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Cidades

Grupo de Cezário tinha “cashback” e recebia 20% de patrocínio de clubes, diz réu

Em interrogatório, ainda na fase investigatória, ex-dirigente contou como funcionava “devolução” de valores

Por Anahi Zurutuza | 10/06/2024 21:13
Franciso Cezário ao lado de Miro em publicaçãpo feita pela Federação de Futebol (Foto: FFMS/Divulgação)
Franciso Cezário ao lado de Miro em publicaçãpo feita pela Federação de Futebol (Foto: FFMS/Divulgação)

Além de desviar recursos públicos destinados ao fomento do futebol, o grupo comandado por Francisco Cezário de Oliveira ganhava percentual em cima dos patrocínios privados dos clubes de Mato Grosso do Sul. A revelação foi feita por Jamiro Rodrigues de Oliveira, ex-dirigente de clube e agora réu em ação penal derivada da Operação Cartão Vermelho.

Em depoimento ao Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado), “Miro”, que já foi presidente do Misto, de Três Lagoas, afirmou que 20% dos valores obtidos de patrocinadores intermediados pela Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul tinha de ser “devolvidos”.

“Quando consegue algum patrocínio para o clube, a pessoa que consegue o patrocínio recebe uma porcentagem do valor. (...) A média geral [do valor recebido] é de 20%, muitas vezes o clube é pequeno, o patrocínio é pequeno, aí os caras chegam num acordo aí 10%, 15%, depende do acordo que for feito clube e patrocinador (...)”, afirmou, conforme trecho do interrogatório trazido na denúncia.

O então investigado afirmou ainda que o “cashback” era pago em dinheiro vivo. “Quando o dinheiro entra na conta do clube, o clube saca o dinheiro e passa em dinheiro”, explicou.

Miro deixou o comando do Misto em 2016. Atualmente, ele era diretor de Patrimônio da FFMS, segundo publicação no site da entidade de fevereiro deste ano.

Alvo de mandado de busca e apreensão no dia 21 de maio, quando foi deflagrada a Operação Cartão Vermelho, foram apreendidos com ele R$ 25 mil em espécie, embora o ex-dirigente declare renda mensal formal de 1 salário mínimo.

Cartão Vermelho - Este é mais um dentre os tantos outros detalhes de esquema que perdurou por décadas com a FFMS sobre o comando de Cezário, segundo o Gaeco. Nas 253 páginas às quais o Campo Grande News teve acesso, a investigação mostra como o dinheiro público deixava os cofres da entidade sem ser investidon no futebol sul-mato-grossense – através de “bem bolado” com hotéis e restaurantes, fazendo pagamentos com a conta da federação, pulverizando recursos por meio de depósitos para familiares do “dono da bola” ou por inúmeros saques de menos de R$ 5 mil, para não alerta os órgãos de controle.

Para os promotores Gerson Eduardo de Araújo, Tiago Di Giulio Freire, Moisés Casarotto e Antenor Ferreira de Rezende Neto, que assinam a peça, “o prejuízo causado à Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul é muito maior que o inicialmente apontado, ultrapassando com facilidade os R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais)”.

No dia 4 de junho, o Gaeco ofereceu denúncia contra Cezário e outros 11 homens acusados de integrar organização criminosa para desviar dinheiro do esporte. O Gaeco quer ver o presidente afastado da FFMS punido por 5 crimes – liderar organização criminosa, peculato (desvio de dinheiro ou bem público), furto qualificado, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro.

Na sexta-feira passada, o juiz Marcio Alexandre Wust, da 6ª Vara Criminal de Campo Grande, tornou réus os 12 indiciados. O recebimento da denúncia dá o start para a fase chamada de instrução da ação penal, quando provas são juntadas, testemunhas ouvidas e réus interrogados, para que depois magistrado decida se condena ou não os acusados pelos crimes imputados a eles.

Outro lado – André Borges, o advogado de Cezário, informou que só comentará o conteúdo da denúncia depois que o cliente for notificado formalmente. A maioria dos demais citados também não se defendeu publicamente ainda. O espaço segue aberto para futuras manifestações.

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