ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram Campo Grande News no TikTok Campo Grande News no Youtube
AGOSTO, QUARTA  06    CAMPO GRANDE 26º

Capital

Após fraturar coluna em ônibus, diarista se revolta com pensão de apenas R$ 300

Selma perdeu saúde e emprego; Justiça condenou o Consórcio 6 anos após o acidente a pagar pensão irrisória

Por Gabi Cenciarelli | 06/08/2025 13:55
Após fraturar coluna em ônibus, diarista se revolta com pensão de apenas R$ 300
Coluna de Selma após cirurgia (Foto: Juliano Almeida)

"Eu só pensava: como é que eu vou trabalhar amanhã?". Caída no chão do ônibus, chorando de dor, a preocupação de Selma Oliveira dos Santos, de 58 anos, era justamente financeira. Naquele momento, não sabia que o ocorrido marcaria o início de uma luta de seis anos na Justiça e na saúde pública. O acidente dentro de um ônibus, em março de 2019, a caminho do trabalho como diarista, deixou uma fratura na coluna que a afastou da vida ativa, causou dores crônicas por anos e até hoje compromete sua dignidade.

RESUMO

Nossa ferramenta de IA resume a notícia para você!

Diarista fratura coluna em acidente de ônibus e luta contra pensão de R$ 300. Selma Oliveira dos Santos, 58, sofreu uma fratura na coluna em 2019, após um acidente dentro de um ônibus em Campo Grande (MS). A Justiça condenou as empresas responsáveis a pagar R$ 15 mil por danos morais e uma pensão vitalícia de R$ 300. Insatisfeita com o valor da pensão, Selma alega que a quantia não cobre os custos do tratamento, como pilates e fisioterapia, necessários para sua recuperação. A diarista, que antes trabalhava de segunda a sábado, ficou impossibilitada de exercer sua profissão e depende da aposentadoria por invalidez. Sua advogada entrará com recurso para aumentar o valor da pensão para um salário mínimo e uma indenização mais justa pelos danos sofridos.

Depois de longa tramitação judicial, a sentença saiu agora em julho de 2025: a Justiça reconheceu a responsabilidade do Consórcio Guaicurus e da Viação Campo Grande Ltda., condenando as empresas a pagar R$ 15 mil de indenização por danos morais e uma pensão vitalícia equivalente a 20% do salário mínimo, cerca de R$ 300 por mês.

Selma, no entanto, contesta a decisão. Relutante por causa da vergonha de uma mulher vaidosa, Selma topou conversar com o Campo Grande News preservando a imagem de seu rosto e, emocionada, desabafou. "Seis anos depois, depois de tudo que eu vivi, R$ 300 não paga nem o pilates que sou obrigada a fazer para conseguir levantar da cama. Isso é pouco demais", desabafa.

O acidente ocorreu quando o motorista do coletivo, trafegando por uma via em obras, teria passado em alta velocidade por uma depressão, lançando Selma contra a estrutura interna do ônibus. O impacto causou uma fratura por compressão na lombar. No vídeo registrado por outro passageiro, ela aparece caída no chão, visivelmente abalada. À reportagem, Selma relatou que, após o acidente, continuou tentando trabalhar, mas não aguentava de dor.

Ela passou anos buscando atendimento no SUS e só conseguiu operar em fevereiro de 2024, quando já não conseguia mais levantar a perna.

"Foram cinco anos de dor. Eu vivia torta, tomando remédio forte, com medo de ficar paraplégica. Se tivessem pago a cirurgia particular na época, eu não tinha sofrido tanto", diz.

A cirurgia que ela fez, uma artrodese na coluna, hoje custa cerca de R$ 150 mil na rede particular. "Antes, uma clínica chegou a cobrar R$ 40 mil. A empresa podia ter pago. Não pagou. Me deixaram sofrendo. E agora uma pensão de R$ 300?", questiona.

Após fraturar coluna em ônibus, diarista se revolta com pensão de apenas R$ 300
Selma em conversa com o Campo Grande News (Foto: Juliano Almeida)

Desde o acidente, Selma vive com limitações físicas, não pode mais trabalhar e depende de aposentadoria por invalidez, no valor de um salário mínimo. Os gastos com tratamento, no entanto, são altos. “Só a academia e o pilates já passam de R$ 300. Fora as consultas e os remédios, que vivo tentando conseguir no posto de saúde”, explica.

Mas não são só os prejuízos físicos e financeiros que abalaram a mulher que, antes mesmo da terceira idade, agora tem de conviver com a destruição de sua autoestima e estilo de vida.

Tudo mudou. Tenho vergonha de mostrar as costas com as roupas que uso. Até minha vida sexual mudou, pois por muito tempo me afastei do meu marido por sentir tanta dor. Antes disso, minha vida era excelente. Eu podia dançar, trabalhava de segunda a sábado e ganhava, em uma semana, o valor da minha aposentadoria por invalidez. Eu era uma excelente diarista.

A advogada dela, Rejane Castro, que a conhecia antes mesmo do acidente, já que Selma era diarista na casa dela, critica a decisão. “É uma sentença insatisfatória. A perícia comprovou o nexo entre o acidente e a fratura. Isso mudou completamente a vida da Selma: a saúde, a autoestima, a dignidade. R$ 15 mil de indenização e uma pensão de R$ 300 não são proporcionais à gravidade do caso.”

Após fraturar coluna em ônibus, diarista se revolta com pensão de apenas R$ 300
Diversos remédios que Selma toma para tratamento na coluna (Foto: Juliano Almeida)

Segundo Rejane, o recurso de apelação será protocolado até o dia 21 de agosto. “Vamos pedir que o valor da pensão seja corrigido para pelo menos R$ 500 e que a indenização por danos morais reflita o tamanho da perda que ela teve. Não é só a profissão, é a vida dela como um todo.”

Procurado pela reportagem, o Consórcio Guaicurus informou que ainda não foi notificado da decisão, mas que pretende recorrer da decisão.

Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais.