Dois crimes recentes podem ter sido o estopim para a execução de jornalista
O esquartejamento de jovem em Pedro Juan e a descoberta de documento falso de líder do PCC estão entre linhas de investigação
A conexão entre o esquartejamento de um adolescente em Pedro Juan Caballero e a prisão de narcotraficante que usava documentos falsos são algumas das hipóteses investigadas sobre o que levou à morte do jornalista brasileiro Leo Veras, no dia 12 de fevereiro, executado a tiros em casa, enquanto jantava com a esposa, o sogro e o filho.
A reportagem apurou que dois casos recentes podem ter sido o estopim para a execução de Leo Veras, ambos, conectados com o paraguaio Ederson Salinas Benitez, 30 anos, o Salinas Riguaçu, sucessor de Sérgio de Arruda Quintiliano Neto, o Minotauro, considerado uma das lideranças do PCC (Primeiro Comando da Capital) na região de fronteira.
Um dos casos é a morte do adolescente brasileiro Alex Ziole Areco Aquino, 14 anos, que morava em Ponta Porã, mas desapareceu em Pedro Juan Caballero. O jovem foi visto pela última vez no dia 23 de novembro de 2019, sendo levado por desconhecidos em uma caminhonete.
O corpo foi encontrado no dia 5 de dezembro. Alex foi torturado antes de ser assassinado a tiros. O jovem foi queimado e enterrado em cova rosa. A repercussão do caso na fronteira foi grande e os executores resolveram desenterrar o corpo, esquartejá-lo e colocá-lo em um tambor, deixado no anel viário em Ponta Porã.
No site Porã News, de Leo Veras, várias matérias sobre a indignação da família com a denúncia do MP (Ministério Público) paraguaio que, inicialmente, havia decidido indiciar os três suspeitos por cárcere privado e desaparecimento de pessoa.
Em um dos textos, o site informou que a “sociedade e a imprensa” entenderam que era manobra para deixar os suspeitos em liberdade e, após pressão, foram acusados de homicídio: o brasileiro Genaro Lopes Martins, a esposa dele, Diana Claves Pimentel Acosta e um adolescente.
O crime teria sido motivado por briga entre Alex e outro adolescente no banheiro de escola em Pedro Juan Caballero.
Segundo apurado pela reportagem, Leo Veras teria sido um informante na investigação. Os acusados estariam ligados a Salinas Riguaçu. No site de Veras, a informação de que eles promoveram um julgamento paralelo, à revelia dos moldes do PCC.
Minotauro – a outra linha de investigação está diretamente ligada a Salinas Riguaçu, paraguaio que usava documento brasileiro falso e foi preso após briga de trânsito, em Ponta Porã, no dia 19 de janeiro.
Segundo apurado pela reportagem, Leo Veras teria revelado que ele usava documento brasileiro falso, em nome de Edson Barbosa Salinas, 32 anos.
Inicialmente, a Justiça em Ponta Porã havia determinado fiança de R$ 80 mil para liberação de Salinas, já que a informação de que ele seria liderança do PCC não “guarda sequer mínima relação com este tipo de crime”, referindo-se à briga no trânsito.
Porém, foi descoberto posteriormente o uso da documentação falsa, o que somado ao crime de posse ilegal de arma daria 10 anos de prisão, cabendo a prisão preventiva. Desde então, Salinas está no PED (Presídio Estadual de Dourados).
No site de Veras não há qualquer informação sobre a briga de trânsito e a prisão de Salinas Riguaçu. A reportagem não conseguiu apurar se ele teria relatado isso diretamente à polícia.
Nesta versão, os executores direto de Veras estariam ligados Marcio Ariel Sánchez Giménez, 31 anos, o “Aguacate”, tido como chefe dos pistoleiros da região de fronteira.
Sánchez foi segurança do narcotraficante brasileiro Jorge Rafaat Toumani, morto em junho de 2016 em Pedro Juan Caballero, na fronteira com o Paraguai. Em 2019, Aguacate passou para o bando de Minotauro, “o novo chefe mafioso da fronteira”, conforme reportagens divulgadas pelo jornal ABC Color.
O chefe da Polícia de Amambay, Ignacio Rodríguez Villalba, disse que há cinco hipóteses para o homicídio de Leo Veras, mas não poderia detalhar sobre nenhum deles. Questionado especificamente sobre esses dois casos, disse que “poderiam” estar na linha de investigação, mas não confirmou.