SUS começa a oferecer vacina contra o vírus sincicial respiratório
Se você é gestante ou conhece alguém que está esperando um bebê, essa notícia é para você. O Ministério da Saúde iniciou em dezembro de 2025 a distribuição da vacina contra o vírus sincicial respiratório (VSR) para toda a rede pública de saúde. É uma conquista que vai proteger os mais vulneráveis: os recém-nascidos.
O VSR é um daqueles vilões silenciosos. A maioria das pessoas nunca ouviu falar dele, mas ele está por trás de boa parte das internações de bebês em UTIs pediátricas durante o outono e inverno.
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Afinal, o que é o VSR?
O vírus sincicial respiratório é o principal causador de infecções respiratórias graves em crianças pequenas. Nos adultos, costuma provocar sintomas parecidos com um resfriado comum. Mas nos bebês — especialmente nos primeiros meses de vida — a história é bem diferente.
Em crianças menores de 2 anos, o VSR é responsável por aproximadamente 80% dos casos de bronquiolite e 60% das pneumonias. A bronquiolite é uma inflamação dos bronquíolos, aquelas pequenas ramificações que levam o ar até os pulmões. Quando elas ficam inflamadas e cheias de muco, o bebê tem dificuldade para respirar.
Os sintomas começam sutis: coriza, tosse leve, febre baixa. Mas podem evoluir rapidamente para chiado no peito, respiração acelerada, dificuldade para mamar e, nos casos mais graves, necessidade de oxigênio e internação hospitalar.
Os números que justificam a vacina
Os dados de 2025 são eloquentes. Até novembro, o Brasil registrou mais de 43 mil casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave causados pelo VSR. Desses, 82,5% ocorreram em crianças menores de 2 anos — mais de 35 mil hospitalizações.
Pense nisso: a cada cinco crianças infectadas pelo VSR, uma precisa de atendimento médico. E uma em cada 50 acaba internada no primeiro ano de vida. Não estamos falando de um vírus raro ou exótico. Estamos falando de um problema de saúde pública que lota enfermarias pediátricas todos os anos.
A boa notícia é que agora temos uma ferramenta poderosa para mudar esse cenário.
Como a vacina funciona?
A vacina contra o VSR oferecida no SUS é aplicada na gestante. Parece estranho? Na verdade, é genial. O sistema imunológico da mãe produz anticorpos após a vacinação, e esses anticorpos atravessam a placenta, chegando ao bebê ainda durante a gravidez.
Quando o recém-nascido vem ao mundo, ele já está protegido. É como se a mãe transferisse um escudo invisível para o filho — justamente no período em que ele mais precisa, os primeiros meses de vida.
Os estudos clínicos mostram resultados impressionantes: eficácia de cerca de 82% contra formas graves da doença nos primeiros 90 dias de vida, e aproximadamente 70% de proteção contra hospitalizações até os 6 meses de idade.
Quem deve tomar a vacina?
A indicação é clara e objetiva: todas as gestantes a partir da 28ª semana de gravidez.
Não há restrição de idade materna. A recomendação é aplicar uma dose única em cada gestação. Isso significa que, se você já tomou a vacina em uma gravidez anterior, deve receber novamente em uma nova gestação para garantir a proteção do próximo bebê.
A vacina pode ser aplicada junto com outras vacinas do calendário da gestante, como influenza e covid-19, no mesmo dia e sem problemas.
Onde tomar?
A vacina está disponível gratuitamente nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) de todo o país. O primeiro lote, com 673 mil doses, já foi distribuído aos estados em dezembro de 2025. Até o final do ano, serão 1,8 milhão de doses disponíveis.
A orientação do Ministério da Saúde é que as equipes de saúde verifiquem e atualizem a caderneta de vacinação das gestantes durante o pré-natal. Então, na sua próxima consulta, pergunte sobre a vacina contra o VSR.
É segura?
Sim. A vacina passou por estudos rigorosos antes de ser aprovada pela Anvisa e incorporada ao SUS. Os efeitos colaterais mais comuns são leves e passageiros: dor no local da aplicação, cansaço, dor de cabeça e dor muscular — os mesmos que podem ocorrer com outras vacinas.
A principal contraindicação é alergia grave a algum componente da fórmula, situação extremamente rara.
E para os idosos?
Vale esclarecer: a vacina contra o VSR também é indicada para pessoas a partir dos 60 anos, especialmente aquelas com doenças crônicas como problemas cardíacos, pulmonares, diabetes ou imunossupressão. Os idosos também podem desenvolver formas graves da infecção.
No entanto, no SUS, a vacina está disponível apenas para gestantes neste momento. Idosos que desejam se vacinar podem procurar clínicas particulares, onde o imunizante está disponível.
O que muda na prática?
Para as gestantes: procure sua UBS a partir da 28ª semana e solicite a vacina. Ela pode ser aplicada no mesmo dia de outras vacinas do pré-natal.
Para os profissionais de saúde: orientem as gestantes sobre a importância da vacinação e atualizem os protocolos de pré-natal para incluir a verificação do status vacinal contra VSR.
Para todos nós: entendamos que prevenir é sempre mais inteligente que remediar. A vacina tem potencial para evitar cerca de 28 mil internações por ano no Brasil. São milhares de famílias que não precisarão passar pela angústia de ver um bebê lutando para respirar em uma UTI.
Um marco para a saúde pública
A incorporação dessa vacina ao SUS representa um avanço significativo. O Brasil se junta a países como Estados Unidos, Reino Unido e Argentina na oferta de imunização materna contra o VSR.
Mais do que isso: através de uma parceria de transferência de tecnologia entre o Instituto Butantan e o laboratório produtor, o país poderá fabricar o imunizante nacionalmente, ampliando a autonomia e garantindo acesso contínuo à população.
A ciência nos entregou uma solução. O SUS está distribuindo. Agora, cabe a cada gestante, a cada profissional de saúde, a cada gestor, fazer sua parte para que essa proteção chegue a quem precisa.
Porque quando protegemos uma gestante, protegemos também o bebê que está por vir. E isso, definitivamente, é saúde pública do jeito que deveria ser.
Informação de qualidade transforma cuidado — e cuidado transforma vidas.
(*) Fernando Henrique Rocha Fontoura é médico formado pela UNIRIO, especialista em Medicina de Família e Comunidade e Clínica Médica, com pós-graduação em Cardiologia pelo Hospital Albert Einstein (SP); membro titular da Sociedade Brasileira de Clínica Médica (SBCM) e membro aspirante da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC); atua na Clínica do Pantanal, em Coxim (MS)
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