De MS, estudante fala sobre tensão com reforma migratória na Argentina
Elas foram anunciadas ontem (14) e afetam não só o acesso dos estrangeiros às universidades

Há três anos estudando Medicina na Argentina, Daniel Monteiro, 27, é um dos imigrantes brasileiros que acompanham de perto as repercussões da reforma migratória que o presidente Javier Milei anunciou às vésperas de eleições regionais para deputados marcadas neste domingo (18) em Buenos Aires.
RESUMO
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Daniel Monteiro, estudante brasileiro de Medicina na Argentina, expressa preocupação com a reforma migratória proposta pelo presidente Javier Milei, que pode impactar imigrantes, especialmente no que diz respeito à cobrança de taxas para estrangeiros nas universidades. Com 20 mil brasileiros estudando no país, a medida gera tensão entre alunos de diversas nacionalidades. Além da taxa educacional, a reforma inclui restrições no sistema de saúde e deportações de estrangeiros condenados. Daniel observa um aumento da xenofobia, especialmente contra imigrantes com características não europeias, e critica a ideologia nacionalista de Milei, que, segundo ele, contrasta com a cultura acolhedora da maioria dos argentinos.
Ele deixou a família em Campo Grande e o curso de Direito na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) ainda durante a pandemia de Covid-19 para estudar na universidade particular de Buenos Aires onde pretende se formar médico.
Um dos pontos centrais da reforma, detalhada ontem (15) na Casa Rosada, poderá impactar pessoas como Daniel, além de outros alunos de nacionalidades não argentinas.
É sobre a cobrança de uma taxa para que estrangeiros possam estudar nas universidades do país latino-americano. A princípio, as instituições terão a opção de cobrar ou não.
“Causa tensão principalmente entre os imigrantes sul-americanos, que são muitos aqui. Tem alunos equatorianos, bolivianos, venezuelanos e muitos brasileiros”, contou Daniel.
Levantamento preliminar da Embaixada Brasileira na Argentina estima que 20 mil brasileiros estudam naquele país, sendo que 60% cursam Medicina em universidades públicas.
Mensalidades mais baixas que as das universidades brasileiras e a qualidade de um ensino com certificação internacional atraem quem vem de fora. "Muitos acabam atuando em locais com deficiência de médicos argentinos, então, a presença dos estrangeiros nos cursos de Medicina é positiva aqui", acrescenta o estudante.
Independentes - Apesar de não estar tranquilo com o anúncio da reforma, o brasileiro aposta na autonomia das universidades, que já se opuseram a mudanças no mesmo sentido.

“As instituições podem tomar decisões de forma independente do governo. Teve uma outra tentativa de fazer essa cobrança no início do governo, mas as universidades não aderiram”, lembra.
Ele se prepara para conciliar os estudos com pesquisa vinculada à Embaixada de Buenos Aires. O tema será justamente as necessidades e falhas das políticas educacionais para imigrantes no país.
O trabalho deve começar no segundo semestre deste ano, quando ocorrerão as eleições para o Congresso argentino. “Será um momento importante politicamente para Milei medir sua popularidade. Será intenso”, prevê.
Outras políticas - A reforma que mira a imigração também prevê cobrança para ser atendido no sistema público de saúde da Argentina. Isso é outra coisa que preocupa Daniel.
Como estudante de Medicina, ele já enxerga uma crise no financiamento da Saúde. “É um país em crise econômica, com a Saúde e a Educação sendo subfinanciadas pelo governo. Tudo o que está acontecendo não é porque os estrangeiros estão quebrando o país. A reforma e as declarações anti-imigração são, na verdade, uma cortina de fumaça para esconder a verdadeira origem dos problemas”, opina.
As demais mudanças incluem:
- Rejeitar a entrada de pessoas condenadas na Justiça por qualquer crime;
- Deportar estrangeiros condenados por qualquer crime;
- Não aceitar pessoas que fazem declarações falsas ao entrar na Argentina;
- Maior burocracia e requisitos para obter visto de residência permanente e cidadania;
- Vetar a cidadania argentina aos que permanecerem irregulares;
- Exigir seguro médico para turistas antes de entrarem no país.
"Isso dá medo porque se assemelha um pouco com o que aconteceu nos Estados Unidos. Até que ponto um delito penal vai ser suficiente para deportar uma pessoa? Aqui está tendo muitos protestos e às vezes podem até me confundir com alguém e eu ser preso. Configura como um delito penal e pode ser passível de deportação", complementa.
Xenofobia crescente - Daniel reconhece que ser um homem branco, alto e com características físicas próximas dos portenhos acaba funcionando como um escudo para ele não sofrer preconceito como imigrante.
Porém, o brasileiro confirma que pessoas com traços indígenas ou com pele negra, além de mulheres, sofrem bastante xenofobia. Ele tem se deparado com algumas histórias de amigos e posts nada simpáticos aos imigrantes quando abre as redes sociais.
"Tinha brasileiras na rua e uma argentina gritou: 'agora vocês vão ver, vai acabar a mamata'. Vemos posts assim nas redes sociais também", relata.
Quando chegou, o estudante confirmou que povo argentino é majoritariamente simpático e acolhedor com quem vem de fora. Mas ele percebe que a ideologia nacionalista de Milei, à moda de Donald Trump nos Estados Unidos, acaba pegando algumas pessoas.
"São em geral pessoas muito amorosas, que tratam muito bem o imigrante, mas os casos de xenofobia mostram que existem microtensões. As políticas anti-imigração não fazem sentido nessa cultura e nem na América. Estamos num contexto diferente da Europa", finaliza.
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