Enxaqueca fez Camila descobrir câncer de tireoide que evoluiu para metástase

Ligada nos 220v, cheia de energia e sorrisos, a deputada federal Camila Jara (PT), 30 anos, recebeu o Campo Grande News para contar sobre a descoberta do câncer na tireoide, com metástase nos linfonodos. No auge da vida pública, ela mostrou que não teme enfrentar o problema de saúde, mas confessa que está aprendendo a respeitar os limites do corpo.

A descoberta veio após anos de convivência com enxaquecas e uma investigação aparentemente de rotina. “Tenho enxaqueca desde os 9 anos. A relação com os hormônios sempre foi forte, e durante um exame de rotina apareceu um nódulo na tireoide, isso em junho do ano passado, bem no meio da campanha eleitoral”, relembra Camila, que representou o PT na corrida pela Prefeitura da Capital.

Na época, o diagnóstico inicial foi tranquilizador: um nódulo classificado como Bi-RADS 3, o que indica necessidade de investigação, mas baixa suspeita de malignidade. "Pensei: depois da campanha eu vejo isso. O foco era outro naquele momento."

Foi só após as eleições, em novembro, que ela decidiu fazer a punção. O resultado levantou suspeitas mais sérias. “A punção indicou que poderia haver algo mais grave e recomendaram a retirada. A cirurgia foi agora em março e, apesar do laudo inicial apontar benignidade, novos exames revelaram a presença de vários nódulos, dois deles malignos.”

A notícia da metástase veio como um segundo baque. “Aí marcamos o oncologista e os exames mostraram que já havia se espalhado para os linfonodos. A partir daí, o tratamento passou a ser considerado agressivo.” Camila fará uma cirurgia complexa em São Paulo no dia 12 de maio, para retirada de todos os linfonodos afetados. A operação está prevista para durar entre seis e sete horas, com internação na UTI logo após.

Jovem, ativa, engajada em projetos sociais e com uma rotina intensa em Brasília, ela decidiu conciliar o diagnóstico com a vida pública — o que tem sido um dos maiores desafios para a parlamentar.

“Estava no auge da entrega das emendas, vendo os postos de saúde sendo inaugurados, projetos saindo do papel. Tinha viagens marcadas para os 79 municípios. Foi um freio brusco.”

Ainda assim, ela não tirou o pé da rotina intensa. “As pessoas me perguntam se estou conseguindo desacelerar. A verdade é que não. Continuo na academia, continuo em Brasília, sigo cumprindo agenda. Mas sei que vai chegar o momento do baque, quando o corpo cobrar.”

A deputada, que sempre foi fisicamente ativa e disciplinada com a saúde, vê o corpo como um instrumento de trabalho e transformação. “Vai ser difícil encarar as limitações físicas. A tireoide mexe com todos os hormônios, então vou ter que lidar com queda de energia, ajuste de doses, dor. É um aprendizado sobre os limites do corpo.”

Pós-cirúrgico – Após a cirurgia, Camila seguirá com iodoterapia, um tratamento radioativo que exige isolamento temporário. “Durante o período com o iodo no corpo, não posso ter contato com ninguém. É como se eu fosse uma pequena fonte de radiação. E, para alguém como eu, que vive cercada de gente, isso é quase uma tortura.”

Mesmo durante o tratamento, ela pretende manter o trabalho remoto nos períodos permitidos. “Vou acompanhar as sessões da Câmara remotamente. Só vou tirar licença se perceber que realmente não consigo mais dar conta.”

Camila tomou a decisão de expor publicamente o tratamento, não apenas como um gesto de coragem pessoal, mas como forma de contribuir com o debate sobre saúde pública e prevenção.

“Acho que vou contar para as pessoas tudo o que puder. A ideia é mostrar como são as fases do tratamento, porque muita gente tem mandado mensagem, dizendo que já passou por isso ou que está passando. É uma forma de acolher, de direcionar. Essa corrente de carinho que estou recebendo é muito incrível. É como se eu sentisse a luz das pessoas, a energia, sabe? É muito bom. Isso é muito gostoso.”

A parlamentar já vinha destinando emendas para hospitais que atendem pacientes oncológicos, como o Hospital do Câncer, que recebeu verba para a implantação de energia solar. Agora, a pauta ganha ainda mais força. “A pergunta que fica é: por que pessoas jovens e saudáveis estão adoecendo tanto? O que estamos comendo, bebendo, respirando? É preciso investigar a qualidade da água, da alimentação. Isso tudo é política pública.”

Família – A notícia abalou a família. “Meu avô morreu de câncer, mas porque fumava muito. E minha tia ficou muito abalada. Eu tive que consolar as pessoas.”

Os pais dela já estão em São Paulo aguardando Camila concluir os compromissos da agenda até domingo (11). Eles vão acompanhar a recuperação da parlamentar na capital paulista, onde o tratamento será realizado.

“Acho que o que mudou desde o diagnóstico é que eu quero viver mais. Quero mais intensidade ainda. Terei só mais uma cicatriz. E a mensagem que quero passar para as pessoas é que nunca percam a esperança.”

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