Atribuída à migração pós-queimadas no Pantanal, micose preocupa em Campo Grande
Gatos trazidos de Corumbá podem ter transmitido fungo a outros felinos e a humanos

A esporotricose é uma micose comum em áreas rurais que surgiu há pouco tempo em Campo Grande: os primeiros casos diagnosticados em humanos e gatos foram confirmados em 2023. Neste ano, a doença volta a preocupar.
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A esporotricose, uma micose comum em áreas rurais, preocupa Campo Grande após casos em humanos e gatos desde 2023. A doença, tratável mas potencialmente letal, é transmitida por arranhões de gatos e pode ser associada à migração de felinos devido às queimadas no Pantanal. A Secretaria Municipal de Saúde investiga um novo caso, enquanto agentes alertam a população sobre os riscos. Veterinários destacam a importância de tratar os animais infectados para evitar a propagação. A esporotricose também pode ser transmitida por outros animais e plantas com espinhos.
Segundo a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), um caso da zoonose – infecção transmitida por animal para o ser humano – está em investigação agora. Ele pode ser o terceiro confirmado em três anos.
A doença nos felinos também vem sendo identificada por veterinários. João Paulo Alencar atendeu um caso que acabou causando a morte do animal.
"O gato deu entrada na clínica com lesões que não cicatrizavam. As feridas estavam nos membros inferior e posterior e no focinho, criando aquele 'nariz de palhaço' característico da doença. Casos como esse em Campo Grande são muito raros. Em toda minha carreira, foi o primeiro positivo", ele conta.
A micose é tratável tanto em gatos quanto em humanos, mas pode ser letal se atingir órgãos internos. Os felinos são os hospedeiros mais vulneráveis.
Ontem (8), agentes de controle de zoonoses visitaram casas do Bairro Paulo Coelho Machado para alertar que há relatos da doença na região e orientar o que fazer diante das suspeitas. "As equipes já estão realizando ações de bloqueio assim que os casos são notificados e realizando coletas, quando julgado necessário, nos animais que apresentem lesões suspeitas", complementou a Sesau.

Lesões avermelhadas na pele, parecidas com picadas de insetos, são os primeiros sinais em humanos.
O fungo pode ser transmitido às pessoas por arranhões de gatos ou quando o felino tem contato com uma ferida. Brigas são as principais formas de transmissão de animal para animal.
Queimadas - Em Mato Grosso do Sul, Corumbá e Ladário são considerados municípios endêmicos da esporotricose por estarem no Pantanal. Casos são registrados por lá desde 2011, segundo artigo científico publicado em maio do ano passado na revista Ciência Animal Brasileira por pesquisadores da Marinha do Brasil, da Secretaria de Saúde corumbaense, da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul).
Veterinária e pesquisadora que atendeu pets em Corumbá e hoje mora na Capital, Nathalia Córdoba afirma que a migração do fungo para Campo Grande é associada às queimadas no Pantanal.
"Há relatos que gatos retirados de Corumbá durante o período de incêndios e trazidos para Campo Grande iniciaram a transmissão", diz.
Os incêndios de 2020 a 2024 foram os mais críticos no Pantanal sul-mato-grossense, segundo dados do Lasa-UFRJ (Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro). Estudo da instituição divulgado no ano passado mostrou que eles são iniciados principalmente pela ação humana.
Ovo de jacaré - Nathalia frisa que os gatos não são os únicos animais hospedeiros. O fungo pode ser transmitido por outras espécies e até por plantas com espinhos.
Ela cita o caso do amigo Eduardo Borges, veterinário de répteis que foi infectado quando trabalhava na criação de jacarés em Corumbá.
O colega acabou pegando a doença por ter que chupar ovos dos animais durante o trabalho. A prática é comum no meio e ajuda a saber se o filhote está próximo de nascer.
O próprio Eduardo explica que o fungo está em muitos lugares, não só nos felinos.
"Ele é característico da terra, do solo, e o gato é um dos portadores mais comuns só porque é um animal que acaba ficando com o fungo na bainha das garras", diz.
Não ao abandono - A veterinária orienta que animais domésticos com suspeita da doença não sejam abandonados, e sim, tratados até para evitar que fiquem nas ruas e transmitam a doença para outros felinos.
"Tem tratamento, existem cuidados específicos. O gato terá que ficar isolado e não sair para rua até finalizar a medicação. Importante esclarecer isso para evitar um 'surto coletivo' de abandono de animais, que criaria um outro problema", finaliza.
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