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Capital

Mesada de R$ 100 mil: delator revela como genro de prefeita lucrou com contratos

Para sustentar propinas, empresário cobrava Prefeitura de Sidrolândia "em dobro", também afirmou ex-servidor

Por Anahi Zurutuza | 17/06/2024 16:37
Tiago Basso da Silva quando foi preso em julho do ano passado, chegando ao Presídio de Trânsito, em Campo Grande (Foto: Alex Machado/Arquivo)
Tiago Basso da Silva quando foi preso em julho do ano passado, chegando ao Presídio de Trânsito, em Campo Grande (Foto: Alex Machado/Arquivo)

Mesada de R$ 100 mil e gastos pessoais feitos por meio de notas frias pagas pela Prefeitura de Sidrolândia. Estas eram as duas principais técnicas usadas pelo vereador Cláudio Jordão de Almeida Serra, o Claudinho Serra (PSDB), para “lucrar” com contratos fechados com o município governado pela sogra, a prefeita Vanda Camilo (PP), segundo o ex-servidor do setor de Compras e Licitações, Tiago Basso.

Alvo da Operação Tromper desde a primeira fase, Basso, que exercia cargo em comissão na prefeitura da cidade a 70 km de Campo Grande, chegou a ser preso, em julho de 2023, quando também foi demitido. Um outubro, ele fechou acordo de colaboração premiada com o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) e deixou a prisão.

Na sede do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado), o ex-servidor contou tudo o que sabe sobre esquema “predatório” de corrupção, como classificou o MP, instalado na administração do município.

Funcionário desde 2019, ele afirma que em dezembro de 2020, foi cooptado pelos empresários Ricardo José Rocamora Alves e Ueverton da Silva Macedo, o “Frescura”, a “trabalhar” para eles. Depois de algum tempo, passou a ser um dos “homens de confiança” de Claudinho.

Competia a Basso, conforme descrito por ele aos promotores, “agilizar os pagamentos das notas deles” ou para quem o trio indicasse, além de manter os empresários informados sobre as licitações abertas pela Prefeitura de Sidrolândia interessantes para o esquema – a preferência eram atas de registros de preços para o fornecimento de produtos. Para executar o “trabalho”, além do salário de R$ 3,8 mil depositado pela gestão municipal, o ex-servidor recebia “por fora” de R$ 3 mil – dinheiro era pago em espécie por Rocamora.

Claudinho Serra atuando como vereador em Campo Grande (Foto: CMCG/Divulgação/Arquivo)
Claudinho Serra atuando como vereador em Campo Grande (Foto: CMCG/Divulgação/Arquivo)

Segundo o delator, na lista de funções também estava receber parte da “mesada” paga a Claudinho Serra, que foi secretário de Fazenda, Tributação e Gestão Estratégica em Sidrolândia, entre dezembro de 2021 e maio de 2023.

Basso afirmou que Claudinho cobrava 10% dos valores contratados com os fornecedores e prestadores de serviço da prefeitura. Ou seja, para vencer licitações de cartas marcadas, as empresas tinham de pagar propina ao secretário.

O ex-servidor afirma que ele “só tomava conta” de contratos menores e que Carmo Name – braço direito do tucano, também alvo da Tromper – era o responsável pela negociatas “de milhões”.

“Quando eu entrei para trabalhar com o Cláudio, em janeiro de 2022, o ‘Frescura’ tinha o hábito de ele juntar os 10% e ir lá na sala do Cláudio e levar”, narra. O delator continua afirmando que pouco tempo depois, ganhou a confiança do então secretário.

Questionado sobre o quanto os contratos que ele “cuidava” rendiam para o vereador, Basso afirma que era “pouco”. Leia o trecho:

- Variava muito, R$ 50 mil, R$ 40 mil. Os valores que eu buscava era pouco, né? Por que eu trabalhava com as empresas de menor escalão, né? O Carmo que geralmente trabalhava com as empresas de grandes contratos, as empresas que ganhavam uma licitação lá de asfalto, que era R$ 6 milhões. Me pediam para buscar R$ 5 mil com o fulano, R$ 3 mil com o ciclano. Lá com o Ricardo, variava de R$ 10 mil a R$ 20 mil por mês – diz Tiago Basso.

- Seria uma referência o pagamento de 100 mil, 200 mil reais por mês? – questiona promotor.

- De pagamento por mês – confirma Basso e completa – Por que assim... não era só do Ricardo. Eu buscava os pagamentos das três empresas. Eu pegava todos os valores juntos e passava para o Cláudio.

Lucro em dobro – Antes de explicar que trabalhava como espécie de cobrador em nome de Claudinho Serra, Basso esclarece também como o então secretário de Fazenda lidava com o dinheiro da prefeitura. Em resumo: como se estivesse gerindo a própria conta bancária.

O ex-servidor afirma que o ex-chefe pedia que Ricardo Rocamora pagasse por compras, por exemplo. O valor era “ressarcido” por meio de notas empenhadas pela Prefeitura de Sidrolândia por serviços não prestados ou produtos não fornecidos. Em dobro.

“Se o Cláudio Serra precisasse de alguma coisa particular, ou dinheiro ou algum item que ele necessitava, uma compra de uma telha, uma compra de postes de madeira para a fazenda dele. Compra lá, o Ricardo acerta e nós vamos pagar ele com nota aqui da prefeitura”, conta Basso, completando que ele era o responsável por emitir os empenhos para quitar o “débito” com Rocamora. “Sempre era o dobro do valor”, completa. Veja o trecho:

Fase 3 – A Operação Tromper teve duas fases, em 2023, antes de levar Claudinho Serra, apontado como o líder do esquema “voraz” pelo Ministério Público, para a cadeia. O vereador foi preso no dia 3 de abril e só ganhou a liberdade supervisionada na noite do dia 26 do mesmo mês.

Após investigação do Gecoc (Grupo Especial de Combate à Corrupção) e do Gaeco, e a coleta de provas na terceira fase, o MP denunciou 22 pessoas por envolvimento nas fraudes em licitações para o fechamento de contratos em Sidrolândia. A acusação alega que organização criminosa tinha “atuação predatória e ilegal”, agindo com “gana e voracidade”.

Outro lado – Tiago Basso, que já responde a ação penal com base no que havia sido investigado até o ano passado, não foi alvo nesta última vez. O advogado do ex-servidor, Wellison Muchiutti, afirma que não há nada a pontuar, uma vez que “os fatos já estão no processo e no termo de colaboração”.

A defesa de Claudinho Serra foi acionada pela reportagem, mas até o fechamento desta matéria o advogado Tiago Bunning não havia atendido ligação ou respondido às mensagens enviadas.

Fabio de Melo Ferraz, que advoga para Ueverton da Silva e Ricardo Rocamora, afirma que "o colaborador não apresentou nenhuma prova contundente, robusta, irrefutável das alegações que fez".

A defesa dos empresários e outros réus nas ações derivadas a Tromper, buscará a Justiça para invalidar a delação. "Por isso, vamos em momento oportuno, questionar a validade da colaboração tendo em vista a sua fragilidade".

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