Medidas protetivas aumentam na quarentena e site lembra mulheres: "Não se cale"
Governo de MS lança site com atendimento online para chegar às mulheres que não podem sair de casa
Segundo do Brasil na taxa de medidas protetivas, Mato Grosso do Sul tem outro lado do “ficar em casa” quando o assunto é gênero. Segundo dados divulgados pelo Tribunal de Justiça, enquanto todos os crimes cairiam durante a quarentena, a violência doméstica continua em curva ascendente, com acréscimo de 2 medidas protetivas de urgência quando comparado o mesmo período em 2019.
Com essa realidade em vista, o governo de Mato Grosso do Sul lançou novo canal para denúncias que inclui atendimento online. É o portal “não se cale”, site com informações acessíveis sobre serviços e atendimentos. No portal também é possível tirar dúvidas sobre procedimentos e legislações. Clique aqui para acessar.
Subsecretária de Políticas Públicas para Mulheres, Luciana Azambuja avalia que o novo site é uma ponte entre as mulheres e a atuação pública contra a violência doméstica.
“Em razão da pandemia pelo novo coronavírus e das medidas de proteção adotadas pelo Governo do Estado – como da adoção do home office para servidores há duas semanas, percebemos a ausência de um instrumento virtual que pudesse alcançar as mulheres em suas casas, de modo silencioso e eficaz nas informações, orientações e encaminhamentos”, disse.
Além da Casa da Mulher Brasileira, onde funciona a Deam (Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher), é possível acionar a Polícia Militar (pelo número 190) e a Guarda Municipal (número 153). As duas forças de segurança têm segmentos específicos voltados ao combate à violência doméstica, a patrulha Maria da Penha. O nome é uma alusão à lei que tipificou a violência doméstica no Brasil em 2006.
Estatísticas - O período analisado pelo Tribunal vai de 16 de março a 6 de abril, que passa, quase em totalidade, pela quarentena que vigorou em Campo Grande, no comércio, serviços, escolas e rodoviária (esta última ainda vigente) e também nas cidades do interior.
Foram 271 medidas protetivas de urgência concedidas pela Justiça de Mato Grosso do Sul neste período. Conforme publicação do TJ, o número representa “um pequeno aumento, mas demonstra que continua preocupante a situação das mulheres”.
“Ao contrário de crimes como homicídios, roubos e furtos, que durante a quarentena do Covid-19 diminuíram, os casos de violência doméstica e familiar e o deferimento de Medidas Protetivas para mulheres aumentaram”, diz a publicação que emenda revelar “preocupação que as autoridades ligadas à luta contra a Violência de Gênero já haviam previsto”.
Titular da 3ª Vara de Violência Doméstica e Familiar que funciona na CMB (Casa da Mulher Brasileira), a juíza Jacqueline Machado ainda afirma que o número foi diferente em muitos estados brasileiros, onde a violência doméstica tem diminuído em meio à quarentena para conter o avanço do coronavírus.
Ainda assim, a juíza afirma que o aumento, “que não foi substancial”, indica que ao menos em Campo Grande as mulheres já consolidaram uma cultura de denunciar a violência sofrida. As medidas protetivas, como a de distanciamento, por exemplo, podem ser concedidas em menos de 24h.
“O isolamento social e a quarentena são um grande risco à mulher que está em um relacionamento abusivo. Risco de haver mais episódios violentos e risco em razão da dificuldade de denunciar, pois esse agressor está junto, em casa o tempo todo. Acreditamos que o atendimento especializado na Casa da Mulher Brasileira, com a manutenção do plantão 24 horas na Deam está fazendo diferença neste momento crítico”, disse à juíza ao Tribunal.
Subnotificação – Em 2019, levantamento do Globo indicava que Mato Grosso do Sul perdia apenas para o Rio Grande do Sul em número de medidas concedidas. Ainda assim, outro dado indica subnotificação da violência doméstica no estado. Em 2019, entre 10 vítimas de agressores, 7 não haviam denunciado crimes anteriores, segundo relatório do Tribunal de Justiça.
Do início do ano de 2020 até o início de março, a Vara de Medidas Protetivas da Casa da Mulher Brasileira expediu 839 documentos do tipo. O número indica que ao menos entre os casos que chegam até a Justiça, a cada 24 horas há ordem para que 13 homens fiquem afastados das mulheres agredidas.
Enquanto isso, a polícia continua buscando por Reinaldo Dei Carpes Rocha, de 39 anos, que no último dia 3 assassinou com um tiro na cabeça a ex-mulher Ariadini Molina, de 26 anos. O crime aconteceu em Aquidauana – cidade a 135 quilômetros de Campo Grande.
Ao longo do tempo em que viveu com o autor, a vítima foi agredida várias vezes e registrou seis boletins de ocorrência contra ele. Reinaldo cometia violência física e psicológica contra a mulher, com quem teve duas filhas.
No ano passado, dados da Deam indicam 98 tentativas de feminicídio 30 crimes cometidos. Nos três primeiros meses de 2020 foram 8 mulheres mortas e quase 4.500 boletins de ocorrência registrados.
“Muitas mulheres não conhecem o trâmite processual após o registro da ocorrência na Delegacia de Polícia e o site traz essas informações detalhadamente”, explica a delegada titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher, Fernanda Felix.