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Raízes, ervas e “seca-barriga”: as promessas de tratamento no balcão popular

Especialista destaca que plantas podem ser tóxicas se não usadas adequadamente

Por Aline dos Santos | 20/08/2025 11:12
Raízes, ervas e “seca-barriga”: as promessas de tratamento no balcão popular
Larissa conta que há sempre procura por ervas para auxiliar o emagrecimento. (Foto: Henrique Kawaminami)

Raízes, ervas e mel, espalhados por bancas do Mercado Municipal Antônio Valente, o Mercadão de Campo Grande, mantêm viva a tradição popular de buscar tratamento com indicações que passam de geração em geração.

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O Mercado Municipal Antônio Valente, em Campo Grande, mantém viva a tradição do comércio de ervas medicinais, com produtos que vão desde raízes até compostos para emagrecimento. As vendas seguem regulamentações modernas, permitindo apenas ervas desidratadas e líquidos em embalagens específicas. Especialistas alertam sobre os riscos do uso inadequado de plantas medicinais. A professora Renata Trentin Perdomo, da UFMS, destaca que mesmo produtos naturais podem ser tóxicos em concentrações elevadas ou causar interações medicamentosas, reforçando a importância da prescrição por profissionais habilitados.

 Mas, em atualização aos novos tempos, nada de garrafas de vidro sem procedência ou os chamados produtos verdes (in natura), pois só podem ser vendidas ervas desidratadas e líquidos em embalagens com especificações. Durante as entrevistas, os atendentes também não fazem indicações e lembram que o banho de sete ervas é o mais próximo de “simpatia” presente nos balcões. Portanto, nada de remédio para “coração partido”.

Na manhã desta quarta-feira (dia 20), a reportagem encontrou um universo de ervas, raízes e compostos. Kits com indicação para próstata, menopausa, emagrecimento.

Hiroshi Utinoi, 91 anos, está há 40 anos no Mercadão e conta que não há um produto campeão de audiência. “Todas elas vendem bem”, diz. Na época do frio, aumenta a procura de ervas para composição de xarope.

Raízes, ervas e “seca-barriga”: as promessas de tratamento no balcão popular
Banca com ervas e raízes no Mercadão de Campo Grande. (Foto: Henrique Kawaminami)

Funcionária de uma banca, Larissa Miranda, 23 anos, afirma que já conhecia sobre ervas e raízes por ter morado em fazenda, sendo esse recurso bastante utilizado por quem reside na zona rural.

Tema sempre presente, a busca pelo emagrecimento leva o público a procurar os produtos. “Os compostos não saem tanto quanto os chás separados. Cavalinha, hibisco, chá verde. Geralmente, as pessoas vêm em busca de um mix que eles mesmos já montam”, diz Larissa.

Os clientes também buscam alternativas para o tratamento de gastrite ou inflamação da próstata. No rol dos itens curiosos, surgem nomes menos conhecidos, caso da emburana. “Vende muito. Tanto para especiaria de bebida e expectorante pulmonar”. A semente é usada na pinga. A casca vira chá.

O vendedor Jhonny Lopes conta que aprendeu sobre ervas com a avó. Na banca de raízes, se destacam ervas depurativas do sangue, para gastrite e os compostos voltados ao emagrecimento, o popular seca barriga.

Raízes, ervas e “seca-barriga”: as promessas de tratamento no balcão popular
Ervas desidratadas à venda no Mercadão. (Foto: Henrique Kawaminami)

Planta medicinal e fitoterapia

A fitoterapia é a prática terapêutica que utiliza plantas medicinais e seus derivados para manutenção e obtenção da saúde. Já as plantas medicinais são as que apresentam substâncias com atividade para prevenir, tratar ou curar doenças.

De acordo com a professora do curso de Farmácia da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Renata Trentin Perdomo, há o produto tradicional fitoterápico e o medicamento fitoterápico industrializado.

O primeiro é elaborado com fitoterápicos, notificados ou registrados na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), com uso popular durante 20 anos sem ocorrência de efeitos colaterais graves. Ele pode ser manipulado em farmácia e prescrito por profissionais habilitados.

Já o medicamento industrializado é elaborado com fitoterápicos, notificados e registrados na Anvisa, e que passaram por testes clínicos para comprovação de eficácia terapêutica.

“É importante ressaltar que as plantas medicinais possuem sustâncias que tratam doenças e podem ser tóxicas se usadas em concentração elevado ao necessário para obter o efeito desejado ou também se é usada por uma pessoa que apresenta contraindicação. Os riscos mais comuns são problemas no fígado e interação com medicamentos que o paciente usa. Como, por exemplo, para pressão arterial elevada, anticoagulantes, diabetes e hipotireoidismo”, afirma a especialista.

“Garrafadas preocupantes” 

A professora destaca que as garrafadas são muito preocupantes quando elaboradas sem seguir critérios imprescindíveis para o uso de plantas medicinais.

“A mesma planta é conhecida por diferentes nomes dependendo da região do País e o mais preocupante é que o mesmo nome popular é dado a diferentes espécies de plantas. Não há segurança sobre o uso da espécie vegetal correta nas garrafadas”, diz Renata. As plantas também podem ser mal secadas ou absorverem umidade, proliferando fungos que muitas vezes não são vistos.

Ela enfatiza que o Ministério da Saúde incentiva o uso de plantas medicinais e fitoterápicos pelo SUS (Sistema Único de Saúde) desde 2006.

“O saber científico é a comprovação do saber popular. A população e os serviços de saúde terão imensos benefícios com o uso de fitoterápicos em todas as etapas, da prevenção ao tratamento de doenças. No entanto, é preciso que sejam prescritos e indicados por profissionais capacitados, farmacêuticos, médicos, nutricionistas, fisioterapeutas. Cada conselho de classe tem suas exigências para que o profissional seja habilitado para prescrever fitoterápicos. Esse é um ponto muito importante”.

Raízes, ervas e “seca-barriga”: as promessas de tratamento no balcão popular
Kits de ervas em exposição no Mercadão de Campo Grande. (Foto: Henrique Kawaminami)

Para ser considerada segura e eficaz, a planta passa por rigorosos critérios de identificação botânica, cultivo, processamento (secagem) e uso. O que inclui a correta identificação da espécie, conhecimento da parte da planta a ser utilizada, métodos de preparo adequados e doses seguras, além de estudos científicos.

“Todas as plantas são seguras se usadas nas concentrações adequadas e indicadas para as pessoas que não possuam contra indicações. Pelo contrário, todas as plantas podem ser tóxicas se não usadas adequadamente”.

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