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Beba das Crônicas

Vacinação na gangorra

Por Anamélia Lorenzetti Bocca (*) | 09/06/2025 13:30

No dia 9 de junho se comemora o Dia Nacional da Imunização, visando chamar a atenção da população para a importância das vacinas. O primeiro relato bem-sucedido de uma vacina foi em 1796, por Edward Jenner. Ele percebeu que a exposição prévia a um micro-organismo atenuado conferia memória imunológica, na época baseado em um processo totalmente empírico. A partir desta constatação, muito se avançou nos estudos e aplicação das vacinas. Os resultados são irrefutáveis, com a notificação da erradicação mundial dos casos de varíola em 1980.

O período entre os anos 1980 e 1990 foi uma fase ótima no Brasil, com a estruturação do Programa Nacional de Imunizações (PNI), atualização do calendário vacinal e a inclusão de novas vacinas ofertadas no SUS, além das campanhas nacionais incentivando a população à vacinação. Como consequência, tivemos um aumento substancial de crianças vacinas e uma redução expressiva nos casos de várias doenças infecciosas, como poliomielite e sarampo.

Estes resultados promissores foram acompanhados do desenvolvimento de novas plataformas vacinais além das que já eram empregadas, que utilizavam micro-organismo mortos, atenuados ou fragmentos de proteínas, estimulando uma resposta humoral protetora. Porém a disponibilidade destas novas plataformas demorou e grande parte da população desconhecia o que estava sendo desenvolvido nas bancadas dos laboratórios.

No início deste século, a Organização Mundial de Saúde (OMS) propôs oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (MDG), sendo que um deles era combater doenças infecciosas que apresentavam altos índices de mortalidade e morbidade e que não podiam ser prevenidas pelas vacinas disponíveis. Com a epidemia do Ebola, em 2014, foi possível disponibilizar a primeira destas novas plataformas, utilizando um vírus como carreador das proteínas, conhecido como adenovírus. Esta mesma plataforma foi utilizada também 2020, como uma das opções de imunização durante a pandemia da covid-19.

A pandemia da covid-19 também permitiu que utilizássemos outras plataformas, como mRNA da proteína Spike. Em 2021, também foi disponibilizada a primeira vacina contra a malária para crianças de áreas endêmicas. O que deveria ser um momento de exaltação, pela disponibilidade de soluções inovadoras, se tornou um palco para debates fervorosos e infrutíferos sobre a segurança das vacinas, sua eficácia e seu processo de desenvolvimento.

Toda esta discussão refletiu o comportamento da população brasileira, que tem aderido cada vez menos às campanhas de vacinação. Nos últimos anos, o número de crianças que receberam a vacina tríplice viral caiu expressivamente, propiciando o surgimento de focos de casos de sarampo.

Infelizmente, quando a incidência de uma doença reduz, a procura pela vacina também reduz, até que um novo surto aconteça e as pessoas retornem aos postos de saúde para vacinarem seus filhos. O processo de vacinação não deve ser guiado medo de contrair uma doença, mas pela adesão as evidências clínicas e científicas. Precisamos levantar nossos olhos dos grupos de Whatsapp e focar nos dados reais, que são claros quanto aos benefícios que a vacinação em massa traz à saúde pública. Apesar de toda controvérsia, hoje é um dia a ser celebrado.

(*) Anamélia Lorenzetti Bocca, professora no Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Brasília

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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