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Cidades

Lista de jurados de morte fala sobre pular Carnaval, alega filho de major

O pai, Gilberto Luiz, foi citado pelo Gaeco como mentor de plano de assassinatos para domínio do jogo do bicho

Por Lucia Morel | 05/03/2024 08:39
Lista apreendida em casa de ex-assessor de Neno Razuk, major Gilberto Luiz. (Foto: Reprodução)
Lista apreendida em casa de ex-assessor de Neno Razuk, major Gilberto Luiz. (Foto: Reprodução)

“Olha, me desculpe, mas achei até engraçado quando li. Tiraram sarro da gente num grupo de amigos porque falaram que a gente ia morrer”. A declaração dada ao risos é de Joel Jordani, 38, mecânico e morador de Ponta Porã,  que diz ser amigo do suposto rival, o major reformado da Polícia Militar, Gilberto Luiz dos Santos. O PM é, réu em processo que o acusa de gerenciar organização criminosa para tomar do grupo MTS, o controle do jogo do bicho em Campo Grande.

Uma das alegações do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) é que Gilberto elaborou um plano para matar, pelo menos, 4 desafetos. A "senha" usada para falar sobre as execuções seria "pular", o que para a família do major é um grande equívoco, porque a intenção era de falar sobre o Carnaval.

Wanderson Luiz Ferreira dos Santos, 38 anos, advogado e filho de Gilberto, levou semanas para procurar o Campo Grande News. Mas na tarde de ontem saiu em defesa do pai e do irmão, Júlio César Ferreira dos Santos, ambos presos atualmente, em decorrência das investigações do Gaeco em relação à Operação Successione.

Conforme o advogado, as informações repassadas à reportagem são para tentar desvencilhar um fato classificado por ele como “mentiroso” da figura de seu pai e tentar esclarecer um pouco a história.

Segundo Wanderson, a ideia é esclarecer ao menos alguns pontos da investigação do Gaeco, que ele considera como “perdido” em meio aos dados que foram coletados. O advogado afirma que toda a investigação, bem como as prisões, devem ser decorrentes de alguma briga política.

Segundo o Gaeco, existia um plano para matar desafetos e dominar o esquema. As supostas provas estão em anotação de nomes que seriam de pessoas marcadas para morrer. Wanderson explica que “essa anotação é de um caderno do meu irmão, de uns seis, sete anos atrás, sobre amigos que iam pular Carnaval com a gente em Ponta Porã”, afirmou.

Ele dá detalhes do caderno onde a lista, escrita com a letra de Júlio, foi encontrada: tinha capa dos Minions, personagens que servem ao personagem principal do filme “Meu Malvado Favorito”, e em outras páginas ainda havia anotações de jogos de bozó e até itens de compra em supermercado.

Wanderson, explicando sobre a lista de quem ia "pular". (Foto: Alex Machado)
Wanderson, explicando sobre a lista de quem ia "pular". (Foto: Alex Machado)

Ele indicou 3 nomes escritos pelo irmão: "O nome número 1 é Betinho Alvarenga, o nome número 2 é Joel Jordani e o nome número 3 é Déa Darolde. São todos meus amigos", afirmou.

Procurado pelo Campo Grande News, dois deles confirmaram a versão.

Joel diz não se lembrar do ano exato do Carnaval em que se passou com Wanderson, Júlio, Betinho e Déa, mas garante que sabe que foi em alguma pantaneta ou micareta comum em anos anteriores na cidade de Ponta Porã. “Não lembro nem o nome do bloco. Só sei que quando me mostraram a lista, na hora eu lembrei do que se tratava, e ri”, afirmou. Ele disse ainda não ter fotos daquele Carnaval.

Carlos Alberto Facco Rossato, 39, chamado de Betinho, [e dono de uma conveniência na cidade fronteiriça. Por telefone, ele afirma que sim, é seu nome que aparece na lista dos supostos assassinatos, mas diz que nada tem a ver com morte. “A gente era colega aqui em Ponta Porã, de quando os meninos moravam aqui e era lista para uma festa de Carnaval que a gente ia”, contou.

Ele diz que perdeu o contato mais íntimo com Wanderson e Júlio quando eles vieram morar em Campo Grande com a família, mas que há sempre um ou outro contato. “Essa lista aí deve ter uns sete, oito anos atrás. Foi uma lista de amigos que iam pular o Carnaval juntos. Tem um equívoco aí nessa investigação”, afirmou.

A reportagem perguntou a Wanderson sobre a casa no bairro Monte Castelo, onde ocorreu a primeira apreensão de máquinas de jogo do bicho e quando as investigações que deram origem à Successione começaram. Segundo ele, o irmão Júlio é trabalha com poker há mais de dez anos. "É poker, na verdade é um jogo legalizado, é outra história e nada a ver com jogo do bicho. Eu tive sorte. Sorte que eu estava viajando, porque se não eu ia estar lá jogando poker também, e ia me lascar", comentou, sustentou.

Registro de pontos em toda Capital anotados pelo major reformado, Gilberto Luiz. (Foto: Reprodução processo)
Registro de pontos em toda Capital anotados pelo major reformado, Gilberto Luiz. (Foto: Reprodução processo)

Letras diferentes – Para Wanderson, outro detalhe que não foi explorado, é que a letra que consta na lista em que aparecem os nomes Joel, Betinho e Déa, é bem diferente da que aparece em anotações da agenda de seu pai, anexada aos autos do Gaeco, em que há lista de coletores e recolhes dos pontos de jogo do bicho e de máquinas de caça-níquel em Campo Grande.

A letra do primeiro bilhete é cursiva e pequena. Já das anotações na agenda, a letra é em formato bastão de forma e inclinada. “Aquela lista aparece nas reportagens como atribuída ao meu pai, mas foi meu irmão quem escreveu, anos atrás”, sustentou.

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