“Ela não me achava homem”, disse militar sobre homicídio cometido contra esposa
Relação era conturbada e casal fazia terapia, também contou 2º sargento que quebrou o pescoço da mulher
Um relacionamento conturbado desde o começo. Foi o que descreveu o 2º sargento da Aeronáutica, Tamerson Ribeiro Lima de Souza, 31 anos, durante o depoimento em que confessou ter matado a mulher, Natalin Nara Garcia de Freitas Maia, 22 anos, com um golpe mata-leão.
Embora ele tenha divulgado no Facebook que está casado com Natalin em dezembro de 2016, para a delegada Ana Paula Trindade Ferreira, da Deam (Delegacia Especialista de Atendimento à Mulher), o militar contou que convivia com a jovem há quatro anos e que as brigas entre os dois ocorrem há três anos e meio. Ainda segundo Tamerson, os desentendimentos teriam começado porque a mulher “fumava, bebia muito e consumia cocaína”.
O feminicida confesso afirmou que a moça era muito agressiva. Durante as discussões do casal, narrou, ela o xingava, dizia que iria lhe trair, iria se prostituir e lhe agredia fisicamente, com socos, chutes, arranhões e mordidas. “Falava coisas que me magoavam muito”, disse no depoimento.
O sargento conta que apesar das provocações, nunca havia reagido até a madrugada de sexta-feira (4), quando a matou. “Ela não me achava homem por não revidar e ficava dizendo: 'Revida! Revida!'”.
O militar afirmou ainda que já havia tentado se separar, mas a mulher não aceitava. A convivência se tornou insuportável, uma vez que o casal brigava pelo menos três vezes na semana, e há aproximadamente cinco meses, os dois não faziam mais sexo, também detalhou o sargento.
O assassino confesso disse que o casal estava frequentado um terapeuta e autorizou a polícia a ter acesso aos áudios das sessões de terapia, onde ele reclamou das agressões psicológicas e físicas que vinha sofrendo.
Tamerson fez questão de acrescentar uma informação no depoimento. Assegurou que Natalin agredia a filha do casal fisicamente, com cinto e chinelo, deixando marcas na criança. Ele disse ainda que tinha dó da criança, mas que não podia interferir. A menininha de 4 anos não é filha biológica do militar, mas o sargento a registrou e conta que era ele quem “ficava cuidando dela durante as madrugadas, quando Natalin ia para a balada com as amigas”, além de dar banho, comida, colocar para dormir, levar para a escola.
Traições e o estopim – Também na oitiva na madrugada, ainda desacompanhado de um advogado, Tamerson admitiu ter traído Natalin há cerca de um mês.
Ele nega que a descoberta de traições por parte da esposa tenha sido o gatilho para matá-la, mas relatou que depois da mulher morta, viu a troca de mensagens dela com outros homens.
O sargento jura que nada foi premeditado. No depoimento, contou que entre quinta e sexta-feira, Natalin chegou em casa sob efeito de álcool e droga, “totalmente transtornada” e conforme descreveu o feminicida confesso, a vítima “mal conseguia falar de tão embriagada”. Os dois discutiram e “mais uma vez, ela lhe avançou”, lhe deu socos e começou a debochar fazendo caretas, consta no relatório policial.
Tamerson narrou que a esposa continuou lhe agredindo e ele tentando segurá-la. “Eu não estava dando conta de segurar ela [sic] e dei um mata-leão”.
Segundo o militar, neste momento, Natalin caiu desmaiada, ele entrou em desespero, tentou acordá-la, mas percebeu que ela já estava morta. Ele então enrolou o corpo em um lençol e colocou no porta-malas do carro.
Não queria matá-la. Eu fiz tudo por ela. [A menina] não é minha filha e eu criei como se fosse. Cheguei no meu limite”, reclamou Tamerson Souza, ainda conforme o relatório da investigação.
A polícia apura se Natalin foi torturada antes da morte. Ela tinha fratura em um dos braços e marcas que parecem ser de queimaduras de cigarro nas pernas, além do pescoço quebrado.
Disfarce – No dia seguinte, o sargento levou a menina para a escola, com a mãe dela no porta-malas. Conta que depois foi para a rodovia procurar um lugar para desovar o corpo da mulher – embora, antes do depoimento, a investigação tenha apontado que o cadáver havia sido abandonado à margem da BR-060, na saída de Campo Grande para Sidrolândia, somente no domingo (6), ou seja, três após o assassinato.
Para tentar encobrir o crime, Tamerson se passou pela esposa após matá-la, para não preocupar as amigas dela e evitar um boletim de ocorrência comunicando o sumiço. Ele usou o celular da mulher para enviar mensagens antes de resetá-lo e colocá-lo à venda no Facebook por R$ 3 mil.
Além disso, buscas suspeitas foram feitas por ele no Google – como registrar boletim de ocorrência de desaparecimento e pelas expressões “efeitos cocaína” e “jovem encontrada” –, conforme print anexado ao relatório da investigação.
A revelação - Num primeiro momento, quando equipe do GOI (Grupo de Operações e Investigações) esteve na residência do casal, ainda no domingo logo após a identificação de Natalin, Tamerson disse apenas que a esposa tinha ido embora de casa. Mas o que direcionou as suspeitas contra ele, foi uma frase da filha da vítima: “Mamãe passou mal, papai levou para o hospital e ela morreu”, disse a menininha para um dos policiais. Detalhe que naquele momento os investigadores ainda não haviam revelado que o corpo da moça havia sido localizado.
A criança disse ainda que viu o pai chorar e guardar o celular da mãe em cima do guarda-roupas. No local, os policiais encontraram uma bolsa preta com os documentos de Natalin e dois celulares.
O marido da vítima ficou muito nervoso e começou a ser contradizer. Na madrugada de segunda-feira (7), já na Deam, ele admitiu ser o assassino da mulher. Tamerson só foi preso mais tarde pelo crime de ocultação de cadáver, cujo prazo legal do flagrante não vence. Ele contratou advogados, que pediram para que o cliente responda em liberdade, mas no fim da manhã de hoje, o juiz Albino Coimbra Neto decidiu mantê-lo preso preventivamente.