Pelos Correios, droga gourmet viaja em pelúcia, fritadeira e ar-condicionado

Fazendo fronteira com a Bolívia e o Paraguai, Mato Grosso do Sul já é conhecido pelas grandes apreensões de drogas em rodovias. Mas agora, o tráfico ganhou um novo “atalho”: os Correios. É por lá que criminosos tentam despachar entorpecentes de alto valor, numa prática chamada de “tráfico de playboy” – apelido que surgiu por causa do perfil dos consumidores, geralmente com maior poder aquisitivo.

Nos seis primeiros meses de 2025, quase 190 quilos de drogas foram apreendidos nesse tipo de transporte. Os pacotes parecem comuns, mas dentro deles vão skank, haxixe, cocaína, medicamentos irregulares, armas e até celulares.

Segundo o delegado Hoffman Davila, titular da Denar (Delegacia Especializada de Repressão ao Narcotráfico), a prática tem crescido no Estado e ainda esbarra em falhas no sistema. “Às vezes o remetente não é obrigado a postar com muitos dados de identificação. Quando apresenta, muitas vezes é documento falso. Via de regra, o destinatário é o verdadeiro mesmo, quem comprou a droga”, explica.

Como funciona? - Na prática, os criminosos usam de tudo para burlar a triagem: escondem a droga em liquidificadores, garrafas térmicas, pacotes de ervas e até micro-ondas. O esquema geralmente envolve o uso de documentos falsos na hora de enviar o pacote, o que dificulta rastrear quem mandou.

Mesmo assim, só neste ano, a Guarda Civil Metropolitana já apreendeu 189,850 kg de drogas nos Correios, em parceria com a Polícia Civil e os próprios Correios.

Tráfico “gourmet” - A última grande apreensão aconteceu em 17 de julho, em Campo Grande. Um pacote suspeito levou a polícia até um casal no Residencial Ana Maria do Couto. Dentro da caixa, 284 gramas de derivados da maconha, como dry e haxixe, avaliados em cerca de R$ 100 mil.

O homem, que já tinha passagem por tráfico, foi preso em flagrante ao receber a encomenda. No endereço, os policiais descobriram um laboratório de produção de drogas.

Diferente do tráfico comum, esse modelo não depende de grandes quantidades para gerar lucro. As substâncias são mais potentes, compactas e valiosas. “O dry, por exemplo, é derivado do haxixe, feito em laboratório. Ele é colorido, pastoso, fácil de esconder e tem poder destrutivo muito maior. Quando enviado para outros estados, como São Paulo, vale o triplo do valor original”, detalha o delegado.

De Campo Grande para o mundo - Nem todo pacote tem como destino as capitais brasileiras. Algumas investigações mostraram que cocaína postada em Mato Grosso do Sul tinha como destino final países da Europa.

Segundo Hoffman, o tráfico que parece “doméstico” às vezes é só o começo de um esquema internacional. “Combater o tráfico doméstico aqui é ao tráfico internacional também. Essa cocaína que passa por aqui, muitas vezes, é tipo exportação, e quando chega em outro estado, vale o triplo do valor.”

Para enfrentar esse novo formato do crime, a Polícia Civil aposta na inteligência. “A administração superior e o governador do Estado está investindo em segurança, está investindo em pessoal e vai ter que avançar mais para que nós possamos nos unir e combater esse tráfico de drogas, mas tem sido investido sim em inteligência principalmente”, afirma o delegado.

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