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Cidades

Desespero leva pacientes com covid se endividarem com hospitais particulares

Para tratar a doença na rede privada, pacientes precisam desembolsar mais de R$ 30 mil

Jhefferson Gamarra | 23/03/2021 13:49
Valores com internações particulares está muito distante da realidde financeira da maioria da população (Foto: Kísie Ainoã/Arquivo)
Valores com internações particulares está muito distante da realidde financeira da maioria da população (Foto: Kísie Ainoã/Arquivo)

Sem leitos públicos disponíveis em Campo Grande já há semanas, pacientes diagnosticados com covid-19 tiveram de recorrer a hospitais particulares para receber atendimento, mas sem plano de saúde, acabaram endividados.

Dois moradores da Capital, procuraram unidades básicas de saúde, mas sem estrutura para internação e realização de exames, recorreram ao serviço particular.

Com sintomas característicos do coronavírus, Nairton Joaquim da Silva, de 56 anos, considerou prudente checar seu estado de saúde em uma unidade básica de atendimento pública do bairro Aero Rancho, onde foi diagnosticado com dengue. Como os sintomas persistiram e com receios de estar com o vírus, a família o convenceu a buscar atendimento em um hospital privado.

“Fui procurar tratamento no posto de saúde do Aero Rancho, fui diagnosticado com dengue mas na realidade era covid. Então minha esposa e meu genro, me levaram na Cassems para uma consulta particular, pois eu só piorava. Prontamente fui encaminhado para um leito de CTI”, conta Nairton.

O paciente deu entrada na rede particular em um domingo e permaneceu até a noite de terça-feira. Em seguida foi transferido para dar seguimento no tratamento no Hospital Regional. Mesmo permanecendo apenas dois dias, o valor pela internação ficou em R$ 30 mil reais, cobrados à vista. “Foram cobrados diárias, intubação, fora as medicações aplicadas diariamente. Tudo muito caro”, ressalta.

Apesar do alto valor investido, Nairton afirma que o procedimento salvou sua vida. “Se eu não tivesse procurado atendimento na rede privada talvez viria a óbito, infelizmente os atendimentos nos postos de saúde estão precários, no posto não fizeram exames de pulmão e tomografia", diz.

Nairton cita como exemplo a situação do irmão, que com 50 anos e sem comorbidades também não possuía plano de saúde, porém não teve o mesmo privilegio e morreu de covid logo após o irmão receber alta hospitalar.

“Perdi meu irmão por covid depois da minha alta, ele foi ao posto de saúde do bairro Universitário onde ficou sem tratamento nenhum. Quando foi transferido para o Hospital Regional, já era tarde”, lamenta.

Quem viveu o mesmo drama foi a moradora do bairro Nova Lima, Ana Maria Faustino, 52 anos, que após procurar tratamento em uma unidade básica de saúde da região, foi encaminhada para a UPA Coronel Antonino com diagnostico de covid, como não conseguiu vaga para internação na rede pública a alternativa foi buscar o serviço particular.

“Passei a semana inteira indo no posto, depois que eu consegui atendimento me encaminharam para ser internada no Coronel Antonino. Chegando lá não tinha nem onde sentar, tive que ficar no carro deitada porque eu não estava aguentando. A única saída foi procurar atendimento particular, meu marido me levou para o hospital da Cassems e logo fui internada”, afirma.

Após 11 dias internada, Ana Maria acreditava que conseguiria arcar com os custos do tratamento com a ajuda da família, imaginando que o tratamento ficaria em torno de R$ 7 mil. Porém ao receber a fatura do hospital, a paciente se deparou com uma dívida de R$ 37 mil.

“No ato da internação meu marido pagou mil reais, parcelado em três vezes no cartão. Achamos que não ia fugir do controle, que seria no máximo 6 ou 7 mil reais, mas ficou um total de 37 mil. Segundo o hospital ficou muito caro porque usei a UTI por uma semana. Enquanto eu estava internada minha filha até tentou com a defensoria me transferir para o SUS, mas como não tinha leitos públicos ele indeferiram”, relata.

A paciente que agora se recupera em casa fazendo fisioterapia, tenta na justiça um acordo para pagar a dívida com o hospital.

“Apesar da dívida, valeu a pena o atendimento que salvou minha vida. Mesmo sabendo que eu não teria como pagar o tratamento fui muito bem atendida pelo hospital. Mas como não tenho como pagar o valor total da internação estou tentando na justiça um acordo”.

Enquanto aguarda a decisão judicial, a paciente está fazendo uma vaquinha entre os familiares e rifando uma bicicleta doada pela igreja. O valor da rifa é de R$ 50 e pode ser adquirida através do link: https://rifa.link/11pu

As redes privadas de saúde de Campo Grande não divulgam valores de internação particular. Todas alegam que cada caso tem suas particularidades e gastos específicos dependendo do histórico médico do paciente. Segundo a Cassems, os valores seguem tabelas nacionais.

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