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Capital

Delegado chora ao lembrar ameaças de morte a colegas: "as lágrimas vieram"

Tiago Macedo é uma das testemunhas de acusação dos réus pela morte de Marcel Colombo, o "Playboy da Mansão"

Por Silvia Frias e Dayene Paz | 16/09/2024 12:39
Delegado Tiago Macedo se emociona durante julgamento; atrás, o réu, Marcelo Rios (rosa) (Foto: Henrique Kawaminami)
Delegado Tiago Macedo se emociona durante julgamento; atrás, o réu, Marcelo Rios (rosa) (Foto: Henrique Kawaminami)

Durante longo depoimento, o delegado Tiago Macedo dos Santos chorou ao lembrar do bilhete que entregava plano de execução de colegas, defensor e promotor de Justiça, sob as ordens do grupo de milícia comandada por Jamil Name e Jamil Name Filho. “Desculpe a emoção, isso significou muito para minha família, para os nossos amigos; Tivemos que ficar firmes até agora, mas as lágrimas vieram”.

Tiago Macedo ainda é a primeira testemunha sendo ouvida no julgamento dos quatro réus pela morte de Marcel Costa Hernandes Colombo, executado à queima-roupa em um bar de Campo Grande, na madrugada de 18 de outubro de 2018. O amigo, Tiago do Nascimento Brito, ficou ferido.

O delegado se emocionou ao lembrar das ameaças, da necessidade dos colegas serem escoltados por dois anos e que ele tinha filho pequeno na época da investigação. “Senhor, nós mudamos nossa rotina”, disse, em depoimento prestado ao promotor Douglas Oldegardo durante o julgamento na 2ª Vara do Tribunal do Júri.

O bilhete teria sido escrito por um preso, vizinho de cela de Jamilzinho na Penitenciária Federal de Mossoró (RN) e que se atentou para os nomes que estariam sendo ditos em conversa entre ele e o pai, Jamil Name.

Bilhete encontrado na cela de interno de presído em Mossoró (Foto/Reprodução)
Bilhete encontrado na cela de interno de presído em Mossoró (Foto/Reprodução)

O detento escreveu em papel higiênico os nomes que seriam dos alvos da organização criminosa: o promotor Tiago de Di Giulio, do defensor Rodrigo Stochiero e do delegado Fabio Peró, à época, titular do Garras (Delegacia de Repressão a Roubos, Assaltos e Sequestros).

O delegado seguiu o relato por alguns minutos com a voz embargada e chorando. A promotora Luciana Rabelo foi até ele e entregou um lenço.

Provas - Questionado pelos promotores Douglas Oldegardo e Moisés Casaratto, Tiago Macedo falou das evidências que, desde o início, apontavam para o Jamil Name e Jamil Name Filho como mandantes da morte de Marcel Colombo, apesar do rapaz ter tido desavenças com outras pessoas.

Um deles é o pen-drive apreendido com Marcelo Rios, em maio de 2019, em que aparecem imagens de “alta relevância e envergadura”, que demonstram o papel exercido por Jamil Name. “(...) ele que fazia visceralmente a liderança”.

Bilhate cita que Marcel "tirou onda" de Jamilzinho e um "Antunes", que seria um dos réus, segundo acusação (Foto/Reprodução)
Bilhate cita que Marcel "tirou onda" de Jamilzinho e um "Antunes", que seria um dos réus, segundo acusação (Foto/Reprodução)

Outro fato citado pelo delegado seriam as informações encontradas com funcionário da contabilidade de Jamil Name. No computador dele havia um arquivo, criado em 2016, na época do desentendimento de Jamilzinho e Marcel, ocorrido dentro de casa noturna de Campo Grande. A pasta foi criada com as iniciais de MCH, que seriam da vítima.

Na quebra de sigilo dos dados de Everaldo Monteiro de Assis, foi descoberto na nuvem, segundo Macedo, diálogos dele com os que seriam os cabeças de duas organizações criminosas: Jamilzinho e “Flavinho”, sendo identificado como Flávio Fahd, este, que comandaria com o pai, Fadh Jamil, quadrilha com atuação na região de fronteira. “Flavinho” está foragido.

Pelo  material levantado pela investigação, Everaldo de Assis seria o “espião da organização”. Um dos trabalhos dele foi revelado em áudio de 8 de outubro de 2018, dez dias antes da execução, curto, mas direto. “O nome seria Marcel Hernandes Colombo”. Depois disso, a quadrilha começou a checar as informações sobre o “Playboy da Mansão”.

O delegado lembrou que havia sentimento de impunidade muito grande que imperou em MS. "Havia zona de conforto escabrosa, eles [réus] jamais imaginaram que o MP, que os promotores e delegados iriam deixar o conforto de suas casa para esta investigação".

Promotores ouvem depoimento do delegado Tiago Macedo, no Fórum de Campo Grande (Foto: Henrique Kawaminami)
Promotores ouvem depoimento do delegado Tiago Macedo, no Fórum de Campo Grande (Foto: Henrique Kawaminami)

Sessão - Hoje é o primeiro dia do julgamento, que está sendo previsto para acabar somente na quinta-feira (19).

Quatro pessoas serão julgadas pela morte de Marcel: Jamil Name Filho, Marcelo Rios (ex-guarda municipal), Everaldo Monteiro de Assis (policial federal) e Rafael Antunes Vieira (ex-guarda municipal).

Rafael Antunes Vieira está em regime aberto, sob uso de tornozeleira eletrônica e Everaldo Monteiro de Assis responde ao processo em liberdade.

No processo, ainda consta Juanil Miranda Lima como réu, mas o processo foi desmembrado, já que é tido como foragido da Justiça.

De acordo com a decisão que determinou o júri popular, Juanil Miranda efetuou os tiros de pistola contra a vítima.

Conforme a denúncia, os mandantes foram Jamil Name (falecido) e o filho Jamilzinho. “Destaca que Jamil Name e Jamil Name Filho agiram por motivo torpe, visto que mandaram matar em razão de vingança por agressão anterior praticada pela vítima”.

Conforme a promotoria, o então guarda municipal Marcelo Rios era de confiança dos Names e um dos responsáveis por receber ordens e repassá-las aos demais, fornecendo suporte nas missões.

O policial Everaldo Monteiro de Assis é apontado como intermediário. Ele auxiliava os "homens de confiança" em relação ao suporte necessário à realização das tarefas. Já Rafael teria ocultado a arma usada no crime.

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