Ex-amigos do samba disputam na Justiça diretoria da Deixa Falar
Alan Catharinelli, um dos fundadores da Deixa Falar, pediu anulação da assembleia que definiu Francis Fabian como novo presidente da agremiação
Em lugar da avenida do samba, com a passagem de fantasias e carros alegóricos, o próximo desfile do Grêmio Recreativo Escola de Samba Deixa Falar será na austera sala judicial da 1ª Vara Cível de Campo Grande. O enredo é a disputa entre antigos amigos, hoje rivais, pela diretoria da agremiação campeã do Carnaval de 2018.
O quesito harmonia começou a ter problemas antes do Carnaval 2019, com a saída de Alan Catharinelli da escola que, segundo ele, ajudou a fundar, há oito anos. Em comunicado enviado por WhatsApp aos componentes da escola, explicou os motivos de deixar a agremiação.
Catharinelli disse que foi surpreendido pela nova formação da diretoria, anunciada a ele em reunião ocorrida no dia 9 de janeiro deste ano. Salvador Dódero havia renunciado à presidência e realizado nova eleição, em que constava o carnavalesco Francis Fabian no comando da agremiação e Lelis Rolim na vice-presidência.
Para Catharinelli, foi designado o cargo de Diretor de Carnaval. “Na hora eu questionei o porquê que eu não estava fazendo parte da Diretoria Executiva que é a que define os rumos da escola e não obtive resposta”. Ele disse que não queria ser presidente, mas ter oportunidade de participar da diretoria. "Eu só queria transparência".
No dia seguinte, resolveu ia ao cartório para ver o registro da nova diretoria e descobriu que a eleição teria ocorrido no dia 16 de novembro de 2018. Antes, no dia 2 de novembro, o edital convocando para novo pleito e mudança do estatuto havia sido publicado em jornal. “Mesmo dando publicidade no jornal, porque não teve o respeito moram comigo? (...) não foi dada oportunidade para que pudesse ter chapa e concorrer”, relatou no comunicado.
Depois disso, resolveu deixar a agremiação no dia 9 de janeiro e nem chegou a participar do Carnaval desse ano. No dia 25 de janeiro, ingressou com ação de anulação de assembleia geral com tutela antecipada de urgência, alegando que convocação que alterou estatuto e elegeu nova presidência não respeitou o prazo mínimo de 30 dias e que não houve comunicado interno na escola.
O juiz Thiago Nagasawa Tanaka indeferiu a tutela antecipada de anulação, alegando que foram apresentadas afirmações genéricas que não embasam a urgência da anulação. Pelo estatuto, havia a previsão a possibilidade de convocação de assembleia geral extraordinária, com antecedência mínima de 15 dias.
"Ressalte-se, ainda, que a assembleia geral anterior,realizada em 16/11/2016, que dentre outros assuntos, também alterou o estatuto e elegeuo presidente e diretoria para o biênio de 2016 a 2018, ao que parece, não observou o prazo de 30 dias, visto que o Edital foi publicado no dia 2 de novembro de 2016, sendoa assembleia realizada na data de 16 de novembro de 2016". O juiz designou audiência de conciliação.
“Para mim é uma dor muito grande ir contra a pessoa que eu andava de braços dados pela escola, fundamos juntos, ele [Francis Fabian] era meu amigo”. Catharinelli disse que tentou entrar em acordo para anular a assembleia e chegou a enviar uma notificação extraoficial no dia 16 de janeiro, mas, sem resposta.
O G.R.E.S Deixa Falar, da Vila Nasser, foi campeão do Carnaval 2018 com o enredo “Cio da Liberdade – Sob as lentes de Roberto Higa, 40 anos de Mato Grosso do Sul”.
Em entrevista ao Campo Grande News, represente da diretoria da escola negou que os prazos não foram respeitados, alegando que o cartório se negaria a registrar a nova composição caso houvesse alguma irregularidade. Segundo a diretoria, Catharinelli saiu de livre e espontânea vontade e que somente moveu a ação porque queria ser o novo presidente da agremiação.