Força-tarefa acusa formalmente Name e filho pela execução de filho de PM
Com base nas investigações, Justiça decretou prisão preventiva de pai e filho, além de outros envolvidos no grupo de milícia
“As informações (...) compõem verdadeiro arcabouço probatório que demonstra o nascedouro da ordem para que fosse ceifada a vida do Capitão Xavier e, por conseguinte, que vitimou, por erro (...) seu filho Matheus Coutinho Xavier. Os mandantes, indene de dúvidas, são os líderes Jamil Name e Jamil Name Filho!”.
O trecho faz parte do pedido de prisão preventiva formulado por delegados da força-tarefa criada para investigar execuções em Campo Grande, que apontaram, diretamente, Jamil Name e Jamil Name Filho como os responsáveis pela execução do estudante de 20 anos, morto a tiros de fuzil AK47, no dia 9 de abril deste ano.
Em oito meses de investigação deste caso, e um ano após ser criada em razão de outras três execuções, a força-tarefa da Polícia Civil fez a primeira acusação formal de mandantes dos crimes em apuração. Isso aconteceu dois meses após a Operação Omertà foi deflagrada, em 27 de setembro.
O pedido foi aceito pelo juiz da 2ª Vara do Tribunal do Júri, Aluizio Pereira dos Santos. Ele decretou a prisão preventiva dos empresários Jamil Name, o “Velho”, Jamil Name Filho, o “Guri” e do policial civil aposentado, Vladenilson Daniel Olmedo, o “Vlad”. Eles já estão na cadeia, desde o dia da operação e são réus por crimes que vão de formação de milícia armada, organização criminosa armada, tráfico de armas, extorsão e corrupão de agentes públicos de segurança.
O magistrado também converteu em preventivas as prisões temporárias de José Moreira Freires, 46 anos, o “Zezinho”, Juanil Miranda Lima, 43 anos e do ex-guarda municipal Marcelo Rios, 42 anos. Juanil e Zezinho ainda estão foragidos. Preso na semana passada, em Joinville e até então considerado testemunha-chave do caso, o técnico em informática Eurico dos Santos Mota, 28 anos, também teve a prisão provisória transformada em preventiva.
Eurico, conforme as investigações, foi contratado para rastrear, via celular, a localização do militar alvo da quadrilha e, em depoimento aos delegados, apontou os pistoleiros Juanil e Zezinho como executadores.
"Conjunto probatório" - Os decretos de prisão foram baseados em extenso material anexado pelos cinco delegados que assinam a peça. Desde que a Operação Omertà foi deflagrada, Jamil Name e o filho figuravam como chefes do grupo de milícia formado para execução de diversos desafetos, de “picolezeiro a governador”, sendo “a maior matança da história do MS”, conforme interceptação telefônica de conversa de Jamil Name Filho e a ex-mulher.
Na lista deles, segundo investigação, figuram as execuções do policial militar Ilson Martins Figueiredo, chefe de segurança da Assembleia Legislativa, ocorrida em 11 de junho de 2018; Orlando da Silva Fernandes, morto no dia 26 de outubro de 2018 e Cláudio da Silva Simeão, morto em 15 de novembro de 2018. Todos foram mortos com fuzil AK47.
A Polícia Civil anexou depoimentos de pessoas ligadas aos envolvidos e interceptações telefônicas, formando a estrutura da organização criminosa responsável pelas mortes: Marcelo Rios e Vlad faziam o apoio para a execução, seja cuidando das armas ou localizando os alvos; Zezinho, Juanil e Eurico fazem parte do grupo de execução e os mandantes, Jamil e Jamilzinho.
Em depoimento, a filha de Juanil Miranda Lima disse que o pai relatou que ele “estava matando pessoas ruins e gente que não prestava” e fazia “coisas erradas” em companhia de Zezinho. Ela chegou a ajudar o pai a filmar a casa do capitão reformado da PM, Paulo Roberto Xavier. Em outro trecho, ela relata que Juanil “lamentou” o erro pela morte de Matheus.
Outro depoimento que cita nominalmente a autoria dos crimes e o erro cometido é o da mulher de Marcelo Rios, dizendo que ele estava agitado e ficou desesperado após conversar com Jamilzinho, pois “a cabeça dele ia rolar”. Os policiais indagam se houve erro no caso Capitão Xavier. “Houve um erro”, afirmou.
A investigação também coloca Zezinho próximo da casa de Paulo Xavier. Até dia 8 de março, ele utilizava tornozeleira eletrônica, por conta de condenação de 18 anos de prisão pela morte do delegado Paulo Magalhães. Pelo equipamento, foi possível mapear a movimentação dele, no Jardim Bela Vista. No dia 9 de abril, o estudante foi assassinado.
Também constam como indícios as interceptações telefônicas em que Marcelo Rios conversa com outro ex-guarda, Rafael Antunes Vieira, em que tratam da ordem dada por Jamilzinho, que exigiu a retirada das armas do bunker montado no Jardim Monte Líbano e que deveriam ser entregues ao empresário. “Por que você não está aqui hoje, cadê as armas? Ele quer as armas!”, diz Rafael.
Poucos dias depois, no dia 19 de maio, em operação policial, as armas foram descobertas e apreendidas na casa que, embora esteja em nome de terceiro, o verdadeiro proprietário é Jamil Name, segundo investigação policial.
“Verifica-se que já emergiram indícios mais que suficientes sobre autoria, circunstâncias e motivação, não sobrepairando nenhuma dúvida de que a morte de Matheus Coutinho Xavier ocorreu em razão de erro da execução e que o verdadeiro alvo seria seu pai, Paulo Roberto Teixeira Xavier (...) pessoa que já teve relação com o clã dos Name e que contrariou interesse da família (...).
Motivação – Paulo Roberto Xavier entrou na lista de execuções dos Name por ter sido considerado traidor, ao prestar serviço ao advogado Antônio Augusto Souza Coelho, radicado em São Paulo.
A investigação apurou que o advogado era alvo do “ódio alimentado” pela família Name, em decorrência de desacordo na negociação de terras pertencentes à Associação das Famílias para Unificação da Paz Mundial.
Desde o início das apurações, a defesa de Jamil Name tem negado as acusações. A reportagem tentou falar com o advogado dele, o criminalista Renê Siufi, mas ele não atendeu as ligações.
(Matéria atualizada às 16h09 para acrescentar informação)