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Política

Odilon mandava grampear quem andava de carrão, afirma ex-assessor

Jedeão de Oliveira acusa o atual candidato do PDT ao governo de MS de fazer “o que dava na cabeça” para aparecer na mídia e diz que a maioria das ameaças contra Odilon foi fabricada

Helio de Freitas, de Dourados | 29/08/2018 19:36
Ex-assessor afirma que ameaças eram inventadas para manter escolta (Foto: Revista Trip)
Ex-assessor afirma que ameaças eram inventadas para manter escolta (Foto: Revista Trip)

Entre as denúncias feitas contra o juiz aposentado Odilon de Oliveira na proposta de um acordo de delação premiada entregue ao Ministério Público, o ex-diretor da 3ª Vara da Justiça Federal de Campo Grande Jedeão de Oliveira acusa o ex-chefe de espionagem clandestina.

Através de uma agência particular de “arapongas” formada por policiais federais da ativa e aposentados, o juiz autorizava, segundo a denúncia, grampos ilegais para ouvir conversas telefônicas de qualquer pessoa, suspeita ou não de envolvimento com o crime organizado. Para virar alvo, segundo Jedeão, bastava circular com um carrão, como um Porsche ou uma Ferrari.

“Para manter sua fama de herói solitário contra o crime organizado e gerar movimento de trabalho para a 3ª Vara (as grandes operações que o colocavam na mídia), ele montou uma equipe particular de arapongagem, composta por agentes da Polícia Federal que praticavam os maiores absurdos a fim de encontrar criminosos e suas atividades ilícitas”, afirma Jedeão.

Segundo o ex-braço-direito do atual candidato do PDT ao governo de Mato Grosso do Sul, para virar alvo da agência de arapongas comandada por Odilon bastava ter patrimônio visível e andar de carro de alto valor.

“Através da placa, descobria-se em nome de quem estava o veículo e aquela pessoa passava a ser investigada. Cidadãos comuns, empresários, políticos, advogados, outros juízes”, afirma Jedeão no documento, registrado em um cartório de Bauru (SP) e entregue ao Ministério Público Federal em Campo Grande.

Segundo o ex-assessor e agora réu em um processo que investiga o desvio de R$ 11 milhões da 3ª Vara Federal, a equipe de arapongas “ouvia o telefone de todo mundo”. Se a agência clandestina encontrasse algo suspeito, a escuta passava a ser feita com autorização judicial.

Barriga de aluguel – Jedeão afirma que Odilon fazia método chamado de “barriga de aluguel em escutas telefônicas”. O ofício de quebra de sigilo telefônico, assinado pelo juiz, era enviado para a operadora de telefonia, mas sem os números dos telefones a serem grampeados, que iam em anexo.

Segundo o ex-diretor, eram os agentes ou delegados da PF que inseriam os números de telefone que seriam monitorados, configurando uma investigação clandestina. Para justificar a prática questionável, Odilon alegava, segundo Jedeão, que dessa forma se evitaria o vazamento de informações sobre quem seria grampeado.

Jedeão de Oliveira, que é primo distante do juiz candidato, diz que passou a desconfiar da prática do então chefe quando Odilon foi substituído pelo juiz federal Pedro Pereira dos Santos. Ao receber um pedido de escuta, o magistrado mandou o delegado explicar em detalhes o motivo da escuta e só depois deu a autorização.

Informado por Jedeão sobre a forma como Odilon agia, Pedro Pereira dos Santos teria demonstrado perplexidade. Já o delegado teria reclamado do procedimento e desabafou falando que Odilon não podia tirar férias, “pois as coisas se emperravam quando ele não estava lá”.

Caso Campina Verde – Jedeão afirma que escutas clandestinas foram usadas no Caso Campina Verde, envolvendo a cerealista de mesmo nome, com sede em Dourados, alvo de uma megaoperação da PF no início dos anos 2000.

“O magistrado [Odilon] ouviu, de forma clandestina, empresários, advogados e políticos, mesmo sem ter criado um processo para regularizar as escutas”, afirma o ex-assessor.

Segundo ele, o interesse de Odilon era colocar as mãos em políticos e principalmente no então governador da época [Zeca do PT]. “Seria a operação perfeita para grandes matérias televisivas”.

Ameaças e proteção – Jedeão de Oliveira diz que o primo juiz construiu sua imagem de “herói solitário” na luta contra o crime organizado e manteve uma farsa para usufruir da proteção armada da Polícia Federal.

Braço-direito de Odilon de Oliveira por 22 anos, Jedeão lança suspeitas até mesmo sobre as ameaças de morte contra o atual candidato do PDT. Foram essas supostas ameaças do crime organizado que tornaram o agora político conhecido em todo o país como o juiz mais ameaçado do Brasil. A única emeaça real, segundo ele, partiu da família Morel. Conversa telefôncia de Lucila Morel, acusada de tráfico de drogas, falava em eliminar o juiz.

Para Jedeão, Odilon criou um grande teatro sobre as supostas ameaças e questiona até os tiros disparados contra o hotel de trânsito do Exército em Ponta Porã, onde o juiz passava as noites no período em que trabalhou na cidade fronteiriça.

“Quem deseja matar alguém vai até vai até as dependências de um prédio militar e faz disparos a esmo? Os tiros foram disparados de um local seguro para o atirador e sem oferecer risco para a autoridade que supostamente sofreu o atentado”, afirma Jedeão.

Segundo ele, fato semelhante ocorreu com o então juiz de Umuarama (PR), Jail Benites de Azambuja, amigo de Odilon. Tiros foram disparados contra a casa de Jail, mas a investigação da Polícia Federal mostrou que o atentado foi uma armação.

“Será que o magistrado de Campo Grande compartilhou com o magistrado de Umuarama e amigo de longa data a experiência bem sucedida que teve em Ponta Porã”, questiona Jedeão.

Conforme a história de Jedeão, após ser afastado pelo Tribunal Regional da 4ª Região e se mudar para Campo Grande, Jail Barbosa continuou sendo recebido pelo juiz Odilon de Oliveira.

Em março deste ano, Jail Azambuja foi preso pela Polícia Federal em Campo Grande, acusado de tentativa de homicídio contra o atual desembargador do TRF da 4ª Região Luiz Carlos Canalli.

Odilon de Oliveira, candidato do PDT ao governo de MS (Foto: Divulgação)
Odilon de Oliveira, candidato do PDT ao governo de MS (Foto: Divulgação)

Odilon – Em nota publicada hoje no site oficial da campanha, Odilon disse que a Justiça Federal, a PF e o MPF nunca estiveram envolvidos com escutas telefônicas ilegais. “São acusações falsas contra três instituições federais feitas como mera estratégia de defesa e, também, para atender, ao mesmo tempo, interesses de adversários políticos”.

O candidato afirma que seu ex-braço-direito, sem credibilidade por ser réu confesso e nada mais tendo a perder, “procura lançar suspeitas sobre os juízes e servidores da vara e acusar, de modo criminoso, o Ministério Público Federal, a Polícia Federal e a Justiça Federal por grampos telefônicos supostamente ilegais”.

Segundo Odilon, o ex-servidor deverá responder na Justiça pelo desvio dos recursos na Vara Federal e por essas acusações falsas. “Em sua carreira na Justiça Federal, Odilon jamais sofreu processo e seu passado limpo incomoda os adversários, que veem nele um candidato forte para vencer a disputa ao governo de Mato Grosso do Sul no próximo dia 7 de outubro”, diz a nota.

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