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Cidades

Presa, mãe de menina assassinada participa de grupo de oração e pede perdão

Avó de garotinha morta em janeiro contou que conversou com a filha por videochamada

Jéssica Benitez | 14/04/2023 10:58
Sthepanie de Jesus está presa desde o fim de janeiro (Foto Divulgação)
Sthepanie de Jesus está presa desde o fim de janeiro (Foto Divulgação)

Quase três meses depois do fatídico dia em que viu a neta de 2 anos morta após sucessivos episódios de violência física e sexual, a professora Delziene da Silva de Jesus, 48 anos, conversou com a filha Stephanie de Jesus da Silva, 25 anos, presa desde 26 de janeiro, sob acusação de partipação no crime. Primeira audiência sobre o caso está marcada para a próxima segunda-feira (17).

Ao Campo Grande News, ela contou como foi a chamada de vídeo que durou três minutos feita diretamente da penitenciária e o porquê de ter mudado de ideia sobre a filha, já que inicialmente estava determinada a nunca mais vê-la ou ouvi-la.

A ligação ocorreu duas semanas atrás e em pouco mais de 90 segundos Stephanie pediu perdão à mãe, disse que não tinha conhecimento do que acontecia com a primogênita quando saía para trabalhar e que, para amenizar o fardo eterno de tudo que se passou, tem se apegado a Deus.

“Ela chorou o tempo todo. Começava a falar e se perdia, não concluía. Mas me contou que há um grupo de oração que vai até lá toda tarde e ela ora junto, lê a Bíblia. Também tem acompanhamento psicológico, está bem na medida do possível, lá ela não sofre ameaças”, contou. O cunho religioso foi exatamente o que a fez aceitar conversar com a filha.

Logo após a morte da neta, ela estava certa de que jamais veria a filha novamente e chegou a rejeitar a primeira tentativa de contato. “Mas eu sou cristã, né? E também estou fazendo tratamento (psicológico). Sem o sufoco que estava no começo a gente pensa melhor”, explicou. A avó de Stephanie, com quem a jovem nutria relação afetuosa, porém, ainda não conseguiu perdoá-la.

“Minha mãe não quis falar com ela. Eu fui até a casa dela, tentei, mas não quis. Ela é a que mais sofre com tudo isso. Foi um baque muito grande. Tanto que está debilitada, estava internada ainda ontem por causa da diabetes, está com água no pulmão. Juntou idade e tudo o que aconteceu, deixou ela fraca”.

Sem a presença da filha, das netas e afastada do trabalho para cuidar da saúde mental, Delziene se dedica também a ficar com a mãe que já tem 70 anos. Agora, no entanto, além de ter contato com Sthepanie, conseguiu ver novamente a neta mais nova que, hoje, prestes a completar um ano de idade, está sob tutela da avó paterna, mãe de Christian Campoçano Leitheim, que também está preso, suspeito de ser o autor das agressões que culminaram na morte da enteada.

“Todo sábado eu a vejo. Ela está bem. Não entende muito o que aconteceu. Acho que nem vai se lembrar porque fiquei dois meses sem ver ela e já quase não me reconheceu”, disse. Esta é outra página que a professora virou desde que a neta mais velha se foi.

No começo, ela queria a guarda da menina mais nova, tanto que entrou com pedido na Justiça, mas agora, vendo que as coisas começaram a se encaixar na rotina da criança, percebeu que ficar com a avó paterna talvez seja uma saída menos dolorosa à pequena.

“Ela se acostumou e lá tem o irmãozinho dela, né? Que eles sempre moraram juntos. A avó não trabalha fora, o avô é aposentado, eles têm mais tempo de cuidar dela. O importante é isso, que ela esteja bem cuidada”, concluiu. As três crianças moravam com o casal. O menino filho de Christian de um outro relacionamento, a garotinha que teve o doloroso desfecho era filha de Sthepanie com o ex-marido Jean Ocampo e a mais nova fruto da união dos dois jovens presos pelo crime.

O caso – No dia 26 de janeiro deste ano, a menina de dois anos e sete meses deu entrada na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Bairro Coronel Antonino já sem vida. Inicialmente, a mãe, que foi até lá sozinha com a garota nos braços, sustentou versão de que ela havia passado mal, mas investigação médica apontou lesões pelo corpo, além de constatar que a morte havia ocorrido cerca de quatro horas antes de chegar ao local.

A morte jogou luz sob processo lento e longo que a menina protagonizou com idas frequentes à unidade de saúde, tentativa do pai em obter a guarda após suspeita de que a criança era vítima de agressão e provocou série de audiências públicas, protestos e mobilização para criação da Casa da Criança, bem como soluções ao falho sistema de proteção à criança e ao adolescente, problema recorrente em todo o Brasil.

Todos os envolvidos devem ficar frente a frente pela primeira vez na tarde da próxima segunda-feira, quando ocorre audiência marcada em ação penal que tramita em segredo de Justiça.

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