ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram Campo Grande News no TikTok Campo Grande News no Youtube
JUNHO, TERÇA  17    CAMPO GRANDE 28º

Em Pauta

Integralismo, a primeira versão da extrema direita brasileira

Por Mário Sérgio Lorenzetto | 17/06/2025 07:10
Integralismo, a primeira versão da extrema direita brasileira

Em 1.934, quem quisesse juntar-se às multidões que começavam a sacudir as ruas marchando uniformizadas pela salvação da pátria bastava entrar em um dos escritórios da Ação Integralista Brasileira e inscrever-se. O movimento criado por Plinio Salgado dois anos antes, em S.Paulo. Ele seria recebido com sincero apreço por um funcionário de camisa verde, que o ajudaria a preencher a ficha e receberia de presente uma sacola de livros, cadernos e panfletos sobre o movimento. Em seguida, iria a uma alfaiataria dedicada à confecção do uniforme dos integralistas: camisa verde-bandeira, mangas compridas, alças nos ombros, calças brancas ou pretas, bolsos estilo militar, gravata preta e cinto e sapatos pretos. O movimento previa também uma boina de lona verde em forma de capacete militar. Mais que um uniforme, era uma farda.


Integralismo, a primeira versão da extrema direita brasileira

Tochas noturnas.

À noite, costumavam marchar com tochas de estopa embebida em gasolina. As camisas verdes pareciam incandescentes. Fardas no Brasil era exclusividade das Forças Armadas. Mas o poeta, escritor, jornalista, profeta e apóstolo do integralismo Plinio Salgado conseguira uma licença especial do ministro da Guerra, general Euclydes Goes Monteiro, para que os integralistas, uma organização civil, as usasse. E usavam o dia todo. Ninguém se opunha a que portassem nos ombros uma braçadeira branca com o sigma, a decima oitava letra do alfabeto grego, que fazia as vezes da suástica nazista.


Integralismo, a primeira versão da extrema direita brasileira

Anauê, a saudação integralista.

Bastava ao novo integralista sair às ruas, devidamente uniformizado, para exibir sua filiação entre seus correligionários. Ao passarem um pelo outro, estendiam o braço direito em posição vertical, mão espalmada, e se saudavam exclamando “Anauê”, palavra que eles diziam ser originário do tupi, significando “Você é meu irmão”.


Integralismo, a primeira versão da extrema direita brasileira

Deus, Pátria e Família.

O integralismo se via como uma espécie de religião. Baseava-se na tríade “Deus, Pátria e Família” e tinha ideias rígidas sobre como a pátria deveria ser conduzida. Ideias que estavam no ar vindas da Alemanha e da Itália.


Integralismo, a primeira versão da extrema direita brasileira

O retrato de Plinio Salgado.

A figura de Plinio, 39 anos, natural de uma diminuta cidade paulista, não correspondia a seu poder. Era baixinho, de compleição de mosquito, cinquenta quilos de roupa e sapato, olhos tristes, orelhudo, rosto afilado e bigode estilo escova de dente, semelhante ao adotado pelo líder alemão Hitler. Em pequenas reuniões era apagado, discreto e hesitante. Já nos palanques e comícios, transfigurava-se. Era o arrebatador de massas. O líder. O futuro jurista Miguel Reale dizia, adepto de primeira hora do integralismo, dizia que Plinio não era uma pessoa, mas sim uma ideia e deveria ser o único saudado com três Anauês. Seus discursos eram ribombantes, sem economia de pontos de exclamação.


Integralismo, a primeira versão da extrema direita brasileira

Era a extrema direita brasileira.

Pregava um Executivo de poder integral: centralizador, implacável, anticomunista, ultranacionalista e de férrea orientação cívica e religiosa. Católica, mas sem excluir os protestantes e espíritas. Na sua concepção, o Legislativo e o Judiciário deveriam ser simples extensões do Executivo. Seus modelos eram a Alemanha e a Itália, os países que pareciam barreiras invencíveis contra as esquerdas. Plinio dizia que “A esquerda é a violência, o golpe cruel, o defloramento em massa, o sangue organizado, o massacre, o incêndio, a blasfêmia!”.


Integralismo, a primeira versão da extrema direita brasileira

A organização e os famosos.

A organização integralista tinha como base os núcleos de bairros ou de pequenos municípios, comandados por chefes distritais. Os quais, por sua vez, se submetiam aos chefes provinciais estaduais - e, estes aos poderosos três chefões: Plinio Salgado, Miguel Reale e Gustavo Barroso (presidente da Academia Brasileira de Letras). Os nomes mais conhecidos das fileiras integralistas eram Sobral Pinto, Thiago Dantas, Gustavo Capanema, pelo lado dos advogados. Menotti del Picchia, era o poeta mais famoso. Para assombro de muitos, Vinicius de Morais era adepto do integralismo. Assim como Barbosa Lima Sobrinho, Lauro Escorel e o folclorista Luiz da Câmara Cascudo. Os empresários Roberto Simonsen e Alfredo Egydio de Souza Aranha eram os esteios que sustentavam o integralismo. Mas a figura mais surpreendente era o bispo D.Helder Câmara. Este, tirava a batina para participar das passeatas e se postava na primeira fileira, onde iam apenas os que portavam armas, dispostos a trocar tiros com os inimigos.

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

Nos siga no Google Notícias