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Símbolo de resistência, Forte de Coimbra comemora hoje 250 anos de fundação

Patrimônio nacional guarda histórias de heroísmo e crenças em milagres da padroeira

Por Silvio de Andrade, de Corumbá | 13/09/2025 07:36
Símbolo de resistência, Forte de Coimbra comemora hoje 250 anos de fundação
Fortificação será restaurada pelo Exército com proposta de fomentar o turismo. (Foto: Divulgação)

Viva Nossa Senhora do Carmo!

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O Forte de Coimbra, localizado em Corumbá, MS, na fronteira do Brasil com Bolívia e Paraguai, comemora 250 anos. Tombado pelo Iphan, o forte carrega a história de conflitos e da devoção à Nossa Senhora do Carmo. Em 1801, resistiu a um ataque espanhol, e em 1864, na Guerra do Paraguai, um evento milagroso com a imagem da santa teria evitado um massacre. Administrado pelo Exército, o forte passará por restauração e receberá estrutura turística. Sua construção, em local estratégico, mas diferente do inicialmente planejado, gerou conflitos na época. Apesar da importância, a região foi abandonada pela Coroa Portuguesa, facilitando a ocupação paraguaia. Após anos isolado, o forte agora conta com energia elétrica e terá acesso rodoviário facilitado.

Situado próximo à fronteira tríplice do Brasil com a Bolívia e o Paraguai, em Corumbá, o Forte de Coimbra completa, neste sábado, 250 anos de fundação. Tombada pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) como patrimônio nacional, em 1974, a fortificação guarda uma parte da história da ocupação e definição de limites fronteiriços, de conflitos bélicos e crenças e devoção creditados a milagres da santa padroeira do lugar.

Em 1801, durante a guerra entre Portugal e Espanha, o forte em estrutura precária foi surpreendido por tropas espanholas, em quatro navios e 900 homens, enquanto o antigo presídio era guarnecido por apenas 49 soldados e 60 civis. O forte resistiu ao cerco por dez dias, coragem atribuída à força da fé em Nossa Senhora do Carmo. Uma tempestade repentina fragilizou os espanhóis, que bateram em retirada.

Passados 63 anos, na Guerra do Paraguai (1864-1870), Coimbra era novamente atacado, desta vez por uma forte esquadra de Solano Lopez - dez navios e 3.200 homens. Do lado brasileiro, 125 oficiais e soldados. Após dois dias de combate, em ato de desesperado, a imagem da santa é levantada na muralha do forte sobre gritos de vivas. Os paraguaios baixaram as armas e responderam “Viva Nuestra Senhora del Carmem”, suspendendo o ataque até o dia seguinte.

Símbolo de resistência, Forte de Coimbra comemora hoje 250 anos de fundação
Imagem de Nossa Senhora do Carmo é referenciada pelos militares e civis em grande festa. (Foto: Divulgação)

Foco no turismo - Relatos populares e registros históricos apontam para as intercessões milagrosas da santa, poupando os defensores da fortaleza de massacres – momentos estes, até hoje, marcos da espiritualidade militar local e forte devoção da comunidade civil que ali reside. No dia 16 de julho, é celebrada a festa da padroeira para cultuar o episódio de 1864 - quando os paraguaios tomaram o forte, mas não encontraram os brasileiros, que fugiram à noite pelo rio, até Cuiabá.

“Coimbra foi uma das poucas fortificações brasileiras que teve atuação em confronto bélico e transcende os valores militares” (João Henrique Santos, superintendente do Iphan/MS).

Hoje administrado pelo Exército, o forte é uma unidade de defesa praticamente desativada, guardada por uma pequena guarnição da 18ª Brigada de Infantaria do Pantanal, e está sendo preparado para cumprir sua função histórica e cultural como bem patrimonial nacional. Com projeto aprovado pelo Iphan, o Exército vai restaurar a fortificação e criar estrutura para atender ao turismo, em especial. Coimbra fica no Pantanal do Nabileque!

Construído para proteger a fronteira contra invasões espanholas, no contexto da assinatura e das demarcações decorrentes do Tratado de Madri (1750), sua fundação, em local errado, gerou também conflitos internos na capitania de Mato Grosso. O capitão-general Luís de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres, português, determinou a instalação da defesa na região chamada de Fecho dos Morros, hoje Porto Murtinho.

Símbolo de resistência, Forte de Coimbra comemora hoje 250 anos de fundação
Gravura publicada no jornal paraguaio El Cabichuí, durante a guerra, mostra canhões disparando em direção ao forte e a retirada brasileira. (Reprodução/Google)

Fronteira abandonada - O encarregado da missão, capitão Matias Ribeiro da Costa, levantou a precária estrutura do forte em outro local - no estreito de São Francisco Xavier, distante pelo menos 300 km de Rio Paraguai do ponto determinado. A falha rendeu-lhe a perda da patente, entre outras punições, com sua deportação, segundo relatos históricos. Os conflitos bélicos, no entanto, comprovaram que Matias estava certo: o forte foi construído em local estratégico.

Apesar da preocupação com a demarcação territorial, a fronteira era abandonada pela Coroa Portuguesa – daí, a facilidade do Paraguai em ocupar o forte e, depois, Corumbá, por três anos. A primeira construção (primitiva) de Coimbra espelhou a desatenção da capitania: em poucos meses a estrutura foi destruída pelo fogo. Somente a partir de 1791 decidiu-se pela construção de alvenaria (de pedra e cal). O projeto definitivo veio após a Guerra do Paraguai.

Ao longo do século XX, a fortificação foi mantida pelo Exército, porém, totalmente isolado, onde se chegava apenas pelo rio ou ar. Os conflitos persistiam, agora envolvendo a comunidade civil (descendentes de soldados que lutaram na guerra) sob ordens dos comandos militares. No início do século XXI, houve a tentativa de “repatriar” os civis para a cidade, o que não prosperou. Em 2000, chegou a energia elétrica, e, atualmente, o acesso por estrada (BR-454) está em obras.