Famílias voltam para área invadida e 4 vão presos durante desocupação
Boletim de ocorrência foi registrado desta vez e detidos responderão por esbulho possessório
Pela terceira vez essa semana, a Prefeitura de Campo Grande enviou equipes para desocupar área verde na Rua Panonia, no Jardim Novos Estados, invadida por famílias que alegam não ter mais onde morar. Barracos já haviam sido derrubados, na quarta-feira (9), foram reerguidos pelos invasores e destruídos por máquinas pesadas hoje novamente.
Com o clima mais tenso nesta manhã, quatro pessoas acabaram presas pela Guarda Civil Metropolitana. Boletim de ocorrência foi registrado pelos fiscais da Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Gestão Urbana) pelo crime de esbulho possessório – tomar algum bem de forma injusta, seja violenta, clandestina ou irregular.
No dia 9, a Semadur informou ao Campo Grande News que a remoção foi feita, porque houve denúncia por parte dos vizinhos e como se trata de uma área pública, “foram tomadas as medidas cabíveis, previstas na lei do Código de Polícia Administrativa”. “A retirada dos barracos ocorreu de forma pacífica”, também informou a assessoria do órgão naquele dia.
Dryelle Stefanny Ribeiro Aquino, 29 anos, uma das invasoras, conta que a ocupação foi um ato de desespero. “São famílias que não tem onde ficar, foram despejadas. A gente não ia passar uma vergonha dessas à toa”.
A jovem, que trabalha em um call center, explica que morava de favor, ali pela região, com o marido, Paulo Dias, 36 anos, e os filhos, uma menina de 5 anos e um garotinho de 6, mas a situação se tornou insustentável. Além da mãe dela não dar conta de arcar com as despesas da família, o amontoado de gente numa mesma casa acabou em desavenças.
A única provedora da família, já que o marido trata um câncer cerebral e ficou cego após cirurgia, Dryelle se viu sem saída. “Não consigo pagar aluguel, ganho um salário mínimo (R$ 1.212). Um aluguel é no mínimo metade de um salário. Como vou colocar comida na mesa?”
Agora, com o barraco no chão, ela se sente perdida. Diz que não sabe ainda o que vai fazer. As cerca de 20 famílias que tentavam ocupar a área estão reunidas para tomar uma decisão. “É uma coisa desesperadora de ver, acabarem com as nossas coisas. A gente vai correr atrás para ver o que a gente pode fazer. A gente não tem para onde aí, mas falaram que se a gente voltar vai todo mundo preso”.
Voz da “comunidade” para o Campo Grande News, a moça afirma que a área escolhida pelos invasores pertence ao município e está destinada a ser tornar uma praça. “A gente foi atrás, ia ser uma praça, mas isso 30 anos atrás. Quando chegamos aqui, na semana passada, estava cheio de lixo, bichos mortos, abandonado mesmo. Demos uma limpada e construímos. Derrubaram e voltamos a construir”, relata.
Dryelle diz que é inscrita na Emha (Agência Municipal de Habitação) e Agehab (Agência de Habitação Popular de Mato Grosso do Sul), mas nunca foi contemplada com uma moradia popular, assim como várias outros invasores. “Tem gente com 20, 30 anos de cadastro. Agora, tá todo mundo na rua”.