Sindicato diz que greve tem adesão de 100%, mas não para atendimento
Médicos, que atendem na rede pública municipal de Campo Grande, deflagraram greve nesta quarta-feira (06), em protesto por reajustes e contra o corte de gratificações que reduziu o salário da categoria. Eles aguardam proposta da prefeitura para que haja um acordo e a paralisação chegue ao fim, porém, até que isso ocorra, os profissionais ficam em seus postos nas unidades de saúde, mas apenas 30% farão atendimento. Pessoas com casos de urgência e emergência terão prioridade; as demais vão ter que esperar o quanto for preciso.
Pela manhã, houve coletiva de imprensa na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Bairro Coronel Antonino. O presidente do Sinmed/MS (Sindicato dos Médicos de Mato Grosso do Sul) Valdir Shigueiro Siroma, disse que a adesão chega a 100% entre os 1.400 trabalhadores da categoria na Capital. Todo o efetivo vai estar à disposição nas UPAs e Centro Regional de Atendimento, no entanto, nem todos vão receber pacientes.
Todavia, se houver alguma situação atípica na qual seja necessário o apoio de mais profissionais, todos eles irão atender. “Farão revesamento de atendimento para que o setor não fique desassistido”, explicou Siroma, lembrando que a classificação de risco é feita no seguintes níveis: vermelho (emergência, atendimento imediato), amarelo (urgência, atendimento em até 15 minutos), verde (não-urgente, atendimento em até 30 minutos) e azul (baixa complexidade, podendo variar de acordo com a demanda).
Reajuste – Segundo Siroma, os médicos recebem uma média de R$ 2.580 que, somado às gratificações, pode chegar a R$ 5 mil mensais por escalas com 20 horas de plantões semanais. Porém, com o recente corte dos abonos anunciado pelo prefeito Gilmar Olarte (PP), o salário cai para menos de R$ 2 mil incluindo os descontos. Diante deste cenário, a categoria luta pelos benefícios conquistados ao longo dos anos, bem como por reajuste de 8,1%, com base na inflação. “Mesmo com anúncio da greve a prefeitura não apresentou proposta. Estamos abertos ao diálogo”, disse.
UBS – Segundo Rosimeire Fernandes Arias Lima, coordenadora das unidades de saúde, nas UBSs (Unidades Básicas de Saúde) e UBSFSs (Unidades Básicas de Saúde Familiar), só serão atendidos casos urgentes. Para agendamentos e monitoramento de doenças, não haverá atendimento, mesmo com a presença de médicos nos locais. O CEM (Centro de Especialidade Médica), onde em média são atendidas 920 por dia, não funcionará. No CEM de Pediatria, o setor de especialidades também não terá expediente.
Ela lembra que médico não é mercenário e que para ter um salário satisfatório, precisa trabalhar muito e fazer vários plantões. A prefeitura acionou a justiça para tentar barrar a greve, mas enquanto não há uma decisão oficial, os médicos continuam, alegando que estão se manifestando de acordo com o que prevê a legislação, que é manter pelo menos 30% do efetivo em ação. “A população vai ter que ter um pouco de paciência e esperar”, explica.
O clínico Ricardo Rapassi, há cinco atuando no município, afirma que a UPA a do Coronel Antonino é uma unidade de porte 3, que recebe média diária de 800 pacientes. Ele explica que os profissionais continuam no local mesmo com a greve porque querem evitar que, caso haja necessidade crítica, não falte médicos para atender a comunidade. Ele minimizou a questão de que os profissionais estariam no local apenas para não fugirem do corte no relógio de ponto.
UPA Universitário – Na UPA do Bairro Universitário, havia apenas um dos cinco médicos plantonistas atendendo. Desde às 6h da manhã, cerca de 70 pessoas já haviam dado entrada e a maioria delas, apesar da demora, já havia feito pelo menos a triagem. A pensionista Antolina Ortega, 50 anos, precisou de ajuda para a tia de 60 anos que é hipertensa. Ela teve que levá-la até à UPA porque na UBS da Vila Carlota, onde foi primeiro, não houve atendimento. “Tá devagar, mas tá indo”, disse.
Já a faxineira Janete Moreira Soares, 40, com gripe e dores de cabeça, lamentou a greve e a demora no atendimento. Ela acredita que terá que passar o dia todo na UPA esperando sua vez, mas que a situação só não é pior porque hoje está de folga do trabalho - ela também reclamou da greve. “Acho que eles (prefeito e secretário) devem arrumar um jeito de pagar direito os médicos, para que não haja prejuízos para a comunidade”, relatou.
Saúde - O secretário municipal de saúde Jamal Salém disse que a prefeitura faz levantamento do salário dos médicos para apresentar uma nova proposta. Ele também afirmou, ao contrário dos profissionais, que a prefeitura está disposta a dialogar.
Sobre a adesão à parasaliação, o secretário ainda está fazendo o levantamento e deve divulgar ainda hoje qual o percentual de médicos parados.