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Escolas de tempo integral testam ensino sem prova ou lição de casa

Natalia Yahn | 10/04/2016 09:00
Aula de geografia na sala de informática. (Foto: Fernando Antunes)
Aula de geografia na sala de informática. (Foto: Fernando Antunes)

Sem provas ou tarefas, o novo método de ensino proposto por duas unidades estaduais de ensino em Campo Grande, conquistou a confiança dos pais e alunos.

Aprender Geografia nas aulas de informática, participar de dinâmicas de grupo para falar sobre família, discutir deveres e direitos (além das punições e proibições) e escolher o que o estudar, são estratégias presentes no dia a dia dos alunos da Escola Estadual Manoel Bonifácio Nunes da Cunha, no Jardim Tarumã, na periferia da Capital.

Os 186 estudantes que participam do projeto piloto de ensino integral da SED (Secretaria de Estado de Educação) – considerado inovador em Grosso do Sul –, recebem atenção, estímulos e incentivo em diversas áreas. O foco é aprendizagem e não somente o ensino, e por isso a forma de transmitir conhecimento mudou.

“Não tem provas, nem tarefas”, respondeu rapidamente o aluno Sidhartha Hasta, 15 anos, que cursa o segundo ano do Ensino Médio e está na escola desde o ano passado, quando questionado qual a melhor mudança com o método.

Mas a ausência de provas não quer dizer que não existe avaliação, pelo contrário, ela é feita diariamente e de diversas formas. “Todas as atividades, mesmo as lúdicas, são avaliadas. Porém não é mais baseado apenas na prova, que deixou de ser a única ferramenta para comprovar e avaliar o aprendizado”, explicou a diretora da escola, Leninha Viveiros.

A Banda Marcial Manoel Bonifácio, apelidade de Bamabe, durante apresentação nesta sexta-feira (8). (Foto: Fernando Antunes)
A Banda Marcial Manoel Bonifácio, apelidade de Bamabe, durante apresentação nesta sexta-feira (8). (Foto: Fernando Antunes)
João Pedro, Sidhartha e Gustavo, dizem estar felizes com o novo método de ensino. (Foto: Fernando Antunes)
João Pedro, Sidhartha e Gustavo, dizem estar felizes com o novo método de ensino. (Foto: Fernando Antunes)

A coordenadora da SED, Maria Sakate, do grupo de estudo responsável pela criação da escola em tempo integral, acredita na eficácia do método e explica que a mudança dá condições para que os alunos se envolvam e busquem as próprias respostas. “Dizem que não tem tarefa, mas o aluno chega em casa e fica tão curioso que ele vai pesquisar, querer saber mais e aprender. E o nosso foco é justamente o aprendizado, como é recebido por eles”.

A rotina dos alunos foi o que mais mudou com a implantação do método. A entrada agora é às 8 horas – antes era às 7 horas (como ainda é nas escolas regulares) –, são quatro refeições (entre lanches e almoço), e as disciplinas são todas integradas no horário de aulas (até o ano passado, no período da tarde, os alunos participavam de oficinas e reforço).

“Chegamos para o café da manhã, o recreio é às 9h40. Temos mais ou menos uma hora de almoço e voltamos para sala às 12h40. Depois temos outro recreio, e a saída é às 16 horas. É puxado, mas é ótimo. Antes a gente tinha muitas matérias de manhã e a tarde as oficinas e reforço. Agora temos todas as disciplinas na grade normal das aulas, nas quintas os reforços com vários professores e nas sextas a tarde as atividades optativas, que são duas”, explicou o aluno João Pedro Mello, 15 anos.

Ele e o amigo Sidhartha Hasta, também de 15 anos, estudam juntos desde a educação infantil e começaram a estudar na escola em 2015. “Eu pesquisei e percebi que a escola era boa. Toda minha turma (da Escola Municipal Professora Gonçalina Faustina de Oliveira) veio para cá no ano passado”, explicou Sidhartha.

As mães deles, Irenil Miranda dos Santos de Mello, 43 anos (de João Pedro), e Marina Aparecida dos Santos, 56 anos (de Sidhartha), deram um voto de confiança e já aprovaram o método, que teve início com as aulas no dia 29 de fevereiro. “Mesmo sem tarefa, ele (filho) chega em casa e estuda. Ele nunca me deu problema, mas agora é diferente, até em casa mudou o comportamento, está mais responsável e aplicado”, disse Irenil.

“A gente percebe a diferença neles, comprometimento, responsabilidade, desejo de estudar e buscar informação. A conversa é diferente. Se tem um aluno daqui na rua a gente sabe, conhece pelo jeito”, afirmou Marina.

Entre as aulas optativas (que os alunos podem escolher para cursar às sextas-feiras) estão: xadrez, dama, informática, inglês e dinâmica. “É muito legal, eu faço, a gente faz simulações, teatro”, afirmou João Pedro sobre a aula de dinâmica de grupo.

Por ser algo totalmente novo a aula é dada pela psicóloga, Michele Abdo. “Os alunos do terceiro ano pediram para falar sobre família em uma aula de dinâmica. Mas durante o ano vamos abordar vários temas, como gravidez, drogas, e outros que peçam”.

Alunos de outros bairros acabam atraídos pela escola, um deles é o paratleta Gustavo de Souza Gomil, 16 anos, que estuda no local há 3 anos. “Eu moro no Conjunto União, minha mãe me traz de manhã e eu pego três ônibus para voltar, demoro 50 minutos. Mas vim por causa da escola e para poder treinar”.

Ele é atleta do lançamento de dardo e atual vice-campeão brasileiro escolar na categoria, título conquistado em novembro do ano passado. “É tudo diferente, o jeito de ensinar e as possibilidades com o esporte”, afirmou.

Gustavo é treinado pelo professor Daniel Silva de Sena, que já foi velocista e há 19 anos é detentor do recorde estadual dos 100 metros. “Eu marquei 10s06, um dos meus atletas já fez 10s07. O que eu quero é que eles superem o meu recorde, estou trabalhando para isso”.

Outro orgulho para a escola é a Banda Marcial Manoel Bonifácio, carinhosamente apelidada de Bamabe. Os envolvidos no projeto são todo orgulho ao falar dos integrantes, 59 no total entre músicos (32) e dançarinos (27).

“Para participar tem que ter bom desempenho escolar, comportamento e convívio familiar. A gente monitora e está sempre em contato com a família”, explicou o coreógrafo da banda, Ivan França.

O grupo fez uma apresentação especial para a reportagem do Campo Grande News na manhã de sexta-feira (8) na escola, e os aplausos foram muitos. “Nós somos bicampeões estaduais do Campeonato de Bandas e Fanfarras. Este ano já temos concursos programados no mês de outubro em Cuiabá (MT) e em dezembro aqui no Estado”, disse o maestro Nelson Almeida Marques.

Mas as vitórias não são apenas para os que participam atualmente do ensino integral. O músico Sidlan Oliveira, 30 anos, toca percussão na banda – como voluntário, já foi aluno da escola e há dez anos fez da paixão a profissão. “Comecei a tocar aqui na escola Manoela Bonifácio. Hoje toco e dou aulas para os integrantes como voluntário. Fiz faculdade de música e sou funcionário público municipal concursado na minha área. É minha profissão e eu amo o que faço”.

TesteO modelo de escola em tempo integral ofereceu este ano 635 vagas, para estudantes do 1º e 3º ano do Ensino Médio da Escola Estadual Waldemir Barros da Silva, na Moreninha I, e para alunos do 8º e 9º ano do ensino fundamental – além dos estudantes do ensino médio – da Escola Estadual Manoel Bonifácio Nunes da Cunha.

Confira a galeria de imagens:

  • Banda Marcial Manoel Bonifácio. (Foto: Fernando Antunes)
  • Banda Marcial Manoel Bonifácio. (Foto: Fernando Antunes)
  • Banda Marcial Manoel Bonifácio. (Foto: Fernando Antunes)
  • Banda Marcial Manoel Bonifácio. (Foto: Fernando Antunes)
  • Aula no laboratório de química. (Foto: Fernando Antunes)
  • Irenil Miranda dos Santos de Mello, mãe de João Pedro. (Foto: Fernando Antunes)
  • Marina Aparecida dos Santos, mãe de Sidhartha. (Foto: Fernando Antunes)
  • No primeiro intervalo, durante a manhã, os alunos podem comer frutas. (Foto: Fernando Antunes)
  • Diretora e professores durante avaliação das atividades dos alunos. (Foto: Fernando Antunes)
  • Deveres, proibições, punições e deveres, projeto elaborado pelos estudantes. (Foto: Fernando Antunes)
  • A diretora da escola, Leninha Viveiros, está no cargo há 7 anos e acredita no novo método. (Foto: Fernando Antunes)
  • O maestro Nelson, o músico e voluntário Sidlan e o coreógrafo Ivan. (Foto: Fernando Antunes)
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