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Capital

Em meio a polêmica sobre Cidade de Deus, famílias invadem nova área

Michel Faustino e Alan Diógenes | 03/12/2014 19:18
Sem-teto começaram a se instalar em nova área na segunda-feira. (Foto: Alcides Neto)
Sem-teto começaram a se instalar em nova área na segunda-feira. (Foto: Alcides Neto)
Denis diz que todos que estão no local são "carentes" e não tem aonde ir. (Foto: Alcides Neto)
Denis diz que todos que estão no local são "carentes" e não tem aonde ir. (Foto: Alcides Neto)

Ao menos 117 famílias ocupam neste exato momento uma área próxima ao loteamento destinado aos moradores da favela Cidade de Deus, no Jardim Noroeste, região leste da Capital. Os invasores começaram a se instalar na área na segunda-feira (1) e mais pessoas estão chegando no local.

De acordo com um dos responsáveis por organizar a invasão, Denis Henrique de Souza, 24 anos, todas as pessoas que estão no local não tem onde morar e decidiram ir para a área depois que ficaram sabendo que os moradores da Cidade de Deus não queriam ir para lá. Segundo ele, a maioria dos invasores moram em barracos construídos ao lado do aterro de resíduos sólidos, também na região do Jardim Noroeste.

Mesmo sem saber se a área é particular, ele diz que os invasores irão pressionar a prefeitura para desapropriar a área e regularizar a situação deles. “Vamos ficar aqui e queremos que a prefeitura regularize isso. Eu acho que eles tem que dividir em lotes e fazer boletos de até R$ 150 para a gente pagar e poder construir aqui”, disse.

Segundo Denis, eles pretendem buscar ainda junto a prefeitura o “kit barraco”, composto por telhas de amianto e madeirites, oferecido aos moradores da Cidade de Deus, que seriam removidos para uma área próxima a invasão. “Se o pessoal da Cidade de Deus não quer vir aqui a gente quer. E se o prefeito (Gilmar Olarte) quiser dar o kit barraco para nós vai ser bom”, disse.

O pedreiro Cléber Meaurine da Rocha, 30, se instalou no local com a esposa e os três filhos. Ele reclama das dificuldades de se conseguir uma moradia pelos programas populares e estar ali foi uma forma de buscar um “teto”. “Hoje em dia é muito difícil se encaixar nos critérios para conseguir uma casa. Meu salário e da minha esposa não é suficiente, e assim ficamos sem ter condições de dar um teto aos nossos filhos”, lamentou.

O auxiliar de expedição Edilson Benevides Coutinho, 49, diz que está afastado do emprego por problemas de saúde e sem receber a quatro meses. Sem dinheiro para o aluguel, ele encontrou na invasão uma saída. “Eu estou passando por dificuldades, por isso estou aqui”, disse.

Único morador da Cidade de Deus que aceitou ir para o bairro, o autônomo Lindomar Nunes Valter, 45, disse que decidiu ir para a área devido ao impasse gerado sobre a transferência dos moradores da Cidade de Deus para outro local. Ele diz que resolveu “garantir o seu”.

“Lá no Cidade de Deus não sabemos mais o que vai acontecer. Uma hora retiram os geradores de energia elétrica, outra hora devolvem. Fica nessa indefinição, sem saber se vamos ficar lá ou vamos ser transferidos para essa área aqui ao lado”, explicou. Lindomar ajudou alguns moradores com a “mudança” nesta tarde.

Área fica próxima a loteamento destinado a moradores da favela Cidade de Deus. (Foto: Alcides Neto)
Área fica próxima a loteamento destinado a moradores da favela Cidade de Deus. (Foto: Alcides Neto)
Invasores estão começando a "instalar" barracos no local. (Foto: Alcides Neto)
Invasores estão começando a "instalar" barracos no local. (Foto: Alcides Neto)

Impasse- As famílias que moram na favela Cidade de Deus são contra a transferência para o Jardim Noroeste. Um dos motivos é que a nova moradia fica longe do local de trabalho da maior parte dos moradores, ou seja, o aterro sanitário, popularmente conhecido como "lixão".

Outro fator posto em evidência é que os habitantes do Leon Denizart Conte não querem a transferência dos ocupantes da Cidade de Deus para o bairro, alegando haver falta de estrutura. Além disso, no bairro já existem cerca de 200 famílias acampadas.

Além de todos os entraves mencionados, também existe o fato de que o novo terreno tem capacidade para abrigar apenas 200 das 450 famílias que vivem na Cidade de Deus.

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