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Diversão

Eventos em Corumbá resgatam a memória e o legado de Jorapimo

Com estilo único e olhar crítico sobre questões sociais, foi mais reconhecido fora do que em sua terra natal

Por Silvio de Andrade | 20/11/2025 08:36
Eventos em Corumbá resgatam a memória e o legado de Jorapimo
Jorapimo era um artista amargurado com a falta de apoio à cultura pantaneira. (Foto: Silvio de Andrade)

Artista da vida pantaneira com um olhar crítico do cotidiano, retratando com sua pintura impressionista de colorido vibrante e golpes de espátula a rotina do peão, as belíssimas paisagens do bioma, a luminosidade do Rio Paraguai, o Casario do Porto, os pescadores, os peixes, as lavadeiras e o canoeiro, o corumbaense Jorapimo (José Romão Pinto de Moraes) morreu em 2009 sem alcançar o reconhecimento de sua obra magnífica.

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O artista plástico Jorapimo, falecido em 2009, está sendo homenageado em Corumbá com exposição e eventos que resgatam seu legado artístico. Conhecido por retratar a vida pantaneira com pinturas impressionistas de cores vibrantes, o artista deixou uma obra significativa que inclui paisagens do Pantanal e cenas do cotidiano regional. A exposição, aberta até 7 de dezembro na Casa A, reúne 24 obras do artista e conta com vídeos de entrevistas. Jorapimo foi um dos pioneiros da pintura moderna no antigo Mato Grosso, tendo participado de mostras internacionais e deixado trabalhos no acervo do Museu de Arte Contemporânea (MARCO).

Faleceu no dia 22 de novembro, a dois dias de completar 72 anos de idade, desempregado, após perder o cargo que ocupava na Fundação de Cultura de sua cidade, onde, por décadas, manteve um forte vínculo com o movimento das artes, sempre cobrando mais apoio aos artistas, com as questões sociais e o abandono do patrimônio histórico do Porto Geral, presentes em suas telas. Sentia-se amargurado com o descaso à cultura e, de vida simples, foi um sobrevivente do desprezo.

Passados 16 anos de sua morte, um sentimento de resgate do legado que deixou aflora na sua cidade natal envolvendo um pequeno grupo de pessoas, manifestação vista como um despertar para o merecido reconhecimento com iniciativas que levarão sua obra às escolas. Jorapimo foi tema de um descontraído e emocionante bate-papo entre familiares, amigos e apreciadores de sua arte, na quarta-feira, e ganhou uma exposição, que segue aberta até 7 de dezembro.

Eventos em Corumbá resgatam a memória e o legado de Jorapimo
Bate-papo sobre a trajetória do artista reuniu familiares, amigos e colecionadores de sua obra. (Foto: Silvio de Andrade)

Público prestigia — o encontro foi realizado na Casa A, um novo espaço de boa comida e de cultura ocupando um casarão da década de 1880, restaurado na Manoel Cavassa, 127, no porto. A ideia nasceu da empresária Mônica Magalhães Kassar, logo ganhou a adesão da única filha do artista, Simone, e de um dos seus mais próximos amigos, o doutor em educação Gilberto Luiz Alves, que foi professor no campus da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), em Corumbá.

“Nossa casa é um ambiente que resgata a memória da cidade e valoriza o artista local, nem sempre reconhecido. A obra do Jorapimo precisa ser difundida e conhecida, principalmente pelos jovens. Então, planejamos esse evento, e foi um sucesso graças ao trabalho de equipe, com engajamento de todos”, disse Mônica, entusiasmada com a presença do público. “Já realizamos outras exposições aqui, e esta do Jorapimo será a terceira.”

Depois dos estudos em Campinas, onde morou em uma pensão de uma tia do pintor Cândido Portinari — fato revelado em sua autobiografia rabiscada em cadernos encontrados pela filha —, a trajetória do autodidata corumbaense iniciou-se na década de 1950, sendo um dos introdutores da pintura moderna no então Mato Grosso. Também produziu esculturas, estampas em bolsas, desenhos em cartões e até caixinhas de fósforo estilizadas, ilustrações para jornais, histórias em quadrinhos, e dedicou parte da vida ao ensino de arte.

Eventos em Corumbá resgatam a memória e o legado de Jorapimo
Lavadeiras na beira do rio, um dos quadros característicos de sua obra, em exposição. (Foto: Reprodução)

Rompe um ciclo - Participou de mostras na Bolívia, Argentina, Japão e Alemanha e em vários estados. Possui obras no acervo do Museu de Arte Contemporânea (MARCO). Na primeira exposição de artes de Mato Grosso, organizada por Aline Figueiredo, foi um dos artistas premiados. O ofício de artista plástico era exercido atrás das grades de uma cadeia pública desativada nos anos 70, que passou a se chamar Casa do Artesão. As celas, preservadas, foram tomadas por ateliês e lojas de artesanatos. Ele ocupava a cela número um.

Para Gilberto Luiz Alves, Jorapimo rompeu com um ciclo artístico sob a temática de paisagens europeias e natureza morta predominante em Corumbá, exercido pelos espanhóis Antonio Burgos e Miguel Perez, ao retratar conflitos sociais e os mesmos personagens humildes encarnados nas obras do escritor Lobivar Matos, outro corumbaense de reconhecida grandeza no campo literário, na década de 1930, e modernista desconhecido após morte precoce.

A mesa-redonda em um dos salões da Casa A abriu a programação especial em homenagem ao artista, que faria aniversário no próximo dia 24. Parentes, ativistas culturais, artistas e colecionadores participaram da conversa, que reuniu lembranças de infância contadas pela filha, entre emoções e aplausos, e depoimentos sobre a sua obra e seu amor a Corumbá e ao Pantanal.

“Ele passava a vida para a tela”, resume Simone, 57, produtora têxtil em Campo Grande.

Eventos em Corumbá resgatam a memória e o legado de Jorapimo
Mônica Kassar, Simone Moraes e Gilberto Luiz Alves, idealizadores da homenagerm. (Foto: Silvio de Andrade)

O acervo que compõe a exposição, com 24 obras, reforça a presença e as pinceladas de Jorapimo na memória e em diversas residências corumbaenses que cederam as telas. O público também poderá acompanhar uma mostra de vídeos com entrevistas concedidas por ele ao longo de sua carreira. Durante a exposição (aberta de quarta-feira a sábado, das 16h às 21h, e domingos, das 9h às 13h), estarão disponíveis para compra cartões originais e sacolas de algodão estampadas com suas obras.