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A greve dos caminhoneiros e a descarbonização da mobilidade

Por André Telles (*) | 06/06/2018 14:23

A falta de gasolina e o caos generalizado por conta da greve do caminhoneiros evidenciam que políticas públicas e obras de infraestrutura focadas na eletromobilidade poderiam atacar diretamente a dependência brasileira do petróleo e a emissão de CO2 na atmosfera em nossas cidades. Eis aí uma bandeira cidadã: a descarbonização da mobilidade!

A verdade é que a eletromobilidade é, seguramente, a melhor opção para corresponder a essas aspirações: a eletricidade é a mais eficiente fonte de energia, sendo três vezes melhor do que o gás, por exemplo. Para além disso, garante níveis de emissões e de ruído totalmente compatíveis com as exigências da vida nas cidades.

Um excelente exemplo em termos de infraestrutura é a Eletrovia inagurada pela empresa Copel no Paraná, pioneira no país. O eletroposto de Curitiba é o primeiro de oito unidades que serão instaladas na BR-277, garantindo recarga gratuita para carros elétricos no percurso de Paranaguá, no extremo leste do estado, a Foz do Iguaçu, no extremo oeste.

Cada eletroposto terá 50 kVA (kilovoltampere) de potência e três tipos de conectores, próprios para atender os modelos de carros elétricos ou híbridos disponíveis no Brasil. As estações serão todas de carga rápida e gratuita: levará entre meia e uma hora para carregar 80% da bateria dos carros elétricos. O projeto tem parceria da Itaipu Binacional e foi demonstrado durante o Smart City Expo Curitiba 2018, evento com a chancela da FIRA Barcelona e do iCities.

Durante o evento, ficaram claras as aspirações da sociedade quanto a cidades mais sustentáveis e fontes alternativas e limpas de energia. Vários profissionais especializados da indústria automobilística e de energia ressaltaram a importância da discussão e implementação no Brasil de questões como:

- Frotas de ônibus elétricos;

- Compartilhamento de veículos elétricos;

- Infraestrutura de recarga;

- Licitação de frotas baseada em eficiência energética;

- Níveis de emissão como critério para incentivos fiscais.

Ainda sobre o incentivo à formas de mobilidade não dependentes do carbono e ao alcance de todo cidadão, temos a mobilidade ativa, em especial a ciclomobilidade. Ao atacar a esfera da infraestrutura urbana, morosa e burocrática, o conceito de smart transport afetou o mercado de bikes, direcionando seus esforços e criatividade para a solução de problemas.

O barateamento de bicicletas com tração elétrica de apoio, assim como a multiplicação e facilitação de kits para conversão de bicicletas em veículos “híbridos” – entre a tração humana e a elétrica –, criou espaço para que o relevo e a topografia deixassem de ser obstáculos à inserção da bicicleta no mapa da mobilidade urbana.

Em termos de rendimento, sustentabilidade e autonomia, muitos dos modelos hoje sendo propostos, tanto de car sharing como alguns sistemas de “renting” (espécie de mistura entre aluguel e leasing), envolvem carros híbridos ou elétricos e bicicletas. A tendência já atinge algumas cidades mais modernas da Europa e deve ganhar escala mundial nos próximos anos.

Fato é que precisamos trabalhar a favor da descarbonização da mobilidade no Brasil e a greve dos caminhoneiros está prestando um grande serviço ao expor esta necessidade.

(*) André Telles é publicitário e professor da FGV e PUC-PR. Autor de quatro livros sobre inovação. Co-fundador e Diretor de Marketing do iCities, empresa de projetos e soluções para cidades inteligentes, responsável no Brasil pelo Smart City Expo Curitiba, edição brasileira da FIRA Barcelona, maior congresso do mundo do tema de Cidades Inteligentes.

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