Carnaval e bebedeira: o caso dos astecas bêbados e abstêmios
Sabemos que os astecas tinham bebida alcoólica, sabemos que a odiavam e também sabemos que a bebiam. É tudo muito confuso. Os astecas produziam “pulque”, que é uma estranha bebida branca e meio viscosa, com o teor alcoólico próximo de uma cerveja. Era feita da seiva fermentada do “agave", uma planta que talvez você tenha em teu jardim. Era bem nutriente e um velho ditado asteca dizia que faltava pouco para o pulque ser carne. Portanto, não surpreende que grávidas eram obrigadas a bebê-lo. Afinal, bebiam por duas pessoas. Mas os astecas franziam a testa para o pulque. Todavia, o pulque e os bêbados estavam em toda parte. É bem estranho, porque o pulque era ilegal.
Pena de morte para os bêbados.
A sociedade asteca era muito fechada para os bêbados. Ninguém bebia pulque, com exceção das grávidas e dos idosos, mas estes o faziam em segredo. E sem se embriagar. Se um homem aparecesse bêbado em público, se vagasse cantarolando na companhia de seus amigos beberrões, seria punido. Caso fosse plebeu, seria punido com espancamento até a morte ou enforcado diante de jovens, para servir de exemplo. Se fosse nobre, seu enforcamento não seria público. Não sei de que vale a privacidade quando se está sendo enforcado, mas significava alguma coisa para eles.
Mas tinham deuses da bebida.
Mas se beber era tão ilegal, como podia ocupar um espaço central na cultura asteca? E de fato ocupava. Eles tinham vários deuses da bebida. Tinham, por exemplo, uma deusa com 400 seios para serem sugados com agave. E, ainda mais estranho, essa deusa tinha dado à luz 400 coelhinhos divinos, os Cenzon Totochtin. Nada mais se sabe sobre esses coelhinhos. Onde se ligavam com a bebedeira, além de um carnaval. Todavia, ao mesmo tempo, havia uma grande quantidade de bêbados na sociedade asteca. A bebida era onipresente. Então, recapitulando, a bebida era rigorosamente proibida e punida com a morte. Mas ela estava em todos os lugares e era reverenciada com uma deusa, que era um verdadeiro alambique.
Sede de sangue e de alucinógeno.
Os astecas tinham uma sede de sangue impressionante. E um entusiamo para o sacrifício humano. Além da bebedeira, o adultério também era penalizado com a morte. Homens adúlteros eram enforcados e tinham a cabeça aberta com uma pedra. Os astecas também eram inclinados a uma dose rápida de “teonanacatl”, um alucinógeno que era totalmente legal. E quando ocorria o “carnaval dos 400 coelhinhos” eles enfiavam o pé na jaca. Ficavam apocalíptica e religiosamente bêbados. Tal qual egípcios e chineses antigos, usavam o álcool e os alucinógenos para experimentar o divino. Depois, por um mês inteiro, nada bebiam.
Chegam os espanhóis. E, com eles, o alcoolismo.
Quando os jesuítas chegaram, o alcoolismo asteca se tornou uma pandemia. Os padres tinham uma teoria de que Satã levava os nativos ao alcoolismo porque não queria que eles se tornassem bons cristãos. Mas o que aconteceu foi o contrário. Ninguém era mais condenado à morte por beber. Também houve uma imensa desorientação em tudo na sociedade asteca, inclusive no uso de pulque. Essa historia do pulque dos astecas guarda alguma semelhança à de vários povos nativos brasileiros.
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