animais, sem contar outros obstáculos como incêndios, devastações ambientais e caça.

O último caso foi na manhã de terça-feira (27), quando uma mãe e seu filhote foram encontrados mortos às margens da Estrada Parque de Piraputanga, em Aquidauana, município que fica a 140 km da Capital.

A bióloga do Projeto Bandeiras & Rodovias do Icas (Instituto de Conservação de Animais Silvestres), Erica Naomi Saito explicou que o fato de eles serem mais lentos, tanto fisicamente quanto em seus reflexos cognitivos, tornam esses bichos mais vulneráveis nas rodovias brasileiras. Por isso eles estão entre os dez animais silvestres mais vitimados em colisões.

Mãe e seu filhote encontrados mortos às margens da Estrada Parque de Piraputanga. (Foto: O Pantaneiro)
Mãe e seu filhote encontrados mortos às margens da Estrada Parque de Piraputanga. (Foto: O Pantaneiro)

"Tem vários fatores, é um animal que é escuro, ativo de noite, o olho dele não brilha e ele é um pouco lento, a percepção dele não é igual a de outros animais que conseguem perceber e fugir rapidamente. A quantidade de mortes é assustadora", disse.

O risco é tamanho que a espécie ganhou um estudo só para ela dentro do instituto que pesquisa animais silvestres. Entre 2017 e 2021, o Icas estudou quatro rodovias de Mato Grosso do Sul e registrou 12 mil animais mortos.

"Então o número de animais mortos nas rodovias do Estado é muito maior, já que essas são só 14% das rodovias. As espécies estão literalmente morrendo nas nossas estradas", lamentou.

E quando se fala em atropelamento, a culpa sempre tende a recair sobre os motoristas, o que é refutado por Érica. Até por isso, ela explica que o Icas evita a expressão "atropelamento" e prefere colisão veicular com fauna.

"São várias coisas envolvidas, questão de não ter medidas de investigações para evitar atropelamentos, implementação de medidas nas rodovias, e o motorista que precisa circular em uma velocidade condizente, prestando atenção", ressaltou.

Médica veterinária inspecionando carcaça de tamanduá-bandeira atropelado. (Foto: Projeto Bandeiras & Rodovias)
Médica veterinária inspecionando carcaça de tamanduá-bandeira atropelado. (Foto: Projeto Bandeiras & Rodovias)

De acordo com dados da PRF (Polícia Rodoviária Federal), foram 614 colisões envolvendo animais e pessoas em Mato Grosso do Sul, entre os anos de 2007 e 2019. Acidentes que também colocaram em risco a integridade humana, já que muitos deles resultam em óbitos de pessoas e não só de animais.

No entanto, as rodovias não são as vilãs. "Todo mundo tem o direito de ir e vir, mas que seja de uma maneira sustentável. É um problema que pode ser evitado, pode ter educação voltada para isso", apontou.

Érica tem atuado ativamente para mudar essa realidade. Em parceria com o governo do Estado e Projeto Bonito Não Atropela, criou um manual com orientações sobre como pensar em reduzir o impacto das colisões veiculares com fauna. 

É o primeiro material compilado para área de Ecologia de Estradas no Brasil, "Infelizmente, existe muito conhecimento em artigos científicos, mas quase nada em português voltado para os tomadores de decisão", disse.

Além disso, o Icas elaborou um e-book chamado "Estradas mais segura para todos: no caminho para reduzir as colisões com fauna".

"Fica o convite para todos conhecerem um pouco desse problema que são as colisões veiculares com fauna e como solucionar o problema", completou a bióloga.

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