Famílias perdem até casa de alvenaria durante despejo em área invadida
A área, uma viela localizada entre a Rua Gratidão e a Rua Rosana Aparecida, abrigava cerca de 15 casas
Moradores de uma área invadida na região do Caiobá I, em Campo Grande, começaram a ter suas casas demolidas por funcionários da Prefeitura na manhã desta terça-feira (21). A área, uma viela localizada entre a Rua Gratidão e a Rua Rosana Aparecida, abrigava cerca de 15 casas.
De acordo com os moradores, esta foi a terceira vez que ocorreu um despejo na região. Dessa vez, barracos e casas em construção foram o alvo da demolição. Equipes da Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano) e agentes da Romu (Ronda Ostensiva Municipal) da GCM (Guarda Civil Metropolitana) chegaram por volta das 8h, segundo relatos.
“Eu estava terminando o banheiro quando escutei o cachorro latindo e eles estavam na porta. Chegaram e perguntaram se a gente estava morando, mas sabiam que estávamos construindo. Disseram que eu não poderia morar aqui porque era área verde da Prefeitura”, explica o auxiliar de pedreiro Cristhofer Corrêa, de 22 anos, que estava construindo um imóvel na área irregular.
De acordo com Cristhofer, os moradores não tiveram tempo de recuperar materiais de construção. “Eu falei que ia tirar as telhas, para não perder o material. Mas mesmo assim, tentaram quebrar o material e pegaram um poste para bater. Só que consegui tirar. Também falaram que iam chamar um trator e cavar um buraco para a região ficar inabitável".
Uma moradora identificada apenas como Silvia Márcia, de 48 anos, também teve uma casa em construção derrubada. Ela relata que sua família estava construindo a casa aos poucos. Agora, no local, só restam destroços e alguns materiais de construção. “Eu não estava aqui na hora, mas os vizinhos disseram que pretendiam levar os materiais que restassem. Mas não avisaram ninguém, não recebemos notificações.”
Silvia relata que está há 20 anos tentando conseguir um imóvel próprio. Durante esses anos, ela viveu sempre de aluguel. “Estou há mais de 20 anos tentando uma casa com a Emha. Estou tentando desde que meu primeiro filho nasceu. Eu vou lá, renovo meu cadastro e nada. Já tenho neto e até hoje não tenho nada”, explica.
Metade da Rua Gratidão é composta por casas mais antigas, feitas de alvenaria, enquanto a outra metade é composta por casas de madeira e lona, além de imóveis em construção. Segundo os moradores, existem vizinhos que moram há 18 anos na região.
Durante o despejo, algumas casas foram marcadas com numeração e outras como vazias. O aposentado Claudemir Gonçalves, de 65 anos, foi um dos que teve a casa de alvenaria marcada como vazia, apesar de o local ter moradores há sete anos. “Eu não estava aqui na hora, mas me falaram que iam derrubar tudo. E aí marcaram minha casa como vazia, mas dá para ver que tenho carro".
Esclarecimento - A reportagem entrou em contato com a Prefeitura para obter informações sobre a situação fundiária do local e verificar se alguma notificação foi enviada com antecedência aos moradores da região. O espaço permanece aberto para um eventual pronunciamento das secretarias mencionadas.
A assessoria da GCM informou que suas equipes não participaram da demolição, uma vez que sua função é acompanhar as equipes de outras secretarias para garantir a segurança física tanto dos servidores envolvidos quanto dos cidadãos afetados pela questão.
"A GCM não possui maquinário, equipamento, nem a função de realizar demolições de estruturas em áreas irregulares", esclareceu a assessoria do órgão.
[**] Matéria editada às 20h26 do dia 21 de março de 2024 para acréscimo de informações e correção de um dado, que anteriormente indicava que equipes da GCM estiveram diretamente envolvidas na demolição.
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