Bebo, logo existo. As bebidas alcoólicas e os filósofos
O estereótipo do filósofo é de um homem preso em sua biblioteca, rodeado de livros, que escreve sobre temas esotéricos como a alma, a essência ou a morte. Mas, muitos deles se ocuparam de assuntos bem mundanos como o álcool. Podemos beber? Quanto? Por que uma pessoa prefere cerveja e outra só toma vinho?
Platão e “O Banquete”.
Às vezes, esquecemos que, no começo, a filosofia estava cheia de vinho: “O Banquete”, de Platão, trata da conversação entre Sócrates e alguns amigos durante um jantar em que a bebida ocupa a parte central. E que a filosofia nos recorda que a bebida é uma atividade central da vida em comunidade. Faz parte da conversação e do intercâmbio de ideias.
O álcool ajudou a construir a civilização.
As bebidas alcoólicas nos ajudaram a construir a civilização porque facilitam a criatividade, a confiança e a cooperação entre estranhos. Ao reduzir a atividade do córtex pré-frontal, a região do planejamento e que avalia os riscos, nos anima a compartilhar ideias que não dividiríamos sóbrios. Ao mesmo tempo, nos anima a ser mais sociáveis porque com um copo passamos a gostar mais das demais pessoas e também de nós mesmos. A história nos conta que Confúcio e Sócrates podiam beber a noite inteira sem ficarem borrachos.
Sócrates e a moderação.
Desde que inventamos as bebidas alcoólicas, passamos a nos preocupar com seus efeitos. Em seu “Problemas”, Aristóteles trata de alguns efeitos do vinho, além da ânsia de vomitar, fala sobre a loucura. Não proíbe a bebida alcoólica, mas recomenda a moderação. É interessante recordar que a moderação está diretamente relacionada com a ética aristotélica. Nos diz que a virtude é o ponto médio entre dois vícios. A temperança - dois copos - se situa a meio caminho entre o desenfreio - cinco copos - e a insensibilidade, que corresponde a zero copo.
Beber não é pecado. Acrescentar lúpulo.
O álcool também se integra no pensamento medieval e cristão. O sacerdote dominicano e professor Tomás de Aquino dedica umas páginas ao vinho em sua “Summa Theologica”. Aquino defende que beber não é pecado, “salvo como consequência do excessivo desejo e uso”. Bebiam muito nos monastérios, que tinham vinhedos ou fabricavam cerveja. E melhoraram o gosto da cerveja. É atribuído à abadesa e filósofa Hildegarda de Bingen a ideia de acrescentar lúpulo para aromatizá-la e para que fosse mais conservada.
Bebida alcoólica no café da manha e para crianças.
Temos de levar em conta que durante grande parte de nossa história bebíamos álcool inclusive no café da manhã. E esse costume valia para homens, mulheres e crianças. No sul da Europa, tomavam vinho, via de regra, misturado com um pouco de água. No norte, era a cerveja, com menos álcool que a atual. Espero que tenha contribuído com algumas informações que lhes facilitem convencer suas companheiras a aceitar tua saída ao bar.
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