Com sonho de ser juiz, filho foi assassinado lutando contra as drogas, diz mãe
Kael Marlon de Oliveira, de 22 anos, foi assassinado na manhã desta quarta-feira (15)
“Quem trabalha com esse tipo de coisa (clínica de reabilitação) precisa ter mais compaixão! Se tivessem deixado meu filho entrar naquele dia, ele estaria vivo hoje, porque ele queria mudar de vida”. É assim que a chefe de cozinha Tais Soliane, de 43 anos, começa a falar da morte do filho Kael Marlon de Oliveira, de 22 anos. O jovem foi assassinado com uma facada no pescoço na manhã de quarta-feira (15), na região do Bairro Nhánhá, em Campo Grande.
Taís contou na tarde desta quinta-feira (16) ao Campo Grande News, durante o velório do filho, que Kael havia ido pedir ajuda no dia 9 de janeiro em uma clínica de reabilitação, onde já havia sido internado anteriormente, mas não o deixaram entrar.
A vida da mãe nunca foi fácil. Em uma cadeira de rodas, ela é do tipo batalhadora que tenta ver todos os lados. Por isso, apesar da revolta, ele diz não vai entrar na justiça contra a clínica, já que compreende que o trabalho feito lá é importante, mas pede que a situação sirva de exemplo para não acontecer com outros usuários que buscam ajuda.
“Acredito que não deixaram ele entrar porque ele era difícil. Já tinha sido internado lá três vezes, arrumado briga e sido expulso”, contou Taís.
Muito abalada com que aconteceu, ela lembra da pessoa doce e alegre que viu crescer antes das drogas. “Ele me dizia que quando ele morresse, ele ia virar purpurina”, comentou, “mesmo na droga ele apareceu lá em casa no Natal e, no meu aniversário, ele chegou cantando parabéns”, comentou emocionada.
Taís contou que ele passou a usar drogas por conta de uma depressão muito forte, mas ultimamente falava em reabilitação e marcou consulta no CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) “Ele tinha consulta no dia que ele morreu, porque ele queria se internar, ele tava procurando ajuda de todas as formas possíveis, mas não deu tempo, mataram meu filho antes”.
Kael, que era um dos seis filhos de Taís, iria completar 23 anos no próximo mês. Agora, a mãe conta com a companhia de apenas quatro, já que há três anos perdeu o outro filho, que foi vítima de infarto também aos 23 anos.
Do filho, fica a saudade e o sonho de abrir um restaurante junto e de ele ser juiz. “Antes das drogas ele se formou comigo como chefe de cozinha. O sonho dele era ser juiz, queria fazer direito ainda, virou cozinheiro para trabalhar comigo e ter dinheiro para pagar o curso”.
Na última vez que conversaram, na madrugada anterior ao dia da morte, Taís conta que Kael ligou dizendo que queria mudar de vida. "Ele falou 'mãe, você é minha princesa, vamos abrir nosso restaurante no aplicativo, vou mudar de vida'", relatou a mãe em lágrimas.
Extremamente abalada e sem conseguir falar direito, o recado dela é para as mães. “Meu filho era amado, ele tinha para onde ir e estava tentando buscar ajuda. Pode acontecer com qualquer um. Eu espero que sirva de exemplo para outras mães. Para persistir, não desista. Lutar sem cessar pelo seu filho. Porque eles ainda têm muito sonho”
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