Cotada para vice de Lula e Senado em SP, Simone enfrenta resistência em casa

A ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB), terá de fazer uma escolha que pode levá-la ao topo do poder ou ao ostracismo. Ao contrário de políticos que disputam a cadeiradas espaços nos partidos, ela dispõe de alternativas tanto em Mato Grosso do Sul quanto no cenário nacional.
RESUMO
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Simone Tebet, ministra do Planejamento, enfrenta dilema político. Sua crescente aproximação com o presidente Lula e a esquerda, evidenciada por sua atuação no governo e declarações públicas, lhe abrem caminho para uma possível candidatura à vice-presidência na chapa de Lula em 2026. Essa aliança, contudo, gera forte resistência dentro do MDB, especialmente em sua base política no Mato Grosso do Sul, onde enfrenta rejeição por parte da ala conservadora do partido e do eleitorado. A ministra, cotada também para disputar uma vaga no Senado por São Paulo, precisa avaliar os riscos e benefícios de cada opção. Enquanto a candidatura à vice-presidência lhe garantiria projeção nacional, a disputa pelo Senado em São Paulo apresenta desafios, embora conte com o apoio da direção nacional do MDB. No Mato Grosso do Sul, sua candidatura ao Senado é vista com ceticismo, considerando seu atual distanciamento do eleitorado local e a forte oposição de lideranças emedebistas. A decisão de Tebet terá impacto significativo em seu futuro político e nas alianças partidárias para as próximas eleições.
Durante evento no Acre, dirigindo-se ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, deixou uma pista sobre o futuro: “Vossa Excelência pode contar comigo, independentemente de (para) onde for o meu partido”, afirmou, em tom mais aberto que na campanha de 2022. Logo depois, discursou contra os ataques à democracia e encerrou com um “Sem anistia!”, frase que a desgastou ainda mais em sua base conservadora no Estado, mas agradou a militância de esquerda.
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O vídeo, impulsionado pelo PT, viralizou e reforçou a percepção de que Simone pode adiar mais uma vez o retorno à política sul-mato-grossense. Há duas semanas, a ala lulista do MDB — liderada pelos senadores Renan Calheiros (AL), Jader Barbalho (PA) e Eduardo Braga (AM) — esteve com Lula para discutir a eleição de 2026. O objetivo: condicionar o apoio formal à reeleição à indicação do vice, reeditando a aliança rompida em 2016 com o impeachment de Dilma Rousseff, articulado pelo então vice Michel Temer.
Vice-presidência
Três nomes surgiram para o posto: o governador do Pará, Helder Barbalho; o ministro dos Transportes, Renan Filho; e Simone Tebet. A 14 meses da eleição e das convenções, o momento é de sondagens, mas ela está no páreo. Fontes do MDB nacional afirmam que, desde 2022, Simone se aproximou cada vez mais de Lula e se tornou aceitável para a esquerda, agregando votos como mulher, gestora experiente e figura influente numa região dominada pelo agronegócio, tradicionalmente resistente ao PT.
Simone se destaca no governo como “tocadora de obras”, à frente das Rotas de Integração Sul-Americana, programa de R$ 68 bilhões — R$ 60 bilhões no PAC e outros US$ 10 bilhões financiados por BNDES e bancos multilaterais. Sob seu comando, o projeto se expandiu de 11 estados de fronteira para todo o país, com 190 obras destinadas a conectar o Atlântico ao Pacífico, integrando economicamente o Brasil também à América do Sul. Ela ainda articula, com autorização de Lula, tratativas com a China para construção de uma megaferrovia ao longo do traçado da Rota Bioceânica, com previsão de um ano para conclusão do projeto e cinco para a as obras.
Sua retórica mistura pragmatismo e idealismo, em tom próximo ao lulista: “Não se trata apenas de obras. É sobre garantir que o desenvolvimento chegue onde nunca chegou”, disse no Senado, citando a dragagem do Solimões e a construção de uma aduana em Tabatinga como marcos da Rota Amazônica, prevista para a COP 30, em Belém. Ela costuma repetir o que soa como música aos ouvidos de Lula: “O pobre está no orçamento federal”.
O MDB, mesmo fora da base orgânica do PT desde o impeachment, mantém três ministérios e é estratégico pelo tempo de TV e capilaridade. Mas metade do partido, liderada por Baleia Rossi (SP) e a quase totalidade da ala sul-mato-grossense, defende formar federação com Republicanos para apoiar Tarcísio de Freitas à Presidência e manter o controle em São Paulo, lançando Ricardo Nunes ao governo.
O cálculo envolve ainda o futuro de Geraldo Alckmin, vice que se adaptou bem à aliança com o PT. Ministro da Indústria e Comércio Exterior, ele teria de disputar o Senado, já que Fernando Haddad é nome natural para governador.
Fogo amigo
Simone foi sondada pelo PT para disputar o Senado por São Paulo, onde teria chances pela projeção nacional e pelo eleitorado diversificado, aberto a candidatos de fora. Ela diz que, se Lula pressionar, não poderá recusar. As opções nacionais são atraentes diante da perda de tração em Mato Grosso do Sul — a ponto de declarar, ao aceitar o ministério, que não teria “prestígio nem para se eleger síndica de prédio” em que mora em Campo Grande. Além disso, enfrenta resistência de dois terços da executiva estadual do MDB.
Para o diretor do Instituto de Pesquisas de Mato Grosso do Sul (Ipems), Lauredi Borges Sandim, “a melhor coisa para ela seria sair como vice do Lula. Uma candidatura ao Senado por São Paulo seria um risco maior que aqui”. Pesquisa recente do instituto mostra Simone em quarto lugar, empatada tecnicamente com Capitão Contar (15,97%), atrás de Reinaldo Azambuja (18,64%) e Nelsinho Trad (16,39%). “Como vice de Lula ela pega carona, não põe dinheiro na campanha e tem 50% de chance de ganhar”, avalia Sandim.
O deputado estadual Júnior Mochi reforça a rejeição local: “O MDB de Mato Grosso do Sul nunca fez aliança com a esquerda”. O partido está fechado com o governador Eduardo Riedel e Azambuja pela primeira vaga ao Senado e não aceitaria no mesmo palanque uma parceira pedindo votos para Lula. Em setembro, Azambuja vai para o PL e Riedel, para o PP, em movimento que pode consolidar a federação pró-Tarcísio. Pesquisa do Ipems aponta que 55% dos eleitores do Estado se declaram de direita, contra 12% de esquerda, um retrato expressivo do conservadorismo que rejeita Lula.
O bloqueio mais firme vem do ex-governador André Puccinelli, que divide o comando do MDB com o ex-senador e secretário de Representação do Estado em Brasília, Waldemir Moka. Ele garante que se ficar ao lado da esquerda, Simone não terá a legenda em seu apoio, embora com o marido, Eduardo Rocha, vice-presidente da executiva e chefe da Casa Civil de Riedel, o casal conte com apoio de um terço do diretório. Puccinelli rompeu com a ministra em 2022, quando se sentiu abandonado na disputa pelo governo.
Caso opte pelo Senado no Estado, o impasse será resolvido nas convenções ou pelo diretório nacional. O deputado Baleia Rossi (SP), presidente nacional do MDB, informou através da assessoria que ela terá apoio da legenda se decidir concorrer. Mochi alerta: “Pelo sentimento da maioria, ela só tem chance se a decisão for imposta”.
A aproximação de Simone com o PT torna improvável uma reconciliação com Puccinelli, adversário histórico do deputado Zeca do PT, que governou o Estado entre 1998 e 2006. “Zeca é o meu surrado preferido”, disse Puccinelli ao Campo Grande News, lembrando décadas de embates e derrotas impostas ao petista, com o qual jamais vislumbra qualquer trégua na política.
Para ele, não há como fechar as portas para Simone, mas ela teria de abandonar os novos parceiros: “Ela quer ser senadora? Beleza. Ela tem apoio no MDB, mas sai do governo federal e declara publicamente que não apoia o PT. Foi isso que a executiva definiu. É ela quem tem de escolher”. Como se vê, Simone está numa encruzilhada.