A inflação galopa: quem se importa?
No ano de 2019, a inflação acumulada medida pelo IPCA (IBGE) foi de 4,31%. Este é o índice considerado no Sistema de Metas de Inflação brasileiro. Neste ano, a meta de inflação era de 4,25%, mas com a tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo. Porém, em 2019 já houve um alerta: o IGP-M (FGV) atingiu 7,32%.
Em 2020, o IPCA acumulou aumento de 4,52%. Neste ano, a meta era de 4,00%, novamente com tolerância 1,5 ponto percentual. Assim, o intervalo da meta era de 2,50% a 5,50%. O IGP-M, por sua vez, atingiu os estratosféricos 23,14% no ano de 2020. Os impactos sobre inúmeros contratos de aluguéis foram igualmente astronômicos.
De janeiro a julho de 2021 o IPCA já atingiu 8,99%. Como a meta da inflação é de 3,75% para este ano, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual, já estamos muito acima dela! Ou seja, em apenas 7 meses do ano, superamos o limite superior da meta de inflação. E o IGP-M? Nesses mesmos 7 meses já acumulou um aumento de 15,99%.
Não por acaso, neste contexto de alta da inflação e de elevado índice de desemprego, a renda do brasileiro caiu. Neste sentido, a inflação nos alcançou no pior momento. Em parte, é claro, isso se deve à pandemia da covid-19: um choque exógeno para o qual não há solução perfeita. Porém, havia medidas a serem tomadas, desde o endosso ao uso de máscaras, quanto à compra de vacinas, uma vez que elas se tornassem disponíveis. E se tornaram, e foram oferecidas ao governo federal que deu de ombros por um longo período.
De todo modo, mesmo abstraindo essa discussão, questiona-se: com o que o governo está preocupado? Não parece ser com a galopante inflação! E, nos poucos momentos em que se importa, toma a rota equivocada intervencionista. Foi isto que ocorreu na Petrobrás no início de 2021, acarretando uma queda acentuada no valor das ações desta empresa naquele momento.
Com o que o governo federal se importa? Com a narrativa de que ele está impedido de governar. No entanto, ocorre que o governo federal demanda uma liberdade que o Estado Democrático e de Direito não dá, a de desrespeitar às instituições. Isso, inclusive, gera um ambiente de incerteza que desestimula os investimentos e prejudica o desempenho da economia. Mais, desvaloriza o Real, impulsionando a inflação.
O que o país necessita é justamente de um governo que governe, tendo em vista as necessidades evidentes e legítimas da população. Lembrando, são justamente os mais pobres que mais sofrem com o desemprego e com a inflação. Esses também, são os que mais sofreram e sofrem com a pandemia da covid-19, cujos efeitos teriam sido minimizados se houvesse agilidade na contratação de vacinas. Parece que a inflação só preocupa a população!
(*) Fabio Augusto Reis Gomes é professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP) da USP.