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Capital

Advogada narra violência que enfrentou e lembra do filho para defender Stephanie

Do time que defende Stephanie, Herika Ratto também apresentou nova teoria sobre a morte de Sophia

Por Anahi Zurutuza, Ana Paula Chuva e Ana Beatriz Rodrigues | 05/12/2024 16:29

A advogada Herika Ratto, que passou a integrar “de última hora” a defesa de Stephanie de Jesus da Silva, 26, a mãe acusada de ser responsável pela morte da filha, Sophia Ocampo, por não ter protegido a criança do padrasto agressor, teve participação decisiva nesta quinta-feira (5).

RESUMO

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A defesa de Stephanie de Jesus da Silva, acusada de ser responsável pela morte da filha Sophia, apresentou uma nova teoria durante o julgamento, argumentando que a criança pode ter morrido instantaneamente após entrar no banheiro com o padrasto, Christian Campoçano Leitheim. A advogada Herika Ratto, que se juntou à defesa de forma inesperada, compartilhou sua experiência como vítima de violência doméstica e enfatizou a necessidade de compreender a dinâmica de abuso que pode levar a situações trágicas. Ela questionou a condução da investigação e destacou falhas, como a falta de aferição da temperatura do corpo da criança no momento do óbito, sugerindo que isso poderia ter mudado a narrativa do caso. A defesa busca provar que Stephanie não teve participação na morte da filha, mas sim que a tragédia ocorreu sob circunstâncias que escaparam ao seu controle.

Abrindo a argumentação da defesa da ré, ela apresentou nova teoria sobre a morte da criança, aos 2 anos e 7 meses. Mas, após a fala de Alex Viana, a defensora voltou a conversar com os jurados e fez discurso emocionado sobre as vítimas de violência doméstica, narrando que foi uma delas por nove anos e admitindo não ter protegido o filho como deveria do homem violento com quem se relacionava.

Após a pausa para a apresentação do colega Alex, Herika volta falando de campanha do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) que prega o não julgamento às vítimas de violência doméstica. Logo depois, começa a contar história retratada por Tina Turner, cantora americana símbolo do empoderamento feminino, mas que demorou 14 anos para sair de um relacionamento abusivo.

É então que a advogada começa a dar relato emocionado. “Às vezes é muito difícil falar das coisas da vida da gente, sofrimento, mas às vezes é necessário falar...”, diz com a voz embargada e revela: “Fui vítima por nove anos dessa violência”.

Herika afirma que a violência que sofreu não só a atingiu física e mentalmente, mas que ela permitiu que chegasse ao próprio filho. “E não foi uma, não foram duas e não foram três vezes”.

A defensora relata ainda que quando se deparou com o caso de Stephenie, uma mulher acusada de “matar” a filha sem ter encostado um dedo na criança – na ocasião da morte, que fique claro –, mas porque permitiu que a filha fosse agredida pelo padrasto, ela se viu nos autos daquele processo. “Hoje a Stephanie está ali com as minhas roupas”, disse, apontando para ré, e completa: “Mas, e se uma tragédia tivesse acontecido com o meu filho? Era eu sentada ali”, afirmou.

A advogada completa afirmando que levou nove anos para sair “daquele inferno”, mas que precisou ouvir as palavras exatas e ter apoio suficiente para conseguir. Diz isso, como quem diz que a cliente não teve a mesma oportunidade.

Eu me empoderei e saí do inferno que vivi, assim como a Tina Turner. Com uma mão na frente e outra atrás. Carreguei meu filho e só levei meu singelo nome, Herika Cristina dos Santos Ratto”.

Fotos de Stephanie grávida e com a filha foram exibidas em telão (Foto: Ana Beatriz Rodrigues)
Fotos de Stephanie grávida e com a filha foram exibidas em telão (Foto: Ana Beatriz Rodrigues)

Nova teoria – Outro ponto alto da argumentação de Herika Ratto foi ao final da primeira parte da apresentação, quando ele apresentou aos jurados uma nova hipótese para a morte de Sophia, isentando a cliente de qualquer participação.

A defesa de Stephanie levantou a tese de que a criança morreu quase que de forma instantânea após entrar no banheiro de casa com o padrasto Christian Campoçano Leitheim, de 27 anos, acusado de espancar a enteada até a morte, pouco antes de chegar na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Bairro Coronel Antonino, onde o óbito foi constatado no dia 26 de janeiro de 2023.

De acordo com vídeos apresentados pela advogada, Sophia não morreu pela manhã ou no início da tarde e sim ainda dentro do banheiro onde estava com o padrasto, ou logo depois de sair do local.

Nas imagens mostradas para os jurados, às 14h36 daquele dia, Stephanie foi filmada amamentando a filha mais nova enquanto a mais velha tosse aos fundos. “Houve uma falha e se não tivesse essa falha, tudo o que estou dizendo aqui não seria necessário, porque nós saberíamos a hora exata em que assassinaram essa menina. Se a autoridade policial tivesse ido até a unidade de saúde, essa mãe não estaria sendo acusada de ter permanecido horas e mais horas com o corpo da filha. A primeira foto é do corpo da Sophia coberto na UPA às 18h30, às 21h a equipe de investigação tira uma foto sem o lençol, não era nem a perícia”, pontua Herika.

A defensora ainda destaca o fato de a temperatura da menina não ter sido aferida no momento em que o óbito foi constatado e sobre a médica Tayse Capel alegar em depoimento não saber por onde a rigidez do cadáver ter começado. “Será que se tivessem medido a temperatura seria diferente? Isso é questão técnica e científica. A médica disse aqui não saber por onde começa a rigidez do cadáver, começa pela face. Em audiência, o legista afastou a rigidez como fator determinante para hora do óbito de criança”, explicou.

Na sequência, Herika alega que Stephanie disse durante seu interrogatório que no dia da morte, Sophia saiu desmaiada do banheiro e Christian pediu que ela fizesse respiração boca a boca na filha. Além disso, enquanto ela estava na unidade de saúde, o local onde a menina teria sido assassinada foi limpo e não condizia com o restante da casa.

“Estava em desalinho com os demais cômodos, indicando uma possível tentativa de alteração da cena. Quem limpou o banheiro? Foi a Stephanie que saiu correndo e ficou na UPA com a filha? Falei com médicos especialistas, o trauma foi tão intenso que essa menina morreu instantemente ou então agonizou por pouco tempo”, destacou Herika.

Por fim, a advogada mostrou imagem que mostra Stephanie chorando ao lado da filha. “Comportamento atípico? Independentemente do resultado, o mundo, o Brasil necessitava saber a verdade que essa menina não morreu nem às 13h e nem às 9h30 daquele dia”, finalizou a advogada, questionando a fala da médica que recebeu Stephanie e Sophia no dia 26.

A profissional afirma ter estranhado a reação da mãe ao saber que a filha estava morta, mas áudio daquele dia exibido pela defesa mostra Stephanie chorando, aparentemente incrédula. “Estão dizendo que a minha filha morreu faz horas”, diz.

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