Como o campo-grandense contava os dias e as horas antigamente
Edgar sempre sabia as datas. A maioria das pessoas precisava perguntar aos padres, que tinham calendários. Elizandro, seu irmão mais velho, certo dia lhe perguntou “como você sabe quando é a Páscoa?” e ele respondeu: “cai sempre no primeiro domingo depois da primeira lua cheia depois do dia 21 de março, é obvio”. Foi um erro acrescentar o “óbvio”, porque Elizandro acabou lhe dando um soco no estômago pelo sarcasmo. Gente como Edgar, que conhecia um calendário, era quase inexistente. Os padres eram os donos do tempo. Só eles contavam os dias.
O calendário dos padres.
O calendário dos padres não era apenas para contar os dias civis, tinha uma função primordialmente litúrgica e eclesiástica, organizando as celebrações, festas e tempos religiosos. Os tempos litúrgico eram o “Advento”, período de preparação para o Natal; o Natal; a Quaresma, tempo de penitencia que começa 40 dias após o Carnaval; a Páscoa, data móvel marcada pela lua cheia e o Tempo Comum, período entre essas datas. Os padres usavam almanaques ou livros litúrgicos, como o Lecionário, que indicavam as leituras a serem feitas nas igrejas, as cores a serem usadas e os ofícios diários.
As velas para marcar as horas.
As velas dos padres mediam a passagem das horas através de marcações feitas nelas ou pela taxa de queima previsível. Existiam modelos com o “Relógio de Cera” e a “Vela do Tempo”, que funcionavam como um cronometro indicando um intervalo de tempo com base na queima. Cada centímetro de vela queimada equivalia a 12 minutos. Também havia a “Vela de 7 Dias”, usada em algumas práticas religiosas. Era uma vela que ficava acesa por esse tempo, com um significado simbólico. As cidades mais prosperas, tinham velas com polias e pesos para transformar a queima em uma leitura que aparecia em um mostrador.
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