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Cidades

Violência e medo: a equação que já matou 18 mulheres em MS em 2017

Em Três Lagoas, onde são registrados 140 boletins de ocorrência por violência doméstica neste mês, ocorreram cinco feminicídios este ano

Adriano Fernandes | 19/07/2017 08:35
Marcas de sangue no chão da residência depois que pedreiro Ramão Carvalho de Souza, 56, matou a tiros a enteada Talia Soares Rech, 19 e deixou em estado grave a esposa Elza Aparecida Soares, 47. (Foto:JPNews)
Marcas de sangue no chão da residência depois que pedreiro Ramão Carvalho de Souza, 56, matou a tiros a enteada Talia Soares Rech, 19 e deixou em estado grave a esposa Elza Aparecida Soares, 47. (Foto:JPNews)

Do inicio do ano até a última segunda-feira (17) pelo menos 18 mulheres foram mortas no Estado, segundo estáticas da Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública).

Apesar de compilar os feminicídios (assassinatos de mulheres), independente da circunstância, na grande maioria dos casos o crime é consequência de uma tragédia anunciada e que é rotina na vida da maioria das vítimas. A violência doméstica.

Três Lagoas é uma das cidades que lideram no número de ocorrências. Por lá, foram cinco feminicídios registrados até este mês, segundo a Polícia Civil. Número que preocupa e expressa o resultado de uma “equação” de violências que resultaram no pior.

“O principal fator é a violência doméstica. Na maioria dos casos a vítimas já vinham sendo agredidas, física e psicologicamente, algumas vezes até denunciavam o agressor, no entanto, reatavam o relacionamento”, comentou a delegada Letícia Móbis Alves, titular da DAM (Delegacia de Atendimento à Mulher de Três Lagoas).

Pelo município, são registrados de 130 até 140 boletins de ocorrência de violência doméstica, por mês. E o perdão ao agressor, por medo, tem colocado as próprias vítimas em situação de risco constante.

“Em 70% dos casos atendidos na cidade elas voltam a se relacionar com o marido. Tendem a achar que o agressor vai melhorar o comportamento”. E os motivos, segundo a delegada tem influência dos mais diversos fatores.

Luciano Nunes Brito, 41 anos, desenterrando a própria esposa que mantou enforcada antes de desovar o corpo em uma fazenda. (Foto: JPNews)
Luciano Nunes Brito, 41 anos, desenterrando a própria esposa que mantou enforcada antes de desovar o corpo em uma fazenda. (Foto: JPNews)

“Algumas tem baixa auto-estima, tem o receio de nunca encontrarem outro parceiro ou até perder a estabilidade financeira por conta dos filhos”. O perdão, contudo, acaba dando mais segurança ao agressor.

“Ele acaba se achando mais confiante. Mesmo quando é preso e sai da cadeia, sabe que vai voltar com a mulher e essa ideia de impunidade acaba estimulando ele a manter as agressões até a morte. O importante é que a mulher não reate e denuncie as agressões”, conclui.

Violência - Por Três Lagoas, em alguns dos casos de maior repercussão, neste ano, em uma sexta-feira, 10 de fevereiro, a dona de casa Vanda Júlio Borges, 42, foi morta enforcada e depois enterrada pelo marido Luciano Nunes Brito, 41 anos.

Após discussão o homem e a enforcou com uma corda de nylon, colocou o corpo em saco plástico e a enterrou em frente à fazenda onde o casal morava. Na noite do último dia 07 de junho, o pedreiro Ramão Carvalho de Souza, 56, matou a tiros a enteada Talia Soares Rech, 19 e deixou em estado grave a esposa Elza Aparecida Soares, 47.

Á polícia, depois de ser encontrado em um matagal depois de tentar fugir o homem também confessou que o crime teria sido motivado, após uma discussão sobre as contas de casa. Ainda no mês de junho, num domingo (25), a jovem Hevelyn de Abreu Xavier, 24, foi estrangulada até a morte, no quarto de sua residência.

O assassino era seu ex-marido, Allan Cézar Santos Morais, 33 anos, que confessou o crime a um amigo por áudio de WhatsApp. Dias antes da morte Allan havia comprado remédio abortivo e obrigado a jovem a tomar o medicamento.

Ramona tentou pedir socorro aos vizinhos depois de ser atingida pelas facadas do marido. Em vão. (Foto: André Bittar)
Ramona tentou pedir socorro aos vizinhos depois de ser atingida pelas facadas do marido. Em vão. (Foto: André Bittar)

No interior – Pelo interior, outros casos mais recentes também não ficam fora das estatísticas. Nesta segunda-feira (17) em Paranaíba, Danieli dos Reis Miranda, 20, foi morta com 34 facadas desferidas pelo marido, Marcílio Batista Rocha, 36, que tentou se matar em seguida, se ferindo a golpes de faca.

Em Chapadão do Sul, distante 321 quilômetros de Campo Grande, nesta segunda-feira (17), um casal de empresários foi encontrado morto a tiros. Os dois estavam separados e a suspeita é de que Maurício Fátimo da Silva, 55 anos, atirou na ex-mulher, Angelita Félix da Silva, 48 anos e em seguia cometeu suicídio.

Pela Capital – Em Campo Grande, ainda segundo a Sejusp foram registrados pelo menos quatro feminicídios, este ano. O Campo Grande News não conseguiu contato com as delegadas da Deam (Especializada de Atendimento à Mulher) de Campo Grande, para comentar sobre os casos.

Num dos crimes de maior repercussão, ainda em fevereiro, na manhã de uma segunda feira, dia 13, a funcionária pública Luciane de Freitas Souza, 43 anos, foi encontrada pela própria filha, 13, morta na piscina de casa.

Luciane de Freitas Souza foi jogada na piscina de sua casa ao ser assassinada pelo ex-marido Vagner Lopes. (Foto: André Bittar)
Luciane de Freitas Souza foi jogada na piscina de sua casa ao ser assassinada pelo ex-marido Vagner Lopes. (Foto: André Bittar)

O principal suspeito, seu ex-marido Vagner Lopes, 39 anos, foi preso quatro dias depois em Sidrolândia, a 71 quilômetros de Campo Grande. Inconformado com o fim da relação Vagner confessou que quebrou o pescoço da ex antes de jogá-la na piscina.

Por sete anos Ramona Regilene Silva de Jesus, 44 anos, manteve uma relação pautada pelo amor, violência e pena, com seu assassino, o marido Genilson Silva de Jesus, de 41 anos.

Alcoólatra, o homem já havia agredido ela por diversas vezes durante o casamento até que em um domingo, dia 04 de junho, após almoço em família o suspeito a esfaqueou dentro de casa, pela Rua Rosa Ferreira Pedro, no residencial Celina Jallad pelo bairro Portal Caiobá.

Mas segundo moradores, mesmo ferida, ela atravessou a rua em busca de socorro, mas levou uma rasteira e foi atingida por mais vezes na frente dos vizinhos. Genilson fugiu, tentou acordo por meio de advogados com a polícia, mas foi preso dois dias depois.

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