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Capital

Investigação aponta advogada como gestora financeira de núcleo do PCC em MS

Dos 19 presos na ação da PC/DF, 14 tiveram prisões prorrogadas; Aline Brandão foi solta, sob medida cautelar

Por Silvia Frias | 06/05/2025 13:28
Investigação aponta advogada como gestora financeira de núcleo do PCC em MS
Andressa e Pedro Jorge (esquerda); Suzi (com criança no colo) e Aline (de boné rosa); Rodrigo José (à direita, em pé) e Ronaldo da CAB (boné preto virado, de óculos) em Pipa (RN), dois dias antes da operação (Foto/Reprodução)

Dos 19 presos na Operação Chiusura, deflagrada em março deste ano pela Polícia Civil do Distrito Federal, e que apura a conexão de quatro grupos especializados no tráfico de drogas, 14 pessoas tiveram a detenção prorrogada até maio, entre eles, três suspeitos de integrarem o Núcleo Mato Grosso do Sul.

RESUMO

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Operação Chiusura: Prisão prorrogada para 14 suspeitos de tráfico de drogas no DF. A Polícia Civil do Distrito Federal prorrogou a prisão de 14 dos 19 detidos na Operação Chiusura, que investiga quatro grupos de tráfico de drogas. Entre os investigados, está o Núcleo Mato Grosso do Sul, supostamente ligado ao cartel mexicano Sinaloa e à facção brasileira PCC. Advogada e mãe com filhos menores, apontada como líder do núcleo, teve prisão convertida em medidas cautelares. Aline Brandão, acusada de ser gestora financeira do grupo, teve a prisão temporária substituída por medidas cautelares, assim como Andressa Almeida Fernandes. Ambas são mães de crianças menores de 12 anos. A investigação apura a movimentação financeira suspeita de 8,1 milhões de reais e a possível ligação com o tráfico internacional de drogas.

Duas investigadas que, segundo polícia, também fazem parte do núcleo de MS, a advogada Aline Gabriela Brandão e Andressa Almeida Fernandes tiveram a prisão convertida em medidas cautelares, conforme decisão do juiz Ângelo Pinheiro Fernandes de Oliveira, da 4ª Vara de Entorpecentes do DF. O magistrado levou em consideração o fato delas terem filhos menores de 12 anos e que dependem dos cuidados maternos.

Segundo a PC, a advogada encabeça do Núcleo MS, sendo a gestora financeira e patrimonial do grupo criminoso. Ela seria responsável pela “(...) realização de movimentações financeiras e exploração de pessoas jurídicas como fachada ou cortina para consecução dos objetivos de pessoas ou grupos envolvidos na realização do tráfico de substâncias entorpecentes”.

Procurada pela reportagem, Aline Brandão diz que não iria comentar as acusações, ainda em investigação.

Investigação aponta advogada como gestora financeira de núcleo do PCC em MS
Aline e o ex-marido Thiago Gabriel, ele, preso na Bolívia desde 2023 (Foto/Arquivo)

Sem sigilo - As informações constam em trechos do inquérito e dos pedidos de prisão, de quebra de sigilo bancário e sequestro de bens da Operação Chiusura, que tiveram o decreto de sigilo derrubado pelo juiz no fim de março.

Nos documentos liberados, o Núcleo MS também é anotado como Sinaloa, em alusão a um dos maiores cartéis do narcotráfico do México. O grupo criminoso daquele país, segundo a polícia, pode manter “possível vínculo ou parceira internacional com o PCC”, a facção brasileira Primeiro Comando da Capital.

Os outros integrantes do Núcleo MS apontados pela Polícia Civil são Rodrigo José Martins da Silva, o administrador oculto; Pedro Jorge Martins da Silva, o laranja patrimonial; Ronaldo Cardoso, o interposto financeiro e Andressa Almeida, envolvida na simulação de renda e patrimônio.

O vínculo entre eles é intrínseco: Rodrigo José e Pedro Jorge são irmãos de Thiago Gabriel Martins, que está preso desde agosto de 2023. Conhecido como “Especialista” ou “Thiaguinho do PCC”, foi capturado na Bolívia, durante operação policial contra traficantes no norte daquele país. Ele foi flagrado com granadas de uso restrito e uma aeronave carregada com cocaína.

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Polícia Civil cumpre mandado na casa de um dos alvos da operação, no Distrito Federal (Foto/Divulgação/PF)

Andressa é esposa de Pedro Jorge Martins da Silva. O outro preso, Ronaldo Cardoso é conhecido Ronaldo da CAB (Centro de Apoio aos Bairros), suplente de vereador pelo Podemos e atuante na região das Moreninhas. Ronaldo é casado com Suzi Adriana Martins, mãe de Rodrigo, Pedro e Thiaguinho. Aline Brandão consta na apuração policial como mulher de Thiaguinho, mas ela afirmou à reportagem que já teve divórcio formalizado.

O nome de Suzi Adriana é citado por constar na agenda de Virgílio Augusto de Oliveira Feitosa, considerado o líder logístico do Núcleo Nordeste/Alagoas e que atua em parceria com a companheira, Lorrainy Cristine Nunes, ela, responsável pela logística do tráfico de drogas. Suzi não consta como investigada na Operação Chiusura.

Lorrainy teria recebido R$ 100 mil de Alison Idelfonso, do setor operacional do Núcleo Planaltina/DF, com quem manteve mais de mil contatos telefônicos. Os contatos gravados como “Aline GB” e “GB” são terminais vinculados à Bolívia, onde Thiaguinho do PCC está preso.

Sobre o Núcleo Mato Grosso do Sul, a investigação aponta que Andressa teria sido responsável pela “movimentação financeira suspeita da ordem aproximada de 8,1 milhões de reais”, informou a PC. “Foi apurado, ainda, possíveis vínculos de membros desse núcleo com JOSEANA, que recebeu valores de transferências bancárias e tem mandado de prisão em aberto no Rio Grande do Norte por envolvimento com o tráfico de drogas. RODRIGO é irmão de THIAGO GABRIEL e também teria participação no tráfico promovido por esse outro grupo familiar”.

Investigação aponta advogada como gestora financeira de núcleo do PCC em MS
Celulares, dinheiro e drogas apreendidas na casa de um dos alvos da operação (Foto/Divulgação/PC DF)

Após as prisões, as interceptações da Polícia Civil indicam que pessoas que mantém relação ou vínculo com Ronaldo Cardoso falam de maneira aberta sobre as prisões na operação, que poderiam ter relação com o fato dele estar “ajudando nos negócios do chefe”, “(...) sinaliza que Thiago mandava dinheiro nas contas” e cita que “até a mulher do cara (Thiago), que seria Aline, foi presa”. Em outro trecho, uma pessoa orienta a outra para não falar nada, destacando que a “facção é grande”.

Fio – A investigação que culminou na Operação Chiusura começou a partir da prisão em flagrante de Lucas da Silva Caetano Dias e Rafaela Soares Lopes Catulio, ocorrida em 28 de junho de 2023. Lucas é apontado como membro de grupo criminoso doméstico do Distrito Federal, autodenominado "Gangue da Favelinha”.

No flagrante, ele foi preso com 6 quilos de maconha, meio quilo de cocaína e um caderno contendo anotações.

A quebra de sigilo dos dados telefônicos de Lucas levou à rede de pessoas associadas para promover o tráfico de drogas no Distrito Federal. Lucas é apontado como testa de ferro de Ricardo Moreira Feitosa, o “Cadinho”, líder principal do Núcleo Planaltinha/DF e de Alison Idelfonso, o “Moscora”.

Os dados de Lucas evidenciaram várias conversas sobre venda de drogas e transferências bancárias. A polícia requereu ao COAF (Conselho de Controle de Atividade Financeiras) dos alvos da Operação Chiusura, demonstrando “vultuosa movimentação financeira”, sem suporte de renda compatível.

A partir daí, a PC identificou os quatro núcleos (Planaltina/DF, Barbosa/GO, Nordeste/AL e Mato Grosso do Sul). A apuração alega que são grupos distintos, mas interligados “desempenhando papéis específicos e compondo uma estrutura integrada e coesa”.

No dia 28 de março foi deflagrada a Operação Chiusura, com cumprimento de 71 mandados de busca e apreensão e 19 de prisão no Distrito Federal, além de MS, SC, GO, AL, RN e MT em ofensiva ao PCC.

No dia 7 de abril, a defesa de Aline Brandão pediu a conversão da prisão temporária em segregação domiciliar. Alegou que ela é mãe de adolescente que demandaria cuidados especiais e de uma menina de 3 anos. Além disso, argumentou que os supostos delitos não envolvem violência contra terceiros.

Naquela ocasião, o pedido foi indeferido. “(...) a prisão não se baseou exclusivamente na circunstância da requerente ter representado, como advogada, possíveis ou supostos membros de organização criminosa. Na verdade, o decreto prisional se funda, essencialmente, nas informações, ainda indiciárias, da possível participação da requerente em associação ou organização criminosa”.

No dia 25 de abril, a Polícia Civil do Distrito Federal pediu a prorrogação da prisão temporária dos 19 envolvidos.

Novamente, a defesa de Aline Brandão pediu prisão domiciliar, alegando que não estão presentes os requisitos do decreto e que ela tem renda compatível com as aquisições imobiliárias listadas pela investigação.  Afirmou que a investigação delimita a atuação dela na possível lavagem de dinheiro e organização criminosa, mas não a vincula ao tráfico, ponderando que sobre estes delitos não seria possível a prisão temporária e que a liberdade. Reafirmou, ainda, que Aline é mãe preenche os requisitos para cumprir eventual prisão domiciliar. Anexou declarações de imposto de renda para comprovar ganhos.

No despacho, o juiz avaliou que não há como definir, no atual quadro investigativo, quais suspeitos são vinculados ao tráfico ou, exclusivamente, na lavagem de dinheiro ou participação na organização criminosa. “(...) todos atuam em prol de um suposto objetivo comum, que, no caso, tudo leva a crer que se trata da promoção do tráfico de substâncias entorpecentes”.

O magistrado avaliou, ainda que, analisando as declarações do Imposto de Renda da advogada, é possível identificar “aquisição de variados veículos e pelo menos dois imóveis, sem uma correspondente renda compatível”.  Mas, concedeu medidas cautelares em substituição à prisão, benefício que foi estendido a três mulheres, entre elas, Andressa Fernandes, mulher do ex-cunhado da advogada.

Aline Brandão e Andressa devem manter endereço atualizado, não podem se mudar sem prévia autorização, não podem sair do país sem aval judicial, não devem manter contato com os outros investigados e não podem realizar movimentação patrimonial sem consentimento da Justiça. A quinta investigada, Janaína Lira da Silva, do Núcleo Planaltina/DF, continua presa por ter sido flagrada, durante a operação, com um quilo de droga e duas armas

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